Crítica: Eline Porto e Beto Sargentelli brilham em ‘Os Últimos 5 Anos’

Beto Sargentelli e Eline Porto brilham no musical intimista “Os Últimos 5 Anos”, que faz últimas sessões no Teatro Viradalata, em São Paulo, domingo, 21h30, e segunda, 21h, até 19/11 – Foto: Gustavo Arrais – Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

Musical de Jason Robert Brown está no Teatro Viradalata (r. Apinajés, 1387), em São Paulo, domingo, 21h30, e segunda, 21h, até 19/11, com entrada a R$ 50 e R$ 80; 80 min.

“Os Últimos 5 Anos”
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Avaliação: Muito Bom ✪✪✪✪

Ah, o amor. O seu surgimento mágico e o seu fim, muitas vezes imperceptível, mas irrevogável, segue sendo alguns dos grandes mistérios da humanidade. Experimentar o frenesi de seu aparecimento, com aquele palpitar de corações, e também sua inexorável despedida, com lenços à vontade, faz parte da vida.

Tais sentimentos, tão universais e únicos ao mesmo tempo, são condensados de forma formidável no musical “Os Últimos 5 Anos”, no Teatro Viradalata, em São Paulo, após sucesso em Nova York e também nos cinemas.

Como o nome diz, a montagem conta o desenrolar de uma relação de meia década entre um jovem casal de artistas. Ambos vivem em uma Nova York repleta de possibilidades e cruezas, remetida no simples e eficiente cenário de Lara Gutierres – tal qual a cruel São Paulo, para onde o texto se adapta de forma dedicada nas mãos de Rafael Oliveira, apesar de este crítico não enxergar real necessidade deste ‘abrasileiramento’.

Ele é um promissor escritor. Ela, uma atriz em crise com as dificuldades cruéis desta carreira.

Entre testes para bons personagens e somadas frustrações, Catherine é defendida com bravura por Eline Porto em um dos momentos de maior inspiração da atriz no palco. De um jeito doce, mas seguro até a última ponta de todos os fios de cabelo, Eline incorpora as agruras e as delícias de uma vida entre os tablados e o amor, ambos cada vez mais impossíveis. Ao incorporar a melancolia que paira sobre Cathy, Eline canta de forma assombrosa, afinada até a última sílaba, com uma voz que nos faz querer ouvi-la para todo o sempre, sem pestanejar. É uma das melhores atrizes-cantoras na atual cena musical brasileira e merece conquistar papéis de peso em grandes produções vindouras. Porque é ótima.

Beto Sargentelli, por sua vez, dá vida a Jamie, o jovem escritor que começa a colher os louros do sucesso veloz, o que o faz ficar cada vez mais seguro de si, enquanto que, proporcionalmente, derruba seu relacionamento com seu ego em riste. Beto também é ator com linda e precisa voz, e que evoluiu bastante no campo da atuação nos últimos anos, demonstrando real maturidade neste espetáculo, em seu tour de force cênico com o talento exuberante de Eline. É mérito do ator sua inquietude em evoluir e não se acomodar no já conquistado. Com certeza, seguirá cada vez melhor.

Beto Sargentelli e Eline Porto em cena do musical “Os Últimos 5 Anos”: dois talentos em uma história de um grande amor com ponto final – Foto: Victor Miranda – Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

Oferecer ao público um casal tão afinado nos palcos é o grande mérito da direção cuidadosa de João Fonseca — Beto e Eline também são os idealizadores da montagem, que também produzem ao lado de Lucas Mello, e formam um casal na vida real. Como o musical é contado por meio das canções interpretadas pela dupla, o esmero para que os mesmos impusessem às músicas nuances sentimentais é perceptível. Há um evidente trabalho de entrega dos artistas e de minuciosa lapidação por parte da direção, o que resulta em um musical que comove o público, embalado pela luz sentimental de Paulo César Medeiros e pela sutil movimentação dos artistas desenhada por Keila Bueno.

Outro mérito são as próprias músicas, uma mais bela que a outra e que passeiam por distintos gêneros, todas executadas com arranjos instrumentais e de voz sublimes sob comando de Thiago Gimenes pelos hábeis músicos Tiago Fusco, Tiago Saul e Leandro Tenório; que soam em impecável design de som de Tocko Michelazzo, mérito ainda maior para uma pequena produção.

Assim, mesmo que a engenhosa estrutura da dramaturgia épica negue o drama ao proibir que os artistas contracenem — cada qual canta sua música individualmente, presos em tempos-espaços opostos, ela começando pelo fim e ele, pelo início da relação, unindo-se ambos apenas no meio da montagem, quando acontece o casamento de seus personagens — é possível perceber a energia que unifica as atuações. É visível o estudo e o entendimento dos artistas sobre a própria obra, conferindo à mesma profundidade que vai além daquele raso romantismo típico de “Sessão da Tarde”.

E este é o achado do inspirado musical de Jason Robert Brown: ir além do óbvio e tratar de forma filosófica o amor, desvelando suas camadas de idas e vindas, desmistificando o “felizes para sempre” tão comum aos musicais. No palco de “Os Últimos 5 Anos” as coisas são bem mais complexas. Assim como em nossas vidas. Daí ser impossível não se identificar com a história de Cathy e Jamie e ficar com aquele nó na garganta ao recordar o grande amor perdido.

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Quando começa e termina o amor? Esta difícil pergunta é o cerne do espetáculo musical “Os Últimos 5 Anos”, com Eline Porto e Beto Sargentelli no Teatro Viradalata, em SP – Foto: Gustavo Arrais – Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

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