Crítica: Madame negra de As Criadas causa terremoto em nossas relações raciais

Denise Assunção como a Madame de “As Criadas” – Foto: Jorge Etecheber

Por Viviane Angélica Pistache*, crítica convidada
Especial para o Blog do Arcanjo do UOL

Não se escala inocentemente uma atriz negra do quilate de Denise Assunção para viver uma patroa.

Assim, o primoroso texto “As criadas” de Jean Genet, adaptado ao avesso da realidade brasileira, promove um terremoto para pensar nossas relações raciais.

Sensação parecida com aquela de quando assistimos “Vista Minha Pele” de Joelzito Araujo pela primeira vez.

A madame de Denise é uma mistura de Grace Jones e Elza Soares, ou seja, uma mulher apocalíptica num Brasil que está longe de ser possível.

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Não se trata simplesmente de trocar a cor da patroa e das empregadas — interpretadas por Bete Coelho e Magali Biff—, é promover um deslocamento de placas tectônicas rumo a outras eras ideológicas; onde mulheres não sejam cativas das desigualdades de raça, gênero e classe.

Livres de amores malfadados, intrigas, rivalidades ou da exigência de uma xícara de chá para desconfortos insaciáveis. Estes e tantos outros acessórios que calcificam fragilidades sociais.

É por isto que torcemos pela madame negra em “As Criadas”, pois conforme o próprio Genet, amar na servidão, não é amar.

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“As Criadas” ✪✪✪✪
Avaliação: Muito bom
Quando: Sábado, 21h, domingo, 18h. 80 min. Até 13/8/2017
Onde: Sesc Santana (av. Luiz Dumont Villares, 579, metrô Jardim São Paulo, Santana, São Paulo, tel. 11 2971-8700)
Quanto: R$ 9 a R$ 30
Classificação etária: 16 anos

*Viviane Angélica Pistache é bacharel em Psicologia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), mestre em Educação e doutoranda em Psicologia pela USP (Universidade de São Paulo). Mineira de Nova Lima radicada em São Paulo, integra o Projeto Pretas Dramas — um encontro entre a psicóloga Viviane A. Pistache, a roteirista Carolina Gomes e a cineasta Renata Martins, três mulheres negras, para pensar, refletir e produzir crítica e dramaturgia. 

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