Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial a Tiradentes (MG)*
O corpo negro com toda a sua potência artística de leituras e significados foi o grande destaque da abertura da 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes, na noite desta sexta (19), na cidade histórica mineira, sob direção de Grazi Medrado e Chico de Paula, que também fizeram o roteiro ao lado de Raquel Hallak.
Sob delicada trilha ao vivo executada por Barulhista, Anderson Oliveira e Paulo Sérgio Thomaz, a atriz e diretora Grazi Medrado abriu a noite lendo excelente texto do poeta mineiro Leo Gonçalves sobre a cidade de Tiradentes, que completa 300 anos.
Em uma interpretação pausada e repleta de sentidos a cada palavra dita, o texto na boca da atriz aliou passado, presente e futuro com a cidade barroca.
Além disso, ressaltou de forma elegante e precisa a luta da população negra, tão castigada na mesma história tricentenária.
Desenvolto e repleto de simpatia, o ator David Maurity foi o mestre de cerimônias da festa, que também contou com participação da potente bailarina Mayra Motta, em uma dança ancestral que misturou passado e presente em ritmos afros fluídos e sincopados, enquanto no painel surgiam referências da luta do movimento negro, como Malcon X e os Panteras Negras.
Outro que surgiu no palco foi o ator Preto Amparo. Com presença intensa e um corpo malemolente ao som de Tim Maia, chamou ao palco o homenageado desta edição, o ator Babu Santana, após anunciar pausadamente os feitos do artista celebrado.
Acompanhado de seus familiares, ele subiu ao palco e se emocionou bastante. No discurso, feito após as lágrimas, Babu celebrou ter sido criado por uma família de negros empoderados do Vidigal, comunidade na zona sul do Rio onde despertou seu talento para a atuação no grupo Nós do Morro. “As mulheres da minha família são empoderadas desde sempre”, falou.
Babu ainda falou das dificuldades que enfrentou ao longo da carreira até encontrar seu lugar no campo da atuação: “Ser artista no Brasil já é uma dificuldade. Ser negro, favelado, não ser bonito, era tudo contra. Pensava: como vou me inserir no mercado? Não seria beijando a menininha da novela das oito”, afirmou.
Antes, Raquel Hallak, da Universo Produção, que produz o festival, falou em seu sempre aguardado e poético discurso sobre o tema de 2018: “Chamado Realista”. Disse tratar-se de um chamado para a vida e a diversidade e contra qualquer tipo de preconceito. “Um chamado para refletir e discutir outros universos possíveis”, pontuou.
Ainda na abertura, Marco Antonio Castello Branco, presidente da Codemig, órgão de desenvolvimento do governo estadual mineiro, anunciou investimento de R$ 16,5 milhões no cinema de Minas Gerais por meio de um edital, no âmbito do Programa de Desenvolvimento do Audiovisual Mineiro (Prodam).
O secretário de Cultura de Minas, Angelo Oswaldo, homenageou o músico Flávio Henrique, que morreu nesta semana vítima da febre amarela, no momento mais comovente da noite, quando o nome do compositor foi aplaudido pelas 700 pessoas que lotaram o Cine-Tenda.
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes.
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