Por Miguel Arcanjo Prado
O performer Maikon Kempinski, o Maikon K, anunciou, nesta quarta (26), que voltará a fazer sua performance “DNA de DAN” em Brasília, no próximo dia 2 de setembro, a partir das 17h. Nela, ele fica nu dentro de uma bolha transparente, com um líquido sobre sua pele que vai ressecando à medida que o tempo passa.
O convite foi feito pelo Festival Cena Contemporânea. Maikon afirmou que fará a apresentação “até o fim, no mesmo local onde fomos interrompidos pela polícia militar, em frente ao Museu Nacional da República”.
“Voltar àquela praça em Brasília vai ser uma resposta da arte ao desrespeito da Polícia Militar. Com isso mostramos que a expressão artística é um direito garantido e que no futuro outros artistas não passarão pela mesma situação”, fala Maikon K ao Blog do Arcanjo do UOL.
No último dia 15 a PM do Distrito Federal prendeu o artista durante sua performance, acusando-o de “atendado ao pudor”, transformando em crime uma performance artística que fazia parte do projeto Palco Giratório, do Sesc.
Após ter o cenário de sua performance rasgado pelos policiais, Maikon K foi jogado com violência no camburão e levado à delegacia, onde foi solto após assinar um termo circunstancial.
Diante da repercussão negativa do caso, que lembrou os tempos da ditadura, no dia seguinte, o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, assim como o secretário de Cultura, Guilherme Reis, telefonaram a Maikon para pedir desculpas.
Maikon K é um dos principais performers do Brasil, escolhido por Marina Abramović, maior nome da performance no mundo, como um dos oito performers brasileiros para estar a seu lado na megaexposição “Terra Comunal”, feita pelo Sesc São Paulo em 2015.
Segundo Maikon, o convite da nova apresentação partiu de Diego Ponce de Leon, que “trabalhou muito pra que isso se concretizasse em tão pouco tempo”.
“Agradeço ao Sesc por toda mobilização e articulação”, falou ainda Maikon K.
Protesto em grupo
Maikon conta que haverá ainda protesto de artistas no dia 2 de setembro, ao qual se unirá.
“No mesmo dia, pela manhã, o Festival Cena Contemporânea vai organizar uma foto-protesto com uma multidão de corpos nus no mesmo local. Essa ideia já existia antes da minha detenção arbitrária pela polícia e tornou-se ainda mais simbólica depois de tudo que aconteceu. Eu vou também participar com uma fala antes dessa foto”, avisa Maikon.
Segundo ele, “voltar àquela praça será a única resposta possível”.
“Com isso mostramos que a arte tem seu lugar no espaço público, mesmo que a contragosto de alguns. Mostramos que um corpo imóvel pode revolver as tripas da hipocrisia, mas também gerar afeto, força e ação”.
Ele ainda conta que recebeu “depoimentos de muitos artistas contando que passaram por situações parecidas com a polícia”.
Além das mensagens de apoio, Maikon K também foi vítima do ódio. “Eu recebi também uma mensagem de um homem que ameaçava me socar até que eu parasse de respirar. No seu perfil nas redes sociais, eu pude ver que ele é religioso e patriota”, conta.
E prossegue: “Faz todo sentido, ele sentir tanto medo. A arte não é um lugar seguro. Ela não defende uma visão de mundo, põe todas as crenças em risco. Mesmo que eu morra, existem outros artistas, muito melhores do que eu. E eles saberão o que fazer”.
O artista encerrou o anúncio fazendo um convite: “Dia 2 de setembro. Estarei lá, respirando com vocês”.
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