Por Miguel Arcanjo Prado
Mateus Carrieri está com 50 anos. A idade nova veio com uma crise passageira, que o ator paulistano afirma já ter superado, em conversa com o Blog do Arcanjo do UOL após o ensaio no Teatro Jaraguá, em São Paulo.
Lá, ele estreia nesta sexta (11) a peça “Lili Carabina” ao lado de Viviane Araújo. O texto de Julio Kadetti é baseado na obra de Aguinaldo Silva com direção de Daniel Lopes. Sobre o meio século de vida, o ator diz:
“Cinquenta é um número emblemático. Até que estou bem para 50, mas me deu uma certa confusão que durou uns meses, de ser o tiozão da galera, mas já está tudo bem… Aqui no elenco sou o segundo mais velho, ainda bem que entrou [o ator] Fernando Neves, senão seria o primeiro”, fala, dando uma gargalhada na sequência.
Viviane Araújo: “Não quero dar tapa na cara de ninguém”
Mateus começou a trabalhar com sete anos de idade, como estrela mirim do teatro e da extinta TV Tupi. Logo, a beleza da juventude o levou para a Globo. Viveu de tudo: depois galã de novelas, enfrentou o ostracismo, participou do reality “Casa dos Artistas”, foi repórter de programa de celebridade, posou nu quatro vezes e atuou em filmes para adultos. Mas, a polêmica fase já está enterrada em seu passado.
Após passar por maus bocados, Mateus conseguiu superar o preconceito e reconstruir de forma digna sua carreira de ator, reconquistando o respeito da classe artística nos palcos.
“Senti que precisava disso. Em algum momento, não sei exatamente quando nem o porquê, fiz algumas escolhas que deram margem para comentários a meu respeito. Ingenuamente, acho que fui sendo levado para um caminho que não era o que sempre tive desde criança”, afirma.
“Sempre trabalhei em projetos legais, mas a velocidade do mundo mudou muito e demorei a perceber. Chegou uma hora que me perdi. Tive de parar e falar: vamos entrar no trilho de novo. Não é perseguição, fiz escolhas que permitiram que as pessoas pensassem coisas de mim, não era um coitado. O teatro me devolveu a dignidade, não que tenha feito algo indigno, mas me devolveu o respeito da classe, isso para mim é muito importante”, fala.
Depois de atuar por dez anos na comédia “O Amante do Meu Marido”, sucesso de público em São Paulo, ele foi convocado em 2013 por ninguém menos do que Antunes Filho, um dos maiores nomes do teatro brasileiro.
Antunes o chamou para integrar o elenco da peça “Nossa Cidade”, montagem que abocanhou os principais prêmios do Brasil, como o Shell e o APCA. Com a bênção do grande mestre, com quem já havia trabalhado na infância, Mateus inaugurou uma nova fase em sua carreira, deixando os atropelos do passado para trás.
“Estava fazendo uma comédia comercial de sucesso que sofria um preconceito da classe, apesar do sucesso de público, e aí o Antunes estava precisando de um ator com minhas características. Eu tinha trabalhado com ele aos oito anos de idade, 40 anos antes, em ‘Ricardo III’. No teste ele pediu para eu parar, eu pensei: caramba, ele vai me mandar embora. Mas era para dizer que eu precisava ver logo o figurino e pegar as referências de filmes e filósofos para a peça. Foram três anos incríveis e o elenco é unido até hoje”, conta o ator, que também trabalha como professor em uma academia de ginástica e como dublador.
Agora, enfrenta mais um desafio em “Lili Carabina”. “Faço o antagonista da história, o doutor Renato Delgado, da Baixada Fluminense, cuja função é capturar a Lili Carabina, o que vira uma obsessão em sua vida”, adianta.
É a primeira vez que Mateus trabalha com Viviane Araújo e Aguinaldo Silva. “A Viviane já conhecida do Carnaval e virou uma baita atriz, ela é a atriz perfeita para essa personagem, e o Aguinaldo é um grande autor de TV, que está celebrando 40 anos na televisão. Na minha época de Globo não tínhamos trabalhado juntos e estamos nos conhecendo agora. Estou muito feliz com essa oportunidade”, diz.
Questionado pelo Blog do Arcanjo do UOL se a peça não pode ser seu passaporte de volta para a Globo, sobretudo por ser um galã de perfil maduro, tipo de ator em falta na telinha, Mateus prefere dar um passo de cada vez.
“Eu acho prematuro dizer isso. É claro que é impossível não pensar nisso fazendo uma obra de Aguinaldo Silva, seria uma honra [voltar a fazer novelas] mas eu quero agora que as pessoas venham ver nosso trabalho no teatro. Depois, seja o que Deus quiser”, conclui.
“Lili Carabina”
Quando: Sexta, 21h30, sábado, 21h, e domingo, 19h. Até 26/11/2017
Onde: Teatro Jaraguá (r. Martins Fontes, 71, metrô Anhangabaú ou República, São Paulo, tel. 11 3255-4380)
Quanto: R$ 70 (sexta e domingo) e R$ 80 (sábado)
Classificação etária: 14 anos
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