Crítica: Fito Páez levanta São Paulo com amor e rock
Cantor e compositor argentino Fito Páez faz um dos melhores shows do ano, repleto de antigos hits e novas canções, levantando o público no Teatro Bradesco, em São Paulo.
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Fito Páez em “Ciudad Liberada Tour”
Avaliação: Ótimo ✪✪✪✪✪
“São Paulo é como o mundo todo. No mundo um grande amor perdi. Mas, hoje ganhei um montão… Luis Alberto Spinetta me dizia sempre: ‘Amanhã será melhor’. Assim é”.
Foi com esse discurso amoroso, poético e sensivelmente político e roqueiro, com a engenhosidade de unir o brasileiro Caetano Veloso ao argentino Luis Alberto Spinetta — fazendo este crítico associar a frase de Spinetta recordada por Fito ao emblemático verso “Amanhã vai ser outro dia”, de Chico Buarque —, que o cantor e compositor argentino Fito Páez encerrou sua apresentação em São Paulo.
Um dos melhores shows internacionais do ano, o concerto ocorreu na última segunda (3), em um vibrante Teatro Bradesco.
O músico de 55 anos nascido em Rosário, um dos maiores nomes da história do rock argentino e latino-americano, começou cantando em português, acompanhado de seu piano, em “Vaca Profana”, de seu amigo Caetano. Um modo elegante de se aproximar da cultura e das pessoas do Brasil.
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Na sequência, já acompanhado por sua potente e jovem banda, cantou “La Ciudad Liberada”, música que dá título ao seu 29º disco, o mais recente, no qual protesta com poesia diante das mazelas contemporâneas de Buenos Aires, cidade com a qual vive uma relação repleta de amor e conflito desde que aportou na capital de seu país.
Os ares portenhos foram novamente evocados na reta final do show, em “El Diablo de Tu Corazon”: “Aprende de mim, que sou um garoto pobre de lá do interior…. Buenos Aires, sim, tira o diabo do seu coração, do meu coração”, diz a letra, que provocou uma espécie de exorcismo-roqueiro-catártico no público, liberado de energias más.
Afinal, o rock de Fito é feito de boas vibrações, não dando espaço à negatividade.
Com um repertório que transitou entre antigas e novas canções, Fito impôs uma energia descomunal, levantando o público das cadeiras, o que transformou a refinada e suntuosa sala teatral paulistana em uma espécie de jovem ginásio estudantil, com todos cantando e dançando rock’n’roll, sobretudo a partir de “Circo Beat”, seguida de hits como “A Rodar mi Vida” e “Mariposa Tecnicolor”.
O público, que vez ou outra gritava declarações de amor ao astro, foi convidado a cantar junto do artista em boa parte do show. E assim o fez, com gosto, como antes, na sequência que emendou as duas mais belas canções amorosas do repertório de Fito: “El Amor Desupés del Amor” e “Un Vestido e um Amor”, duas pérolas do disco “El Amor Después del Amor”, de 1992 o recordista de vendas da história do rock argentino.
À capela, já no bis, arrepiou os espectadores com “Yo Vengo a Ofrecer Mi Corazón”, cantada na beira do palco, instaurando clima intimista.
No show, Fito Páez demonstrou sabedoria ao defender seu rock cheio de esperança e de amor, mesmo em momentos complicados, como os que vivem Argentina e Brasil, países-espelho em sua visão. Porque “así és”.
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