Ator de Cidade de Deus e Tim Maia, Babu Santana é homenageado em Tiradentes
Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial a Tiradentes (MG)
O sol deixa seu calor nas pedras centenárias da bucólica Tiradentes e cede espaço aos preparativos de uma grande festa.
A cidade barroca no coração de Minas Gerais vive, na noite desta sexta (19), a abertura da 21a Mostra de Cinema de Tiradentes.
Até 27 de janeiro, em nove dias de programação intensa, serão exibidos gratuitamente 102 filmes, dos quais 30 são longas e 72, curtas; além de debates e shows musicais, também com entrada franca.
Nas tais pedras centenárias onde bate o sol, um homem caminha de chinelos, bermuda e camisa de palmeiras azuis que combina com seus dreads coloridos.
É o homenageado desta edição: o ator carioca Babu Santana.
“É uma honra imensa receber esta homenagem neste festival tão importante para o cinema brasileiro, é um dos momentos mais especiais de minha carreira”, diz.
O artista de 38 anos construiu uma trajetória intensa na sétima arte, desde sua primeira aparição em “Cidade de Deus”, em 2002, filme de Fernando Meirelles reconhecido em todo o mundo e indicado a quatro Oscar.
Ao contrário de muitos de seus colegas de elenco em “Cidade de Deus”, Babu seguiu emprestando sua força cênica a outros longas marcantes da primeira década do século 21, driblando o racismo infelizmente ainda presente na trajetória de muitos artistas negros.
Tais quais “Uma Onda no Ar”, de 2002, e “As Alegres Comadres”, em 2003.
Logo, surgiram novos convites, como para os filmes “O Homem do Ano” (2003), “Quase Dois Irmãos” (2004) e “Estômago” (2007).
Em 2014, Babu teve a chance de encarnar na telona um grande ícone da música popular brasileira no filme “Tim Maia”.
Para Cleber Eduardo, curador da Mostra de Cinema de Tiradentes, neste longa “Babu foi um Tim empenhado em parecer Tim, visualmente e na performance”.
O curador ainda afirma que a trajetória singular de Babu em nosso cinema lhe credenciaram a ser homenageado na 21a edição do festival que ainda celebra os 300 anos de Tiradentes.
Lila Foster, também curadora do evento, recorda que em grande parte de sua filmografia Babu interpretou personagens de vivências marginais na sociedade brasileira.
“Quase toda sua filmografia lida com narrativas situadas em ambientes em atrito e de risco, com marcas de desigualdade social brasileira. Parte significativa de seus personagens é dura e de empenho realista”, afirma.
Para a abertura da Mostra nesta sexta, será exibido “Café com Canela”, filme dirigido por Glenda Nicácio e Ary Rosa e com Babu em um papel pouco usual em sua carreira: o de um dentista de uma cidadezinha do interior baiano.
Durante o festival ainda serão exibidos dois outros filmes com o ator: o já citado “Uma Onda no Ar”, de Helvécio Ratton, e o inédito “Bandeira de Retalhos”, de Sérgio Ricardo.
“A Mostra de Cinema de Tiradentes assume a missão de sintetizar a produção nacional, fazer eco para seus melhores frutos, difundir e promover conhecimento”, resume Raquel Hallak, coordenadora da Mostra e diretora da Universo Produção.
A abertura ainda conta com a performance audiovisual dirigida por Chico de Paula e Grazi Medrado que farão uma síntese do tema de 2018 do festival que inaugura o ano cinematográfico no Brasil: “Chamado Realista”.
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes.