Crítica: Vigoroso, Peter Pan é um dos melhores musicais já feitos no Brasil
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
“Peter Pan – O Musical da Broadway” ✪✪✪✪✪
Avaliação: Ótimo
Muitas vezes, certas pessoas do teatro parecem sentir uma culpa enorme em proporcionar entretenimento ao público, como se o fato de o espectador poder fugir de sua triste realidade e mergulhar em uma fantasia sentando em uma poltrona teatral fosse algo errado.
O mundo adulto nos mostra a cada instante que ser sisudo não é sinônimo de felicidade. Basta ver as crianças e sua espontaneidade que traz riso farto para se dar conta disso.
Ou, assistir ao espetáculo “Peter Pan – O Musical da Broadway”, que encerra temporada neste domingo (15), no Teatro Alfa — é um pecado que a montagem não permaneça mais tempo em cartaz, pelo menos até o final das férias escolares de julho.
Conforme faz seu personagem-título, o próprio espetáculo subverte o excesso de racionalismo enfadonho para fazer mergulhar sem culpa seus espectadores em um mar de emoções fantásticas.
E consegue.
Parte disso, evidentemente, deve-se ao elenco vigoroso, completamente entregue à magia da história e que não duvida dela um segundo sequer.
Dá gosto de ver o ator protagonista fazer Peter Pan. O jovem Mateus Ribeiro ganha novo patamar como artista com este personagem, demonstrando não só domínio técnico corporal e vocal — ele canta, soberano, enquanto voa pelo palco —, como também traz atuação segura, com uma composição impecável de personagem.
Ribeiro faz referências fartas ao melhor do humor cearense, mostrando que o artista catarinense sabe valorizar a terra em que foi criado, Fortaleza, e ressignificá-la em uma superprodução paulistana.
Daniel Boaventura, como Capitão Gancho, também conquista o público, fazendo uma versão debochada do personagem, rompendo a todo instante com a quarta parede e comunicando-se de forma direta com o espectador, desvelando o teatro ali presente sem, contudo, tirar sua magia. Coisa de ator seguro, com estrada farta que lhe permite ousar sem perder o tom.
Outra performance impressionante é de Pedro Navarro. Como o braço direito de Gancho, o frenético Smee, Navarro rouba a cena a cada entrada, divertindo e conquistando o público, mas com um recado potente de respeito à diversidade como pano de fundo para seu divertido personagem.
Karina Mathias, como Wendy, também é uma grata revelação neste cada vez mais povoado, e disputado, mundo dos musicais: a atriz canta de forma impressionante, sem descuidar de sua performance no campo da atuação, com presença segura e vibrante, o que a credencia a tornar-se uma grande estrela do gênero.
Mariana Amaral, por sua vez, imprime doçura à sua Sininho, transportando o coração do público para o mundo no qual fadas existem e não são mortas por nosso desacreditar, enquanto que Carol Botelho dá força feminina tão atual à sua índia guerreira Tiger Lilly.
O restante do elenco, que já passou ou permanece na produção, merece a menção de seus nomes, já que o conjunto é impecável.
São eles Bianca Tadini, Maria Netto, Gabriel Cordeiro, Murilo Martins, Henry Gaspar, Luís Prudêncio, André Dias, Carol Botelho, Diego Martins, Bernardo Berro, Patrick Amstalden, Bruno Boer, Matheus Paiva, Vinicius Teixeira, Giselle Lima, Felipe Guadanuci, Mariana Montenegro, Giu Mallen, Thaís Piza, Gabriel Quirino, Gustavo Della, Lucas Nunes, Marco Azevedo, Renan Mattos, Vanessa Costa, Vittor Fernando, Dante Arruda e Gabriela Camisotti.
A produtora Renata Borges, a Touché Entretenimento e a produtora de elenco Maria Netto conseguiram reunir um time coeso não só no palco, como em todas as áreas.
José Possi Neto mais uma vez se consagra como um diretor potente e propositivo, que não descuida dos mínimos detalhes, o que faz toda diferença para quem assiste.
Ainda é preciso ressaltar a inventiva coreografia de Alonso Barros, que exigiu o máximo de seus intérpretes, em criações incontestáveis no campo da dança. Mais que o costumeiro perambular de corpos comum a certos musicais preguiçosos, em “Peter Pan – O Musical da Broadway” os corpos estão atentos a cada instante, e se movem com limpeza evidente em cada milímetro de expressão dos artistas.
Carlos Bauzys faz direção musical segura, tanto dos músicos em arranjos que dialogam a todo instante com o que acontece no palco, quanto do elenco, todos com vozes trabalhadas e afinadas.
Bianca Tadini e Luciano Andrey conquistam mais uma vez a façanha de fazer uma versão que converse com o público brasileiro, particularizando o universal proposto por Peter Pan e sua turma. Estão cada vez melhor nesta difícil arte de nacionalizar com bem trabalhada versão uma grande obra estrangeira.
Merecem menção ainda Thanara Schonardie pelos criativos figurinos, e Renato Theobaldo e seu assistente Roberto Rolnik, por uma cenografia de peso que é valorizada a todo instante com a propositiva luz de Wagner Freire e José Possi Neto, repleta de nuances.
Sem culpa ou remorso de oferecer entretenimento da melhor qualidade, “Peter Pan – O Musical da Broadway” é um dos melhores e mais envolventes espetáculos do gênero musical já feitos no Brasil.
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
“Peter Pan – O Musical da Broadway” ✪✪✪✪✪
Avaliação: Ótimo