Crítica: Envolvente, A Arca de Noé conquista pais e filhos com obra de Vinicius e Toquinho
Por Miguel Arcanjo Prado
Os filhos Suzana e Pedro de Moraes, ainda crianças, foram privilegiados ao ouvirem os primeiros versos das poesias que deram origem ao livro “A Arca de Noé”, lançado pelo pai deles, o poeta Vinicius de Moraes, em 1970.
Dez anos depois, os poemas viraram canções, feitas em parceria com Toquinho, em dois discos que marcaram a infância de toda uma geração de pais e filhos, hoje avós e pais.
Por isso, esta turma que se divertiu no passado com músicas como “O Pato”, “Corujinha”, “A Foca” e “As Abelhas” deve correr para levar os membros da família nascidos no século 21 para assistir ao musical “A Arca de Noé”.
Dirigido com cuidado e segurança por Edson Bueno, que cria a cada cena verdadeiros quadros vivos, a obra produzida por Márcio Roberto, da curitibana MRG Produções Artísticas, faz renascer aqueles tempos de música infantil compostas por um dos maiores poetas de nosso país. E com teatro infantil de qualidade.
Na história, os bichos vivem na grande arca, verdadeira obra de arte cenográfica assinada por Aorélio Domingues. Nela, estão sob cuidado do bonachão capitão, São Francisco, interpretado com singeleza por Rogério Soares.
Talentoso e afinado, o elenco é coeso e profundamente integrado no jogo proposto pelo espetáculo. Há vida, graça e presença a cada cena.
Jeff Bastos faz uma construção impecável de seu Pinguim, gringo do frio apaixonado por nosso país tropical, enquanto que Patricia Cipriano empresta charme de sobra à Abelha, independente e segura de si.
Marcelina Fialho conquista a todos com a candura que empresta à sua Corujinha. Vivian Schmitz dá à Foca uma ingenuidade alegre que a faz ser querida de todos. Fernando Kadlu constrói um Leão repleto de energia. Enquanto que Marwem HD faz um Gato elegante e atrevido.
Cada criança, evidentemente, se indentifica com determinado personagem (ou vários), de acordo com sua personalidade. O que é ótimo.
A iluminação de Rodrigo Ziolkowski dialoga o tempo todo com as emoções propostas pelo texto coeso assinado pelo diretor Edson Bueno, fazendo com que as crianças adentrem no espetáculo.
Eliane Campelli assina as simples e sofisticadas coreografias, que têm ponto alto na envolvente canção “A Galinha D’Angola”, originalmente interpretada por Ney Matogrosso.
Não ficam atrás os figurinos trabalhados dos animais, feitos por Mariana Zanette — que também assina a direção musical, com gravações originais das canções pelo próprio elenco, e a sonoplastia ao lado de Du Gomide —, que se complementam com a maquiagem criativa de Lilian Marchiori. A obra ainda conta com os atentos técnicos Rafael Ivanoski (som), Wesley Daum (luz) e João Vicente (contrarregra).
Não à toa, a peça recebeu nove indicações ao Troféu Gralha Azul, o mais importante do teatro paranaense.
“A Arca de Noé” é um espetáculo infantil quente e envolvente, que transporta as crianças e seus acompanhantes para um mundo repleto de olhar poético para os animais e a natureza, na qual estamos todos, invariavelmente, espelhados, ao som de um dos melhores momentos de música infantil da história da MPB.
“A Arca de Noé” * * * * *
Avalição: Ótimo
Quando: Sábado e domingo, 16h. 50 min. Até 21/5/2017
Onde: Teatro Gazeta (av. Paulista, 900, metrôs Trianon-Masp ou Brigadeiro, São Paulo, tel. 11 3253-4102
Quanto: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada)
Classificação etária: Livre
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