Treta Show: Repórteres fazem sucesso com vídeos divertidos na internet
Por Miguel Arcanjo Prado
Os jornalistas Adalberto Neto e Ricardo Rigel estão fazendo sucesso na internet com seu divertido programa “Treta Show”.
Nos vídeos para o jornal carioca Extra, que já totalizam 35 episódios, os repórteres vão de repercutir comentários dos leitores até ir para as ruas se encontrar com personalidades carismáticas, como a funkeira Jojo Todynho, cuja entrevista caminha para a marca de 1 milhão de visualizações.
Repórter do jornal O Globo, Adalberto Neto, de 36 anos, é formado em jornalismo desde 2003, e tem passagens pelas editorias Bairros e Rio e coluna Gente Boa, d’O Globo; e coluna Extra, Extra!, do jornal Extra. Já o repórter do jornal Extra Ricardo Rigel, 28 anos, trabalha como jornalista desde o primeiro período da faculdade, em 2007. Trabalhou por cinco anos no jornal O Fluminense nas editorias de Economia, Cidades e Cultura. Na Infoglobo, está há quatro anos como repórter de Cidades.
O Blog do Arcanjo do UOL conversou com os dois intrépidos repórteres. Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado – Como surgiu a ideia desses vídeos? Como foi o apoio no jornal a uma ideia tão nova e leve?
Adalberto Neto – Achava incrível a pegada que o Rigel dava paras as matérias dele, com leveza e sempre pensando num material diferenciado para o site. Fora isso, ele é um cara piadista, que faz todo mundo rir na redação. E como além de jornalista também sou roteirista, pensei em levar o “stand up comedy” que ele fazia ao público da internet, e propus ao Octavio (Guedes, diretor do Extra) de escrever um projetinho com esse formato para o Rigel. Mas acabei demorando a entregar e, um belo dia, o Octavio cruzou com o Rigel e disse: “Quero que você me apresente amanhã uma ideia de um programa diário com você para começar já “. Isso foi por volta das 21h, e o Rigel me ligou em seguida já me esculhambando: “Você inventa de colocar coisa na cabeça do chefe e, agora, ele veio aqui me pedir um programa, pode ir ajudando”. Nós criamos o ‘Treta Show’ e todos os quadros dele em 20 minutos e por telefone. A princípio, eu não estaria apresentando, mas o Rigel disse que preferia fazer comigo. Aí, caí dentro. Tivemos apoio não só do Octavio, mas de todos os editores executivos, que assistiram aos episódios da primeira semana do nosso lado e pediram para colocarmos no ar o mais rápido possível.
Ricardo Rigel – Miguel, sempre que me perguntam, por que escolhi ser jornalista. Tenho uma resposta quase que decorada. Você não me perguntou isso, mas vou responder assim mesmo [risos]. Eu amo gente e acredito que todo mundo tem uma história maravilhosa para contar. Todo mundo mesmo! Estou no Extra há quatro anos, mas esse ano, comecei gravar as minhas entrevistas com o meu celular. E esse conteúdo passou a ser publicado junto com meus textos como um material adicional. Ganhei a confiança dos meus editores e eles começaram a me desafiar nas pautas. Um dia, cheguei no jornal e eles falaram: “Rigel, nós queremos que você faça a mediação de um debate, ao vivo pelo Facebook do Extra, sobre política com um Sereio, um Papai Noel e um Saci”. Respondi na hora: gente, esse ano faço dez anos trabalhando em redação e vocês querem acabar com a minha carreira? Mas eles continuaram sérios e falaram que era para usarmos da ironia para cutucar as autoridades. Fiz o debate e bombou nas redes. Junto com isso tudo, as redações do Extra e do O Globo se uniram e passei a sentar ao lado do Adalberto Neto. Passamos a conversar e discutir muito sobre essa nova linguagem que o jornalismo precisa adotar. As pessoas querem ser ouvidas. A internet veio esfregar na nossa cara que somos muito pequenos e que existem milhares de pessoas que também querem ser ouvidas.
Miguel Arcanjo Prado – Os vídeos de vocês já estão sendo referência na nova linguagem digital. O jornalismo pode e deve ser leve nestes novos tempos de redes sociais?
Adalberto Neto – Sério que já acham referência? Eu, particularmente, fico muito feliz com isso, porque duvidei muito que os colegas de profissão fossem gostar. E isso me preocupava muito. Mas um dia antes de nós começarmos a gravar o programa, por uma coincidência absurda, encontrei com a Susana Naspolini, que é a rainha desse jornalismo moleque, que mistura leveza e humor, e me apresentei a ela, falei do Treta Show e pedi conselhos. E o que ouvi foi: “Faça sem pensar no que vão achar. Se joga mesmo. Se for para dançar, dance. Se for para cantar, cante. E se for para andar de velocípede, ande. Tudo o que é feito com verdade e coração, não tem como não dar certo”. Era tudo o que precisávamos para aloprar sem culpa.
Ricardo Rigel – Olha, Miguel, não isso de ser referência. O Adalberto já está se achando! [risos] Tô brincando. [risos] Não sei dizer se é referência, mas posso afirmar que temos uma vontade gigantesca de nos reconectarmos com parte da audiência que passou a consumir a informação de uma outra maneira. O que penso sobre comunicação é que não somos os detentores da verdade absoluta, por isso que devemos olhar para o novo com o coração mais aberto. Hoje, o leitor não quer fazer parte apenas do conteúdo, mas da produção dele. O que fazemos no Treta Show é um exercício, com erros e acertos, sobre essa nova maneira de comunicar e informar.
Miguel Arcanjo Prado – Qual o vídeo que cada um de vocês mais gostou de gravar? Por quê?
