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Filme Arábia consagra Affonso Uchôa e João Dumans no cinema brasileiro

Os cineastas Affonso Uchôa e João Dumans: talento comprovado no filme “Arábia” – Foto: Beto Staino/Universo Produção/Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial a Tiradentes (MG)*

Com o impressionantemente delicado filme “Arábia”, os mineiros Affonso Uchôa e João Dumans saem da 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes no posto de novos diretores obrigatórios de se acompanhar no cinema brasileiro. Donos de farto talento comprovado na telona.

A sessão do longa no festival deixou impressionados o público e a crítica, gerando um burburinho de elogios ao trabalho.

Protagonizado por Aristides de Sousa, o filme narra com sensibilidade ímpar a trajetória de um trabalhador braçal em crise com o próprio sentido de sua vida, enquanto perambula pelas estradas de Minas Gerais, encontrando e perdendo um pouco de si a cada paragem.

“Arábia” é um belo cartão de visita para a dupla de cineastas, que ainda não sabe se trabalhará outra vez a quatro mãos.

Aristides de Sousa em cena do filme “Arábia”, de Affonso Uchôa e João Dumans: sucesso em Tiradentes – Foto: Divulgação

Se o filme sobre a solidão do homem causa furor nacionalmente, lá fora também é um êxito. Exibido em mais de 50 festivais internacionais, ele repete por onde passa a acolhida fervorosa tanto do público quanto da crítica especializada.

“Arábia” também abocanhou cinco prêmios no Festival de Brasília 2017, incluindo melhor filme, melhor ator (Aristides de Sousa), melhor trilha sonora (Francisco César e Cristopher Mack), melhor montagem (Luiz Pretti e Rodrigo Lima) e o prêmio de melhor filme da Abraccine.

Estreia em 5 de abril

O filme estreia comercialmente em 5 de abril, pelo menos em 15 capitais, entre elas salas de São Paulo, Rio e Belo Horizonte, com distribuição da novata Embaúba Filmes, pertencente a Daniel Queiroz.

Ele pretende abrir espaço nas salas comerciais para o cinema brasileiro independente, começando a tarefa com “Arábia”. “Nosso objetivo é ampliar o público do cinema brasileiro independente”, afirma Queiroz.

“Também queremos exibir o filme em organizações sociais e sindicatos”, avisa o diretor João Dumans.

Distribuição nos EUA

Ele ainda revela que “Arábia” será distribuído nos EUA pela Grasshopper Film.

Isso credenciaria o longa independente a representar o Brasil no Oscar 2019? “Não temos essa ilusão”, responde Dumans, ao que seu colega Affonso Uchôa complementa: “A gente não está pirando nisso”.

Já Aristides de Sousa, o Juninho, parece mais confiante. “Eu quero o Oscar, sim”, diz, ao entrar no papo com o Blog do Arcanjo do UOL com uma gargalhada repleta de autoconfiança.

Affonso Uchôa, Aristides de Sousa e João Dumans em Tiradentes: “Arábia” foi destaque na 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes – Foto: Beto Staino/Universo Produção/Divulgação

Para Uchôa, no momento prioridade é fazer “Arábia” ser visto pelo maior número possível de espectadores, revelando que o filme já tem ótima acolhida nos outros países latino-americanos.

“Na América Latina nosso filme bate mais forte. Acho que é porque somos explorados desde sempre”, fala.

Simples e universal

Uchôa diz que o processo de roteirização foi trabalhoso e delicado. “Conversamos muito para que esse personagem não fosse de uma época ou de um só lugar, que pudesse ser de qualquer lugar do mundo”, explica.

Assim, o road movie que fizeram ganha características universais. “Esse personagem André é especial, mas também é dono de uma vida qualquer”, pontua Dumans. “O que muda é a forma de olhar para essas vidas”, completa.

“O cinema é um campo privilegiado para ver as coisas de uma maneira diferente que a dita realidade estabeleceu. Para mim, este é o grande poder do cinema”, diz Uchôa. “A realidade é uma questão de representação. A realidade é uma grande representação de papéis. Nosso papel é não aceitar essa representação construída no Brasil de hoje”, afirma Dumans.

Parte da equipe do filme “Arábia” em Tiradentes – Acima: Renato Novaes, Aristides de Sousa, Daniel Dumans, Vitor Graize e Affonso Uchôa; abaixo: Murilo Caliari, Wederson Neguinho e Daniel Queiroz – Foto: Beto Staino/Universo Produção/Divulgação

Os diretores ainda apontam a dificuldade de um filme independente como o deles de chegar às grandes salas, mesmo tendo sido aclamado pela crítica. “O circuito do cinema independente no Brasil é um gueto ainda. Tanto que se tivermos 10 mil espectadores já podemos considerar um sucesso”, fala Dumans.

Cinema é arte

Se o sucesso do filme os credencia a outros voos, como na televisão aberta dirigindo novelas ou séries, eles são categóricos: “Não é nosso interesse”, respondem, uníssonos.

“Não tem essa de evoluir para um lugar. Não tenho essa intenção [de dirigir novelas]”, pontua Dumans. “O fim não é a visibilidade pela visibilidade, estamos fazendo cinema para criar arte”, finaliza Uchôa, com seu modo de falar elegante e inteligente.

*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes.

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