Crítica: ‘Chaplin, o Musical’ humaniza o mito com emoção e inteligência
Musical com a vida e obra do intérprete de Carlitos pode ser visto no Theatro Net São Paulo (Shopping Vila Olímpia: r. Olimpíadas, 360, 5º andar) até 25/11, quinta e sexta, 21h, sábado, 17h e 21h, e domingo, 18h, com entrada entre R$ 38,50 (meia) a R$ 150 (inteira); 140 min.
“Chaplin, o Musical”
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Avaliação: Muito Bom ✪✪✪✪
“Chaplin, o Musical” alia emoção e inteligência com um só propósito: recriar para o público contemporâneo a vida e a obra do mais genial comediante que o cinema conheceu, o inglês Charles Chaplin (1889-1977), criador do lendário personagem Carlitos e estrela de filmes clássicos como “O Vagabundo”, “O Garoto” e “O Grande Ditador”.
Exímio bailarino e demonstrando competência dramática, Jarbas Homem de Mello assume com propriedade as múltiplas nuances do difícil personagem, desde sua saída da infância até os últimos anos de vida, com um vigor cênico que já é um marco das produções musicais brasileiras.
De Christopher Curtis e Thomas Meehan, o musical tem versão brasileira acertada de Miguel Falabella, que deixa palatável e com pitadas de fina ironia todos os momentos da carreira do grande artistas e também confere o peso necessário aos seus embates políticos, quando, por exemplo, Chaplin foi acusado de “comunista” e precisou deixar os Estados Unidos praticamente escorraçado depois de tudo o que fez para o cinema norte-americano.
Era o artista que abraçava a indústria cultural com seu personagem afetivo e desajeitado, mas, sem querer abrir mão do seu poder de discurso próprio, o que fez dele uma figura histórica.
Tal trecho do espetáculo com a perseguição política sofrida por Chaplin ganha ressignificação diante do efervescente Brasil de embates políticos contemporâneos, tornando esta nova temporada ainda mais intensa.
Mariano Detry na direção mantém o numeroso elenco coeso e um palco movimentado e dinâmico, o que torna mais leve a longa duração do espetáculo dividido em dois atos.
Em diálogo intenso com o cinema, presente no palco, o espetáculo costura muito bem cenas dramáticas às pirotecnias necessárias a um grande musical. Contudo, o grande acerto é humanizar a figura de Chaplin, mostrando, inclusive, seus defeitos, sem deixar de explicitar o grande talento que ele foi e sua importância ímpar para a Sétima Arte. Quem disse que os gênios são perfeitos?
A nova temporada ainda contou com renovação no elenco a ser celebrada. Brilha em cena na atuação e quando usa sua potente voz a atriz Helga Nemeczyk, perfeita na pele da vilã da história, a ferrenha jornalista sem escrúpulos Hedda Hopper, perseguidora obstinada de Chaplin. Juan Alba, também novato no elenco, faz o irmão mais velho de Chaplin de forma potente e verossímil.
Outros destaques são Paulo Goulart Filho, como o bravo produtor hollywoodiano, e Myra Ruiz, que faz a última mulher de Chaplin, aquela que cuidou do artista em seus últimos anos de vida — a atriz também mostra serviço na primeira parte da peça como uma aguerrida integrante do coro, no qual se destaca ainda Carla Vázquez, sempre uma atriz que atrai o olhar do público para a sua intensidade cênica.
A cena final do musical, com Chaplin retornando triunfal para receber o Oscar especial por sua brilhante trajetória, o qual agarra com mãos já trêmulas, é de perder o fôlego e encher os olhos de lágrimas. Um espetáculo imperdível.