Morre aos 84 anos João das Neves, nome histórico do teatro brasileiro
Morreu, nesta sexta (24), aos 84 anos, o diretor, ator, dramaturgo e escritor João das Neves, um dos nomes históricos do teatro brasileiro. Ele teve falência múltipla nos órgãos e morreu em casa, em Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte, cercado pela família e amigos mais íntimos. O artista deixa a mulher, a cantora Titane, e duas filhas.
O artista estava atualmente à frente do Grupo dos Dez, com o qual montou recentemente o musical “Madame Satã”, sucesso de público e de crítica em São Paulo e em turnê pelo Brasil, indicado a melhor musical de 2017 pelo Prêmio Aplauso Brasil.
Em 2015, sua trajetória artística e de vida foi tema de uma grande exposição no Itaú Cultural da avenida Paulista, a “Ocupação João das Neves”, também sucesso de público e de crítica.
João das Neves nasceu no Rio em 31 de janeiro de 1934. Ele foi fundador e diretor do histórico Grupo Opinião, ao lado de Ferreira Gullar e Vianinha, que montou em 1964 o marcante espetáculo “Opinião”, com Nara Leão, e, mais tarde, por indicação de Nara, substituída por Maria Bethânia, então uma jovem adolescente vinda do interior da Bahia para o Rio acompanhada do irmão Caetano Veloso.
João das Neves também foi nome pioneiro dos CPCs, os Centros Populares de Cultura da UNE (União Nacional de Estudantes), forte setor de resistência à ditadura militar na década de 1960.
Encenador aclamado em suas peças, recebeu os principais prêmios artísticos, como Molière, APCA, Bienal Internacional de São Paulo, Golfinho de Ouro e Quadrienal de Praga.
João das Neves sempre se preocupou em retirar o teatro do eixo Rio-São Paulo. Tanto que criou o Grupo Poronga no Acre e, nos últimos anos de sua vida, estava radicado em Minas Gerais, tendo em Belo Horizonte as bases de seu teatro.
Também dirigiu óperas e shows de grandes nomes da MPB, como Milton Nascimento, Chico Buarque e MPB4, Taiguara, Elomar e Titane, entre outros.
Com escritor, lançou peças e colaborou com revistas internacionais, como a Humboldt na Alemanha, além também de ter escrito para a publicação Palavra, de Belo Horizonte.
Fortemente ligado à cultura popular e à cultura negra, valorizou sempre as matrizes africanas em montagens como “A Santinha e os Congadeiros”, “Besouro, Cordão de Ouro”, “Galanga, Chico Rei” e “Zumbi”, esta última de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri com música de Edu Lobo.
Em 2015, dirigiu com Rodrigo Jerônimo “Madame Satã”, musical sobre a lendária figura negra carioca com o mineiro Grupo dos Dez.
O sucesso nacional de sua última montagem coroou a trajetória de um homem que fez um teatro fortemente ligado às raízes do povo brasileiro. E que jamais abriu mão delas.