Entrevista de 5ª com Eduardo Sterblitch: “O que é raso não me interessa”
Eduardo Sterblitch ficou famoso em todo o Brasil ao incorporar o irreverente Freddie Mercury Prateado no extinto humorístico televisivo “Pânico”. Contudo, ele é bem mais que o personagem que o alçou ao estrelato. “O que é raso não me interessa”, diz ele, em entrevista exclusiva ao Blog do Arcanjo no UOL, na qual fala sobre sua nova fase.
Depois de surpreender apresentadores de telejornais pelo Brasil afora ao divulgar seu novo espetáculo, ele está às vésperas de estrear na Globo nova temporada do “Amor e Sexo” e, nos cinemas, o filme “Chacrinha, O Velho Guerreiro”, no qual vive o icônico comunicador em sua fase jovem.
Após impressionante turnê por 50 cidades em 13 estados, ele está nos palcos de São Paulo com a peça “O Rei do Mundo” no Teatro Procópio Ferreira, todas as quintas de setembro, às 21h com ingresso a R$ 60 a inteira e R$ 30 a meia.
Leia também:
Conheça os novos nomes do teatro latino-americano
Claudia Raia cria cinema grátis para passar Chaplin
Nora de Gilberto Gil faz show cantando Xuxa
Durante a conversa, o ator falou não só sobre o espetáculo, como também lembrou nomes importantes de seu passado, falou de preconceito com nomes do humor e das oportunidades na TV e no cinema e ainda afirmou viver uma fase plena, na qual está fazendo o que gosta. “As pessoas se surpreendem, veem um Edu maravilhoso [risos], maravilhado e muito pleno, onde me sinto mais feliz”.
Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado – Você prega peça em apresentadores de telejornais quando vai divulgar a peça “O Rei do Mundo”. É combinado antes? Alguém já se estressou com isso?
Eduardo Sterblitch – Não é combinado antes, não [risos]. Eu sinto ali se é possível ou não fazer, sabe? Já dei entrevistas em outros jornais que não senti me à vontade para fazer, só faço quando sinto a liberdade. Ninguém nunca se estressou com isso, pois talvez eu tenha esse senso de tentar entender o ambiente [risos].
Miguel Arcanjo Prado – Nessa peça você trabalha com o Roberto Alvim e a Juliana Galdino, que são nomes premiados do teatro paulistano. Isso é porque você quer ser levado a sério dessa vez? Por quê?
Eduardo Sterblitch – Não, não. Eu nunca quero me levar a sério e, inclusive, nunca desejo que me levem a sério. O que eu levo a sério é minha função, minha profissão, pois a única coisa que eu sei fazer é isso. Então, não tem outro jeito mesmo, sabe? Eu preciso ter muito amor pelo que eu faço ou os Deuses do que eu faço não vão me dar moral. O convite na verdade foi do Roberto e da Ju, né? Que é do jeito que devem ser as coisas, pois eu pareceria um um fã se corresse atrás, com certeza… E talvez eu não ficaria tão confiante, e sem isso eu não trabalho muito bem – e na maioria das vezes eu não estou confiante – então é muito difícil, para mim, trabalhar bem [risos]. Quando veio a proposta deles me deu muito mais confiança e talvez esse tenha sido a única maneira de eu tentar apresentar algo diante de uma proposta tão bacana que é trabalhar com esses dois artistas tão especiais, interessantes e que ensinam muito. Eu sempre trabalhei com gente muito interessante. É que na verdade as pessoas conhecem muito pouco minha história, então agora, como político, vou dar uma falada [risadas].
Miguel Arcanjo Prado – Pode falar.
Eduardo Sterblitch – Eu faço teatro desde muito pequeno. Eu fiz teatro na Casa de Cultura Laura Alvim quando criança, com a Paloma e Cristina, duas professoras que tinham que ser muito boas para lidar com um monte de crianças hiperativas e criativas. Elas foram minhas mestras, muito boas e inclusive são preparadoras de elenco até hoje. Depois, trabalhei com vários mestres no Tablado, de pessoas que eu amo muito, como João Brandão, Bia Junqueira, Sura Berditchevsky… Ia a aulas do Bernardo Jablonski, ficava assistindo às aulas da minha tia Maria Vorris, que deu aula no tablado também. Meu padrinho no teatro é o Guti Fraga, que fundou o Nós do Morro, o Jorraine é meu amigo também – essas duas pessoas que trabalharam inclusive com minha tia. Eu sempre tive essas pessoas como referência, assim como uma dupla de palhaços da minha infância que era o Xuxu e Xuxuzinho, que inclusive levei eles no Jô [Soares] uma vez. Eles me ensinaram muita coisa de palhaço e talvez me deram o interesse principal em querer estar em cena e me apresentaram o humor. Depois veio o “Pânico”, no qual o Emílio Surita é um grande mestre e o próprio Tutinha é um cara muito interessante, me ensinaram muito sobre muitas coisas. E agora estou tendo a sorte de ter o Andrucha [Waddington], que, digamos assim, é o único cara no cinema que me dá moral. Então, tenho vários mestres. Na verdade, quero que eles me levem a sério, isso que me importa, para eu continue tendo a oportunidade de mostrar meu trabalho. Ser levado a sério ou não quem define é o público. Essa peça é uma tentativa de fazer algo que não seja o que as pessoas já sabem o que eu faço. Nunca quero entregar uma coisa que é o mais do mesmo meu. Como respeito muito minha função e profissão, faço questão de trabalhar o máximo possível e entregar uma coisa diferente e nova.
