Por Miguel Arcanjo Prado
A saída do armário do ator Kevin Spacey, 58, logo após ter sido acusado de abuso sexual no passado contra um adolescente é um ato de coragem ou uma atitude oportunista?
O relato do ator Anthony Rapp, 46 anos, de “Star Trek – Discorvery”, ao BuzzFeed News sobre o suposto abuso sexual que Kevin Spacey teria cometido contra ele, quando este tinha 14 anos e Spacey, 26, caiu como uma bomba na vida do protagonista da premiada série “House of Cards” — é importante ressaltar que o relato de Rapp é apenas um lado desta história.
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Rapp disse que Spacey, bêbado, tentou forçar sexo com ele na cama do quarto de Spacey, onde ele via TV, durante uma festa na casa do ator em 1986.
“Ele me carregou no colo como um noivo carrega a noiva. Mas eu não me afastei inicialmente, porque estava me perguntando: ‘o que está acontecendo?’. Ele, então, se deitou em cima de mim”, afirmou Rapp na polêmica entrevista.
Diante da fortíssima acusação, Kevin resolveu sair do armário no pronunciamento que fez sobre o caso, o que irritou muita gente em Hollywood e na comunidade LGBT.
Ganhador do Oscar de melhor ator coadjuvante por “Os Suspeitos”, em 1995, e de melhor ator por “Beleza Americana”, em 1999, Spacey disse estar “horrorizado” com a acusação de Rapp e garantiu “não se lembrar de nada”.
Contudo, estranhamente, pediu desculpas: “Eu devo as mais sinceras desculpas a Anthony pelo o que teria sido um comportamento inapropriado e bêbado, e eu sinto muito pelos sentimentos que ele descreve ter carregado por todos esses anos”.
Além disso, Spacey confirmou o que muita gente já sabia, desconfiava ou especulava: que pode ser definido no campo da sexualidade como gay. “Tive relacionamentos com homens e mulheres e, hoje, escolho viver como um homem gay”, afirmou, no mesmo comunicado.
Coragem ou oportunismo de Kevin Spacey?
Mas, voltemos à questão inicial: a atitude de Kevin Spacey de sair do armário neste fatídico momento é coragem ou oportunismo?
É fato de que só a consciência do ator tem a resposta concreta para esta pergunta, mas é no mínimo curioso que ele queira sair do armário justamente em um momento em que é acusado de ter abusado sexualmente de um menor de idade no passado, entrando na lista cada vez mais extensa de abusadores de Hollywood.
Lista esta que deve fazer tremer muitos poderosos do mundo do entretenimento brasileiro, caso artistas daqui resolvam copiar os norte-americanos e abrir o bico sobre os assédios sofridos por gente importante da frente das câmeras e dos bastidores.
Não bastasse toda a confusão, o irmão de Kevin Spacey, Randall Fowler, de 62 anos, revelou ao jornal Daily Mail que Kevin passou toda a infância sofrendo abusos sexuais do pai ultra-direitista e adorador de Hitler. Segundo Fowler, para não deixar dúvidas, o pai era “um nazista estuprador de crianças”.
Diante de todo o escândalo, a Netflix achou por bem encerrar “House of Cards” na sexta temporada mesmo, enterrando com a série o protagonista Frank Underwood, papel de Kevin Spacey.
Fato é que Kevin Spacey teve muitas oportunidades de sair do armário de uma forma que todos iriam aplaudir este seu gesto de coragem, como quando venceu o Oscar de melhor ator por “Beleza Americana”, em 1999, por exemplo.
Sair do armário naquele momento, ou mesmo com o sucesso de “House of Cards”, teria sido um gesto de grandeza e, sim, de coragem. Gesto este que ajudaria outros gays a fazerem o mesmo e deixarem o fingimento hipócrita de simular heterossexualidade para a sociedade.
Contudo, ao fazer isso em um momento tão conturbado de sua vida, a atitude de Kevin Spacey soa como uma tentativa desesperada de trocar o lugar do algoz pelo de vítima, além de misturar duas coisas que nada tem a ver uma com a outra: ser gay e abuso sexual de menores.
Por isso, é mais fácil enxergar oportunismo do que gesto de coragem nesta saída tardia do armário do galã de Hollywood neste turbulento contexto.
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