Polícia acha que ator negro é assaltante e atira: racismo não terá fim?
O ator Leno Sacramento, de 42 anos, levou um disparo na perna feito por um agente da Polícia Civil da Bahia que o confundiu com um assaltante nesta quarta (13), em Salvador.
Leno andava de bicicleta na orla da Barra, bairro icônico da capital baiana, quando foi alvo baleado por um policial que o confundiu com um bandido.
Leno é artista do Bando de Teatro Olodum, um dos mais importantes grupos teatrais do país e que já revelou talentos como Lázaro Ramos. Ironia da vida, ele faz a peça “En(cruz)ilhada”, um monólogo no qual apresenta ao público justamente do racismo estrutural na sociedade brasileira que, entre outras coisas, torna negros vítimas da violência policial.
O ator foi abordado por agentes da polícia civil que estavam à paisana e à procura de assaltantes que tinham roubado uma senhora no centro soteropolitano, no largo do Campo Grande.
Os policiais passaram em uma viatura em baixa velocidade e atiraram no ator. Procurando um ladrão que teria fugido de bicicleta, logo que viram Leno, acharam, erroneamente, que ele seria o criminoso.
Por sorte, o tiro da polícia atingiu a perna do ator. Assustado com o disparo, Leno gritou que não era ladrão. Mais uma ironia da vida: logo após o tiro, um dos policiais reconheceu Leno, com quem já havia jogado futebol.
Ao perceberem o desastre, os próprios policiais socorreram o artista e o levaram ao Hospital Geral do Estado da Bahia, onde ele foi atendido. Lá, médicos constataram que a bala atravessou a panturrilha do ator e, felizmente, não pegou nenhum osso.
Depois, o ator foi prestar queixa na 1ª Delegacia, no bairro do Barris. Como a perna voltou a sangrar, foi levado ao Hospital Português, de onde depois teve alta.
Ele foi acompanhado o tempo todo por Márcio Meirelles, diretor do Bando de Teatro Olodum e ex-secretário da Cultura na Bahia.
A comunicação da Polícia Civil da Bahia afirmou que a Corregedoria da Polícia Civil vai apurar se houve excesso na ação de seus agentes.
Ao ser questionado na saída da delegacia pela imprensa baiana se acha que o tiro que levou foi fruto de racismo, o ator respondeu à reportagem: “Você acha o quê?”.
Em nota publicada nesta quinta (14), o Bando de Teatro Olodum diz: “Isso não pode ficar impune. A responsabilidade é de todos”.
Em uma sociedade como a brasileira, em que o racismo é estrutural e institucional, como comprovado mais uma vez pelo caso do ator Leno Sacramento, fica a urgência da resposta à questão: o racismo no Brasil não terá fim?
“Música de bandido”
É preciso lembrar que há alguns dias o cantor sertanejo César Menotti disse no programa “Altas Horas” na Globo que “samba é música de bandido”, em uma declaração infeliz e de origem racista. Não bastasse, a piada foi motivo de riso farto na atração, inclusive do apresentador Serginho Groisman.
Falas como essa só ajudam a corroborar o pensamento racista estrutural e institucional brasileiro que faz um ator como Leno Sacramento ser vítima de um tiro pelo simples fato de ser negro, o que ainda é visto por brasileiros racistas como sinônimo de bandido.
Ator negro espancado em SP
Em novembro de 2017, o ator Diogo Cintra também foi confundido com bandido pelos seguranças de um terminal de ônibus em São Paulo e entregue pelos agentes para ser espancado pelos bandidos.