Águas Selvagens integra Brasil, Argentina e Uruguai em filmagens no Paraná

Os atores Juan Manuel Tellategui e Mayana Neiva no set de Águas Selvagens – Foto: Chaparral Pictures/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo

Nos últimos dias, quem circula pelos chalés às margens de um charmoso lago na pequena cidade de Tijucas do Sul, nos arredores de Curitiba, percebe a movimentação intensa de técnicos e artistas de cinema no La Dolce Vita Hotel. O local abriga as filmagens do longa “Águas Selvagens”. Primeira coprodução entre Brasil e Argentina rodada no Paraná, o filme tem direção do argentino Roly Santos, com roteiro do também argentino Oscar Tabernise, autor do romance “El Muertito”, no qual se inspira a trama policial ambientada na Tríplice Fronteira, entre Brasil, Argentina e Paraguai.

Circulam por lá estrelas como o uruguaio Roberto Birindelli, as brasileiras Mayana Neiva, Leona Cavalli e Allana Lopes e os argentinos Juan Manuel Tellategui, Mausi Martínez, Mario Paz e Daniel Valenzuela, todos no elenco da produção orçada em R$ 3,2 milhões, divididos entre Brasil e Argentina e com previsão de lançamento em 2020. As filmagens até 15 de agosto ainda incluem Foz do Iguaçu, além de Missiones e Buenos Aires, na Argentina. O elenco também conta com o uruguaio Nestor Nuñez e os brasileiros Luiz Guilherme, Hélio Cícero, Giuly Biancato, Ed Canedo e Anastácia Custódio.

Todo falado em espanhol e com distribuição no Brasil pela Imagem Filmes e distribuição internacional, a produção é capitaneada no Brasil pela Laz Audiovisual, dos sócios Rubens Gennaro e Virginia Moraes — no lado argentino, a produção é da Cooperativa Romana Audiovisual, de Buenos Aires.

Produção experiente

Rubens Gennaro produziu longas como “Anita e Garibaldi” (2013), com Ana Paula Arósio e Gabriel Braga Nunes, e “Oriundi” (2000), estrelado pela lenda de Hollywood Anthony Quinn. “Desde essa época trocava figurinhas com profissionais do cinema da Argentina, até que três anos atrás o Oscar Tabernise, roteirista tarimbado consagrado na televisão da Argentina e do México, me entregou o roteiro de ‘Águas Selvagens’”, revela. “Fiquei impressionado com essa história que fala da fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, com todas as maravilhas naturais e problemas humanos. Para dar um toque especial, convidei o Arrigo Barnabé para fazer a trilha”, conta o produtor ao Blog do Arcanjo.

Para o produtor, o fato de o elenco estar reunido no La Dolce Vita traz uma atmosfera ideal para as filmagens. “Elenco e técnica têm o máximo conforto, além do clima felliniano do hotel, que homenageia o cinema em tudo. Tudo por aqui remete a Fellini. A senha do wi-fi é Mastroianni”, entrega. “Este filme é um manifesto da resistência cinematográfica latino-americana. Queremos ir para os festivais e fazer um grande lançamento comercial”, avisa.

Sócia de Gennaro, Virginia Moraes, que em São Paulo está à frente da Gullane — produtora de longas consagrados recentemente como “Bingo, O Rei das Manhãs” e “Como Nossos Pais” — fala do desafios enfrentados. “A coprodução, em si, não é o desafio. Produzir um grande filme, com baixo orçamento, na América Latina, e depois lograr distribuição condizente com a qualidade do filme, é o grande desafio”, aponta.

Ela revela que o projeto foi embalado por um desejo em comum. “Há muitos anos tínhamos a vontade de coproduzir com nossos hermanos argentinos. Em primeiro lugar, pelos nossos ideais comuns de latinoamericanidade e, com a mesma importância, porque tínhamos o desejo de rodar um filme com roteiro de Oscar Tato Tabernise, a quem admiramos muito. Isso se tornou possível com ‘Águas Selvagens’, um filme noir rural de fronteira”, define.

Virginia Moraes ainda elogia o clima nos bastidores. “Conhecendo o diretor, Roly Santos, que também é o coprodutor, eu já esperava por um set harmonioso e eficiente. Mas o resultado está me surpreendendo, pela comunhão de todos, num clima de amizade e profissionalismo bonito de se ver. Os atores hispânicos estão em sintonia com os brasileiros, e a troca cultural está criando exatamente o que o filme pede, que é essa mistura da fronteira”, avalia.

