Peça clássica de Plínio Marcos ganha nova versão: Navalha na Carne Negra
Um clássico do teatro brasileiro com cinco décadas de diversas encenações ganha nova versão nos palcos a partir desta quinta (19), no Tusp, em São Paulo.
Como o nome diz, a peça “Navalha na Carne Negra” é feita com atores e diretor negros. Estes apresentam sua leitura para a peça escrita por Plínio Marcos (1935-1999), ícone do chamado “teatro marginal”, que buscava dar voz a seres marginalizados na sociedade ou “escória” social, como definiu o crítico Décio de Almeida Prado.
Desta vez, a prostituta Neusa Sueli, seu cafetão, Vado, e o camareiro e amigo gay, Veludo, são vividos, respectivamente, por três artistas exponentes do novo teatro negro no Brasil: Lucelia Sergio, da Cia Os Crespos (SP); Raphael Garcia, do Coletivo Negro (SP); e Rodrigo dos Santos, da Cia dos Comuns (RJ).
A direção fica por conta de José Fernando Peixoto de Azevedo, professor da Escola de Arte Dramática da USP, fundador do Teatro de Narradores e que recentemente fez o dramaturgismo da potente peça “Isto É um Negro?”.
Com esta somatória de trajetórias de pesquisa cênica negra, o grupo diz que deseja “friccionar ‘Navalha na Carne’ contra nossa própria pele – a realidade, a experiência e a pesquisa de uma atriz, dois atores e um diretor pretos, que vêm construindo suas trajetórias através de uma proposta estética que articule a presença preta na cena e na sociedade contemporâneas”.
Assim, eles afirmam ser mote central da encenação a marginalização do corpo preto na sociedade brasileira.
“Nessa ‘Navalha na Carne Negra’, as figuras em jogo não são apenas vítimas ou imagens de uma destituição absoluta, são sobretudo figuras em luta: em cena como na vida”, fala o grupo.
Assim como ocorreu na montagem recente de “Navalha na Carne” dirigida por Marcelo Drummond no Teat(r)o Oficina, esta nova versão também joga com a câmera e a tela em cena, oferecendo ao espectador múltiplos recortes e pontos de vista.
Em conversa com o Blog do Arcanjo no UOL, o ator Raphael Garcia diz ser “muito significativo” viver Veludo, personagem defendido por Emiliano Queiroz na primeira montagem em que Neusa foi Tonia Carrero e Vado, Nelson Xavier.
“Todo o contexto da obra me coloca em desafio e me deixa muito feliz”, afirma, ressaltando que trata-se de “uma montagem com abordagem negra, problematizando questões da esfera da nossa representação nas artes”, na qual dá vida a “uma personagem escrita nos anos 1960, em momento de necessárias discussões sobre representatividade”.
O diretor José Fernando Peixoto de Azevedo, por sua vez, lembra que a peça foi sugerida pelo ator Rodrigo dos Santos e a define como “uma cena-despacho”.
Ele explica: “A cena despacha: despacha violências que, encarnadas no jogo, pedem por interrupção; nesse espaço-tempo que é o centro de uma encruzilhada imaginada, despachamos demandas de cura e superação.”
“O que acontece quando a margem se põe em movimento?”, questiona o Azevedo.
“Talvez o mais importante desse encontro esteja em ver momentos de práticas do teatro negro na cidade de São Paulo, e não só, já que o Rodrigo vem do Rio, tendo lá trabalhado com o Hilton Cobra na Companhia dos Comuns. São práticas distintas na cena preta que ganham nova dimensão nesse encontro. E isso já sugere uma história recente desse teatro que pode então olhar para sua trajetória, discutir seus procedimentos, repensá-lo, sempre em chave coletiva”, conclui.
“Navalha na Carne Negra”
Quando: Estreia: 19/07/2018 – 21h; de quinta a sábado, 21h; domingos 19h. Até 12/8/2018
Onde: TUSP – Teatro da Universidade de São Paulo – Rua Maria Antônia, 294, Consolação (metrô Higienópolis Mackenzie)
Quanto: R$ 20,00 inteira e R$ 10,00 meia