Adalberto Neto – Essa é a primeira entrevista que dou e já vou ser clichezaço: curti fazer todos. Claro que me assustei positivamente com a audiência de meio milhão, em apenas 12 horas, do dia em que entrevistamos a Jojô Todynho, uma figura incrível que participou do clipe da Anitta, o “Vai malandra”. Mas o melhor da nossa profissão, de uma maneira geral, é conhecer gente. E estamos nos permitindo desbravar o Rio com essa missão. Com menos de um dois meses de Treta Show, já fomos da Barra ao Jacarezinho e, em cada lugar, encontramos pessoas muito receptivas para nos receber. Então, seria muito injusto da minha parte apontar um vídeo que mais gostei, se todos têm muita história por trás.
Ricardo Rigel – Rapaz, sou apaixonado por idosos! Passava muitas horas do dia com os meus avós, na infância e adolescência. Dia desses, fizemos cinco programas dentro de um asilo, lá em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. Foi um momento muito bacana poder tirar aquela galera da rotina. Interagir com eles e mostrar para o nosso público mais jovem o quanto essa turma da terceira idade é interessante. Foi muito gratificante. Mas não posso escolher um único programa. Porque as grandes estrelas dos nossos vídeos são pessoas normais como eu e Adalberto. E é maravilhoso mostrar o que cada uma delas tem a dizer.
Miguel Arcanjo Prado – Como tem sido a reação do público aos vídeos? Vocês já são reconhecidos nas ruas pelos vídeos?
Adalberto Neto – Como já era de se esperar, a resistência ao novo foi algo forte na primeira semana. Tínhamos muitos haters, que postavam comentários que iam bem além de uma crítica acerca do nosso desempenho no ‘Treta Show’. São coisas impublicáveis. Mas, sem combinar, o que achei muito curioso, eu e o Rigel respondemos a quase todos eles, mandando emojis de coração, de beijinhos, chamando as pessoas no diminutivo para criar intimidade, eu colocava a culpa do fracasso do programa no Rigel, ele fazia o mesmo comigo… Acabou que isso virou uma atração extra do programa. Tenho amigos que dizem que, depois de assistirem ao Treta, vão correndo ver a nossa interação com os nossos haters. Hoje, temos bem menos haters fofuxos, como nós os chamamos. A maioria é formada por treteiros gold, como nos referimos aos nossos fãs. Aliás, ter fã é algo ainda muito surreal para mim. É engraçado. Umas senhoras na academia já pediram para tirar foto comigo. Eu nem perguntei o motivo, mas, como não as conhecia, julguei que tenha sido por causa do programa. Fora isso, já percebi uns olhares diferentes no meu condomínio. Mas pode ser coisa da minha cabeça e ninguém saiba quem eu sou.
Ricardo Rigel – Estamos criando uma relação muito franca com os nosso público. Nosso diálogo é muito divertido e positivo. Quando nos atacam, retribuímos com mais educação e amor. E o jogo vira. Você já viu ódio com ódio produzir amor? Então essa matemática não cola com a gente e não deveria colar com ninguém. Não estamos ali para levantar grandes polêmicas, o que buscamos é o diálogo. Tem funcionado bem. Sobre essa história de ser reconhecido, passei por uma situação muito engraçada, esses dias, quando caminhava à noite por uma rua perto da minha casa. Uma garota de programa falou para mim: “você é do Treta Show do Extra. Te vi entrevistando umas meninas”. Cara, eu pirei na hora! Saquei o celular e já queria fazer uma entrevista com ela, mas não rolou. Disse que era casada e que o marido não sabia da profissão dela. Olha a matéria aí. Eu piro! Tem história para todos os lados que queremos olhar.
Miguel Arcanjo Prado – Os vídeos estão bombando de acessos? Acham que vocês dois já têm um futuro na TV?
Adalberto Neto – Os acessos estão além do que esperávamos. Não sei avaliar se estamos bem. E prefiro não me preocupar muito com isso, senão fico neurótico. E eu tenho talento para a neurose e para o drama como ninguém. Então, deixo essa preocupação para o Rigel. Até brinquei em alguns vídeos, dizendo que sou a Simaria da nossa dupla sertaneja (dizem que a Simaria é quem fica mais à frente dos negócios da dupla), mas na verdade, eu sou a Simone. Só estou ali me divertindo sem compromisso. E eu não penso em futuro na TV, porque nem sonhava em apresentar um programa. Gosto muito da casa em que trabalho e não está nos meus planos sair tão cedo. Comecei na Infoglobo aos 18 anos, como office boy da redação, na editoria Rio, que cobre assuntos da cidade. Por ora, só penso mesmo em abrir caminho para outros repórteres do jornal começarem a trilhar caminhos nessa área de vídeo também. Quero poder fazer roteiros para todos eles. Isso, sim, é mais a minha praia. Fora isso, continuar aprimorando o Treta, que ainda tem muito feijão com arroz para comer.
Ricardo Rigel – Percebo que estamos conquistando um público bacana. Mas aos poucos. Sem essa pressão desesperada por audiência. Sinceramente, quando entrei na profissão, o sonho era pôr a cara no sol, ou melhor na tela da TV. Mas o Extra e o O Globo têm me mostrado um universo tão gigantesco dentro das plataformas online que essa vontade de transformou. Vejo que muitos repórteres de TV tem se rendido às redes sociais e nós já estamos nelas. Isso é muito bacana. Trabalhamos muito, mas amamos o que estamos fazendo. E o Adalberto com todo o talento dele como roteirista tem deixado essa história muito mais bacana. Estamos no começo de um projeto que vai crescer muito. Estamos focados nisso. E temos plantado essa semente nas ideias dos nossos colegas de redação.
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