Os produtores chegaram a promover uma festa argentina em um dos intervalos de filmagens e, num domingo de folga, levaram o elenco para fazer o passeio do trem turístico da Serra Verde Express, indo de Curitiba a Morretes, onde todos deliciaram-se com o barreado, iguaria da gastronomia paranaense.

Policial protagonista

Protagonista do filme, como o policial investigador argentino Lucio Gualtieri, o ator uruguaio Roberto Birindelli, radicado no Brasil, elogia a integração. “É uma delícia trabalhar com esta trupe com tantos sotaques e idiossincrasias. Temos os atores argentinos Mario Paz, uma figuraça com quem já fiz novela, Mausi Martinez e Juan Manuel Telletegui, duas luzes e corações enormes. E do elenco brasileiro: Luiz Guilherme, que foi meu parceiro em ‘Poder Parlelo’ [novela da Record], Mayana Neiva, Allana Lopes e Leona Cavalli, com quem fiz ‘Apocalipse’ [novela da Record], entre outros. A produção é supercuidadosa, tanto com as locações, estrutura, catering, transporte. Mas, o mais importante num filme: é um baita roteiro e uma direção segura e generosa do Roly”, afirma.

Birindelli revela um pouco de seu personagem. “Ele aceita um trabalho para solucionar um crime cometido na Tríplice Fronteira. Como todo filme noir, os elementos vão sendo apresentados aos poucos e vamos descobrindo que nada, de fato, é o que parecia ser. Ele vai descobrir que há uma trama muito pior que o assassinato que veio desvendar e, quando o rumo das coisas sai de seu controle, terá de tomar duras decisões”, conta.

Elenco multinacional

O ator argentino Juan Manuel Tellategui reforça a comunhão no set de “Águas Selvagens”. “A experiência de participar de um filme em coprodução é uma experiência significativa, porque reúne profissionais de diferentes regiões e trajetórias distintas. O intercâmbio existe e a troca é muito interessante e diversa”, declara.

Sobre seu personagem, um funcionário do hotel no qual se passa o enredo do longa, dá preciosas pistas. “É um desafio de criar Fabian. É um personagem que aparece ao longo de toda a trama e vai tendo diferentes momentos. O desafio é criar esse percurso a partir das coisas que ele pensa e vai sentindo e que, de algumas maneiras, desencadeiam alguns acontecimentos fatais”, revela o ator, radicado no Brasil.

Set paradisíaco

Para a atriz brasileira Mayana Neiva, que fez recentemente a prostituta Leandra na novela “O Outro Lado do Paraíso”, na Globo, o clima no set é repleto de poesia. “Estamos em um lugar paradisíaco, parece que estamos suspensos no tempo”, fala a atriz. “Sou apaixonada pela América Latina e esses encontros me enriquecem muito. Sou entusiasta do cinema argentino e da maneira com que eles trabalham a atuação, a câmera, o entendimento do roteiro. Como todo ator brasileiro, sonhava trabalhar com eles. Então, é um sonho realizado, são atores inteligentes e potentes”, elogia.

Em Mayana emplaca sua quarta produção internacional falando espanhol. Ela está também na série da HBO Latina “El Hipnotizador”, na série da Netflix latina “Encerrados”, e no longa argentino “Clandestino”. “Falar espanhol é um desafio. Nos últimos anos tenho me aproximado muito do idioma nos meus trabalhos. Pratico meu espanhol fora do set ouvindo muita música, assistindo cinema argentino. Falar espanhol tem um prazer especial: além de comunicar com a América Latina, que é a espinha dorsal do planeta, com sua Cordilheira dos Andes, ainda temos a chance de alcançar várias pessoas em vários países do mundo que falam espanhol”, conclui a estrela de “Águas Selvagens”.

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O diretor argentino Roly Santos entre os atores Juan Manuel Tellategui e Mayana Neiva no set de Águas Selvagens – Foto: Chaparral Pictures/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo
Produtor de elenco de Águas Selvagens, Paulo Letier brinca com o boneco usado nas filmagens – Foto: Chaparral Pictures/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo
A atriz Allana Lopes e o ator Roberto Birindelli no set de Águas Selvagens – Foto: Chaparral Pictures/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo
O diretor Roly Santos e o ator Roberto Birindelli no set do filme Águas Selvagens – Foto: Chaparral Pictures/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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