Opinião: Sem Artur Almeida, ficamos todos sem certeza
Por Miguel Arcanjo Prado
Desde pequeno gostei de ver Artur Almeida na televisão de casa. Repórter e, depois, apresentador marcante, ele sempre teve a capacidade de passar a informação de um jeito sereno e ao mesmo tempo repleto de toda a credibilidade do mundo. Era um espelho, um referencial de correção e ética, um farol.
A vida quis que o tal menino crescesse, estudasse jornalismo na UFMG e um dia, olha as voltas deste mundo, virasse colega de emissora de Artur Almeida, nome respeitadíssimo na redação da TV Globo Minas.
Lá, Artur apresentava e ocupava posto de editor-chefe do MGTV, o principal telejornal mineiro, até sua morte tão precoce, aos 57 anos, durante as férias em Portugal, na última segunda (24), após uma parada cardiorrespiratória irreversível e que até agora nos deixa atônitos.
A notícia da morte do Artur Almeida me foi dada na manhã da última terça (25), logo que despertei, justamente pelo amigo que fiz na primeira vez que pisei na TV Globo Minas e que me acompanha pela vida, Átila Moreno, hoje jornalista respeitado no Rio e que esperou o ônibus comigo na av. Américo Vespúcio, em Belo Horizonte, logo após fazermos a temida entrevista para estágio com Renê Astigarraga, então e ainda hoje diretor de jornalismo da TV Globo Minas.
Mal pude acreditar quando Átila me contou que todos perdíamos Artur Almeida. Sentíamos, em conjunto, o baque que atingiu de imediato todos os jornalistas que um dia tiveram o privilégio de aprender a seu lado.
Logo, nas redes sociais, constatei o tamanho do bem-querer e do respeito ao homem e ao profissional Artur Almeida, refletido por colegas jornalistas no mundo todo, como Viviane Possato, em Belo Horizonte, Raquel Laudares, em São Paulo, Yula Rocha, em Nova York, Sergio Utsch, em Londres, Patrícia Vasconcellos, em Buenos Aires, Patrícia Pinheiro, em Brasília, e tantos outros, como Fernando Rocha, chorando desconsolado, ao vivo, em rede nacional, na tela da Globo. É, Artur, sua falta já era imensa e duramente sentida.
Nos dois anos que estive na TV Globo Minas, ter Artur Almeida como colega sempre me encheu de orgulho. E, quando havia um respiro na correria de uma redação, ele sempre me deu dicas preciosas. Grande mestre que era.
Já desejoso de trabalhar no jornalismo cultural, recebi o incentivo de Paulo Valladares, outro grande jornalista da TV Globo Minas e então meu chefe direto, para entrevistar para o portal da emissora os artistas que divulgavam suas peças no MGTV, editado e apresentado por Artur.
Lembro que, estagiário, ia todo tímido aos bastidores do telejornal bater o papo com aquelas figuras que povoavam meu mais profundo respeito, como Paulo Autran, Marco Nanini e Lília Cabral.
Artur logo percebeu o interesse daquele jovem estagiário, sempre à espreita antes de seu telejornal começar. Um dia, me falou, deixando-me encabulado, que lia as entrevistas, que estava gostando do trabalho que fazia, em uma lição de enorme generosidade que jamais vou me esquecer.
No fim de 2006, quando meu estágio chegava ao fim, lembro exatamente o dia em que contei para Artur Almeida que havia passado no Curso Abril de Jornalismo, da Editora Abril, e tudo me indicava que me mudaria para São Paulo, o que me dava enorme frio na barriga.
Artur primeiro me olhou sério, mas logo depois abriu um sorriso e disse: “Eu também iria se fosse jovem que nem você”. E logo depois, acrescentou: “Vai, Miguel, não fica com medo, você é jovem e vai se dar bem por lá, tenho certeza”. A bênção estava dada.
Nestes últimos dez anos, sempre que voltava à BH, era um alento ligar a TV de casa e ver que Artur ainda estava lá, no comando do MGTV, pairando com sua ética e elegância no jornalismo mineiro.
Era como se a minha Minas, tão cara a mim, permanecesse intacta, ali, na minha frente, à minha espera, sempre que voltasse. Gostava de voltar para São Paulo com essa certeza chamada Artur Almeida.
Certeza esta que nenhum de nós mais terá.
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