Não me calarei, diz ator negro baleado ao ser confundido com bandido
O ator baiano Leno Sacramento, de 42 anos, que levou um tiro da Polícia Civil da Bahia nesta quarta (13) ao ser confundido com um bandido, se manifestou de forma breve sobre o episódio em sua página na rede social Instagram.
“Meus, meus!… Leno Sacramento presente, vivo… Eu já estou bem fisicamente, mas não psicologicamente, agradeço pela força, carinho, energia, enfim… Peço desculpas hoje por estar muito emocionado e não falar tudo que preciso falar… Mas não se preocupem, não me calarei, não nos calaremos, ah!, a bala não foi de raspão e quando eles pediram para parar, paramos”.
Leno Sacramento é ator do Bando de Teatro Olodum, um dos grupos teatrais mais importantes do Brasil e que revelou nomes como Lázaro Ramos, além de ter inspirado a série da Globo e filme “Ó Paí Ó”, nome de uma das peças de sucesso da companhia teatral baiana. O ator vem recebendo manifestações de apoio de gente de todo o país.
O Bando de Teatro Olodum publicou nota de repúdio à ação da Polícia Civil na Bahia contra seu ator, na qual diz: “Quantos jovens negros são vitimados diariamente desta mesma forma? Precisamos falar sobre isso. E a responsabilidade é de todos os órgãos que trabalham com Segurança Pública […] Isso não pode ficar impune, e a responsabilidade é de todos”.
A nota foi compartilhada pelo ator Lázaro Ramos em sua página no Instagram.
Leno Sacramento passeava de bicicleta pela orla da Barra, em Salvador, quando policiais civis dispararam contra ele, porque acharam, erroneamente, que ele seria um bandido que estavam procurando.
Ao sair da delegacia, onde prestou queixa, a imprensa baiana perguntou ao ator se a ação desastrada da polícia teria sido motivada pelo racismo. Sem condições de dar mais declarações, o ator apenas retrucou à reportagem: “Você acha o quê?”.
Leno Sacramento atualmente faz a peça “En(cruz)ilhada”, na qual fala justamente do racismo estrutural e institucional de nossa sociedade, que torna a população negra vítima da violência social e do Estado cotidianamente.
O Blog do Arcanjo no UOL apurou que a peça tem sessões marcadas para 6 e 7 de julho, às 20h, no Teatro Vila Velha, em Salvador, quando atingirá o marco de estar um ano em cartaz com sucesso e filas na bilheteria. Por sua contundência, a montagem já é considerada um dos marcos do recente teatro baiano.
Leia também: Polícia acha que ator negro é bandido e atira: racismo não terá fim?