Miguel Arcanjo Prado – No elenco você tem ex-companheiros de Pânico, como o Diego Becker, que atualmente trabalha no programa da Catia Fonseca. Você acha que o fato de vocês terem trabalhado com humor popular desperta preconceito com suas figuras no meio teatral? Quer mudar isso?
Eduardo Sterblitch – Na verdade, eu acho que são pessoas preconceituosas, né? Existem pessoas [preconceituosas] na classe teatral, televisiva, na bancária, na classe de jornalistas; em todos os lugares têm pessoas preconceituosas. Eu não costumo trabalhar para esse tipo de pessoas. Eu não sou nenhum pouco preconceituoso, não sou quadrado – sou muito amoroso e muito honesto também. Faço questão de trabalhar para divertir, provocar, fazer amor em cena para os honestos, para as pessoas que são de bem e não para as pessoas rasas. O que é raso não me interessa, quero ser muito profundo e me aprofundar nas pessoas boas também, nas que valem a pena. Quem pensa desse jeito nem faço questão.
Miguel Arcanjo Prado – A peça já viajou muito? Por quantos lugares? Como tem sido a reação do público a esta proposta? Você surpreende quem te conhece do “Pânico”?
Eduardo Sterblitch – Muito mesmo! Fizemos 50 cidades, 13 estados. É muita coisa para um ano, e a gente não começou exatamente em janeiro e não acabou exatamente o ano, né? É realmente muita coisa! A reação do público é muito legal. Claro que tem muita gente que vai assistir achando que é uma coisa e encontra outra, mas é uma forma minha de provocar e estar fazendo algo diferente ali. A pessoa gostar ou não é outra coisa, não depende de mim, mas eu sempre quero propor algo diferente. A minha intenção é sempre tentar surpreender de alguma forma, pois as pessoas estão pagando para assistir e tem muita oferta. Eu estou tentando nesse caso trazer um Edu mais “raiz”, entendeu? Mais do teatro, que é o que sempre mais amei e amo fazer dentre todas as coisas que eu faço. É um lugar de experimento, estudo, amor. As pessoas se surpreendem, veem um Edu maravilhoso [risos], maravilhado e muito pleno, onde me sinto mais feliz.
Miguel Arcanjo Prado – Você está trabalhando com uma adaptação de um autor clássico, Ibsen. Por que essa escolha? O que você quer passar com ela?
Eduardo Sterblitch – Então, não fui eu que escolhi. Quem escolheu adaptar foi o Roberto. Ele fez uma livre adaptação. Da história original, criou uma outra história paralela, que tem ligação com a original, mas com referências de vários lugares e que faça sentido no Brasil do norte ao sul e todas as pessoas entenderem da mesma forma. Ele fez uma peça chamada “O Rei do Mundo” que é baseada na história desse anti-herói, nessa história egóica, sobre a tragédia, fracasso, sucesso pessoal. Ele quem fez essa escolha. O que eu quero passar com ele – como o texto e direção não são meus, sou apenas um artista da peça e realizador da produção – quero passar o máximo da história. Minha função como artista ali é comunicar o melhor do personagem, da história e só isso. É bom que eu fico menos estressado [risos].
Miguel Arcanjo Prado – Quais são seus projetos futuros na TV? Tem novidades no cinema e no teatro? Quais?
Eduardo Sterblitch – Bom, vai ter o “Amor e Sexo” agora no começo de outubro. O programa está mais legal ainda, está mais profundo. Tem o filme “Chacrinha: O Velho Guerreiro”, que estreia no cinema dia 25 de outubro. Começo a gravar também agora uma série que estou muito feliz. Estou desenvolvendo outras ideias, tenho minha nova peça para o ano que vem também. Estou muito feliz. Muitas coisas acontecendo, mas sempre vou deixar no ar, pois não vou ficar dando spoiler de mim mesmo.