Morre Raquel Trindade, referência da cultura negra no Brasil

A artista Raquel Trindade, que morreu aos 81 anos: referência da cultura afro-brasileira – Foto: Acervo Teatro Popular Solano Trindade/Divulgação – Blog do Arcanjo/UOL

Por Miguel Arcanjo Prado

Morreu, neste domingo (15), aos 81 anos, no Hospital das Clínicas, em São Paulo, a artista Raquel Trindade, um dos nomes mais importantes da cultura afro-brasileira. A morte foi confirmada por sua sobrinha, Kátia Trindade.

O velório é realizado a partir das 14h no Teatro Popular Solano Trindade (av. São Paulo, 176, Jardim Silvia, Embu das Artes, SP), fundado por ela e que leva o nome de seu pai e poeta, na cidade de Embu das Artes, na Grande São Paulo, na qual vivia e que ajudou a projetar nacionalmente com sua arte.

O Blog do Arcanjo no UOL conversou com o neto de Raquel Trindade, o produtor cultural Marcelo Tomé. Ele falou que a família ainda está definindo o horário e onde será o enterro, que será realizado nesta segunda (16) com acompanhamento de grupos de maracatu. Amigos e familiares pedem que todos compareçam de branco, a cor do luto nas religiões afro-brasileiras.

“Minha avó foi a salvação de um mundo, porque foi graças a ela que muitas pessoas se encaminharam para um caminho da cultura, seja através das artes plásticas, da música, da dança popular. Ela contribuiu com seus trabalhos educacionais e culturais com a transformação de toda uma sociedade aqui em Embu das Artes. Vários jovens que hoje são adultos saíram de uma situação socioeconômica complicada e de violência para uma realidade melhor por conta do trabalho que ela fez”, declarou Tomé.

A artista Raquel Trindade em meio a seus quadros – Foto: Acervo Teatro Popular Solano Trindade/Divulgação – Blog do Arcanjo/UOL

Amor por Embu das Artes

Natural do Recife, onde nasceu em 10 de agosto de 1936, ela mudou-se com a família aos oito anos para o Rio. Aos 25, passou a viver em Embu das Artes, cidade com a qual dialogou até o fim.

O amor pelo lugar era tanto que Raquel Trindade lançou em 2004 o livro “Conto, Canto e Encanto com a Minha História… Embu”, pela Editora Nooovha América.

Ela também escreveu variados livros sobre seu pai, Solano Trindade (1908-1974), um dos mais importantes poetas negros da literatura brasileira.

Raquel foi uma artista multifacetada, atuando tanto no campo das artes visuais, quanto da dança e da historiografia do povo negro brasileiro.

Solano Trindade e a filha Raquel Trindade – Foto: Acervo Teatro Popular Solano Trindade/Divulgaçã – Blog do Arcanjo/UOL

Artistas lamentam morte de Raquel Trindade

Muitos nomes importantes lamentaram a perda da grande artista e ativista do povo negro.

O ator Sidney Santiago, da Cia. Os Crespos, definiu a morte da amiga como “algo irreparável”. “São Paulo, amanheceu triste e frio. Raquel partiu. Ela é a nossa baluarte. A nossa musa. A nossa memória. Ela é rainha, migrante, mulher, entidade, mãe, avó, ativista, professora”, definiu.

A atriz do Teat(r)o Oficina Leticia Coura, também vocalista do grupo Revista do Samba, afirmou: “Difícil falar da importância dessa mulher. Amor humor. Que falta você já me faz”.

A atriz Naloana Lima, do grupo Clariô Cia. de Teatro e da banda Clarianas, declarou: “Ela fez hoje sua travessia final, deixando aqui grandes ensinamentos. Raquel Trindade esse ser iluminado, que generosamente trazia em luta diária toda arte a arte ancestral que nos foi roubada. Dona Raquel foi um ser raro de sorriso largo cheio de beleza e amor”.

Raquel Trindade mostra um de seus quadros: inspiração nas religiões afro-brasileiras – Foto: Acervo Teatro Popular Solano Trindade/Divulgação – Blog do Arcanjo/UOL

Flávio Rodrigues, ator do grupo teatral Coletivo Negro, também lamentou a morte da artista. “Nossa Rainha Raquel Trindade partiu deixando um legado de ARTivismo, mais um bastão está conosco, que sejamos dignos de carregá-lo. Vá em paz Rainha. Hoje a festa será grande em Orum”, declarou.

Professor da Escola de Comunicações e Artes da USP (Universidade de São Paulo), Dennis de Oliveira também falou sobre a morte de Raquel Trindade: “Uma terrível e triste notícia para Embu das Artes e toda a comunidade artística, em especial os movimentos afro-brasileiros”.

Raquel Trindade (1936-2018) – Foto: Acervo Teatro Popular Solano Trindade/Divulgação – Blog do Arcanjo/UOL

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