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MITsp: um teatro de quem e para quem?

Europa no palco: cena da peça “King Size”, do suíço Christoph Marthaler, apresentada na 5ª MITsp – Foto: Guto Muniz/Divulgação

“Que outro vocês querem atingir?”, questionou a atriz travesti Renata Carvalho, da plateia, durante uma mesa de debates da MITsp (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo). A quinta edição do evento começou no último dia 1º e chega ao fim neste domingo (11).

“Queria falar para vocês saírem do buraco. Porque do buraco não consigo enxergar o outro. Por isso, vocês não veem o outro. Que outro que te interessa?”, pontuou para a classe teatral a atriz que ficou famosa ano passado por interpretar Jesus em “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”, peça que chegou a ser censurada pela Justiça.

A fala de Renata acontece em um momento de forte debate por inclusão no mundo das artes. Não só de pessoas trans, como também de mulheres, negros e imigrantes, entre outras ditas “minorias”. A atriz e sua peça não estiveram na programação da MITsp.

Internacional e fortemente europeu: cena da peça “Árvores Abatidas”, do polonês Krystian Lupa, apresentada na 5ª MITsp – Foto: Guto Muniz/Divulgação

Até Hollywood e o Oscar entenderam importância da representatividade

Na questão trans, por exemplo, o cinema viu avanços como a premiação da atriz trans Julia Katharine no Brasil na última Mostra de Cinema de Tiradentes e o Oscar de melhor filme estrangeiro para longa “Uma Mulher Fantástica”, com a atriz trans chilena Daniela Vega, primeira pessoa transgênero a apresentar o mais importante prêmio do cinema.

Na luta das mulheres, Hollywood também viveu uma onda de denúncias em que poderosos assediadores sexuais foram desmascarados, com mulheres não mais tolerando mais este tipo de violência dos homens.

Na questão negra, a indústria cinematográfica também absorveu a reivindicação dos afro-americanos por representatividade e criou o filme “Pantera Negra”, sucesso de bilheteria em todo o mundo com uma forte discussão sobre racismo como fio condutor.

Enquanto tudo isso acontece, a MITsp este ano optou uma temática mais generalista e abrangente: “história, memória e política”, “a palavra como protagonista”, “reverberações entre teatro e música” e “migrações e deslocamentos”.

Após discutir o racismo no ano passado, a 5ª MITsp teve só uma peça entre as 12 de sua mostra principal protagonizada por uma pessoa negra: a britânica Selina Thompson em “sal.” – Foto: Guto Muniz/Divulgação

Só uma peça na mostra principal da MITsp tem protagonista negra: 8% do total

E, mesmo após discutir o racismo em 2017, neste ano a mostra principal da MITsp, com 12 espetáculos, contou com apenas um protagonizado por uma pessoa negra, no caso a britânica Selina Thompson, em “sal.”, o que dá o índice de 8,33% do total. Negros correspondem a 54% da população brasileira.

Diante da fala de Renata Carvalho, das discussões atuais por representatividade nas artes, do diálogo necessário entre arte e temas da atualidade que merecem atenção e pauta, e, claro, das estatísticas já conhecidas, é preciso deixar uma pergunta não só para a MITsp como para o teatro brasileiro.

Um teatro de quem e para quem?

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