Como diretor gay, Sandro Christopher rouba a cena no musical Os Produtores
A cada vez que entra em cena no musical “Os Produtores”, em cartaz até 8 de julho de quinta a domingo no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, o ator Sandro Christopher é garantia de múltiplas gargalhadas na plateia. Sua performance como o excêntrico e espalhafatoso diretor gay Roger De Bris é um dos grandes destaques da montagem estrelada e dirigida por Miguel Falabella.
Com 40 anos de carreira, dos quais 30 é amigo de Falabella, Sandro celebra o sucesso de seu personagem pela segunda vez, já que o interpretou na primeira versão para a obra em 2007. Diz agora estar mais cansado, porém, muito satisfeito com a boa repercussão de seu marcante trabalho cênico.
Com trajetória que passa pelo teatro, ópera, seriados, minisséries, novelas e filmes, Sandro Christopher conversou com exclusividade com o Blog do Arcanjo no UOL sobre este momento tão especial.
Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado — Como é voltar a “Os Produtores”? O que esse personagem significa pra você?
Sandro Christopher — Voltar a Os Produtores, é voltar a um período muito feliz e difícil da minha vida. Foi o último espetáculo que minha mãe me viu fazendo. Na temporada do Rio, ela já estava doente, e eu, muito assoberbado, fazendo a peça, ensaiando e começando a gravar “Capitu”, com o Luiz Fernando Carvalho. Depois de “Capitu”, ainda emendei uma novela. Nesse ínterim, ela faleceu. O trabalho me deu forças para aguentar o baque da perda. E foi a primeira vez que eu e Miguel dividimos o palco. A montagem atual, eu vejo como uma grande celebração. Temos a Danielle Winits, que era a Ulla original, e não pôde fazer porque engravidou, e é uma amiga mais que amada, e o [Marco] Luque, que é um príncipe talentoso.
Miguel Arcanjo Prado — Como é a parceria em cena com o Mauricio Xavier? Vocês são amigos na vida real?
Sandro Christopher — Maurício é um gênio e um dos melhores partners que eu já tive na vida. A gente só precisa trocar olhares para adivinhar o que o outro está pensando. Ele nunca deixa a peteca cair. Amo muito! Amigo pra sempre.
Miguel Arcanjo Prado — O Miguel Falabella representa o que em sua carreira?
Sandro Christopher — Miguel é um amigo de mais de 30 anos. Só fomos trabalhar juntos,nos últimos 13 anos. Mas temos uma cumplicidade imensa no palco e na vida. Dividimos o mesmo amor pela palavra, pela música, pelo palco, pela memória — ah,nossas lembranças… —, e,acima de tudo, reverenciamos quem nos guiou ao lugar que ocupamos hoje. Ele me deu, e dá, tantas oportunidades de trabalho, desde que eu voltei para o Brasil. Ele me deu o Dauro de “A Lua Me Disse”, onde eu fazia uma parceria maravilhosa com Aracy Balabanian, me deu o D. João VI de “Império”, onde minha Carlota era a genia Stella Miranda, me deu o Duran de “A Vida Alheia”, com Marília Pera e Claudia Jimenez, e me presenteou com uma tournée da “Gaiola das Loucas”, onde eu era a Zazá do Georges dele. Precisa falar mais? Fora a nossa amizade de anos, cheia de respeito, consideração e amor.
Miguel Arcanjo Prado — Como é a reação do público a este seu trabalho em “Os Produtores”? É igual ou diferente do que houve em 2007?
Sandro Christopher — Cada público é um público. Na nossa versão atual, acredito que conseguimos trazer o humor do Mel Brooks, que é tão próximo da nossa revista, da nossa chanchada, para o público brasileiro, sem perder o tom. É uma linha tênue, que eu gosto de pensar que não cruzamos. Mas quando cruzamos, cruzamos com categoria.
Miguel Arcanjo Prado — Por que “Os Produtores” é um musical tão especial?
Sandro Christopher — Esse é um musical especial, porque é um grande divertissement. Ele é tão próximo à nossa revista, à nossa chanchada, que não tem como não evocar as “entidades” de Zé Trindade, Violeta Ferraz, Oscarito, Grande Otelo, Dercy, Consuelo Leandro. Meu Roger tem muito do Renato Ronei, da Consuelo e da Dercy. Acima de tudo, o musical é um acerto, por ser politicamente incorreto, ao mesmo tempo em que critica os estereótipos. Faço sem medo, sem pudor, sem vergonha. Como a gente fazia humor há um tempo atrás.
Miguel Arcanjo Prado — O que você sente quando está em cena?
Sandro Christopher — Cansaço! [risos] Verdade. Cansaço e muito prazer. Falo pro Miguel, que essa é a versão “Cocoon” d’”Os Produtores”. Estamos 11 anos mais velhos, e o tempo é implacável. Só nós dois, somamos quase 100 anos de palco! Ele vai me matar quando ler isso! [risos] Mas, a gente se ama tanto em cena, que não dá pra não ter muito prazer. Tem gente experiente, gente jovem, toda a mistura que nos dá prazer de estar em cena durante essas quase 3 horas.