Três artistas de destaque no Carnaval de BH 2019 fazem balanço da folia
O Carnaval de Belo Horizonte 2019 foi efervescente e marcado por uma forte politização, sobretudo nos blocos de rua. O Blog do Arcanjo no UOL, que acompanhou a festa mineira de perto no CarnaUOL, pediu a três artistas que foram destaque nos últimos dias para fazerem um balanço deste Carnaval. Com a palavra, o cantor Marcos Sandália e Meia, do bloco Tchanzinho Zona Norte, Lira Ribas, atriz e regente do bloco Corte Devassa, e o bailarino Eduardo Moreira, dos blocos Então Brilha e Chama o Síndico.
“Em 2019, a relação entre Carnaval e política sai bastante fortalecida. É de se admirar a naturalidade com que pautas, demandas e insatisfações tornaram-se públicas em gritos, cantos e fantasias – especialmente contra o governo federal, práticas de abuso e discriminação. Isso mostra como qualquer tentativa de constrangimento a manifestações é arbitrária, vai contra o democrático direito à expressão e seria ótimo se os responsáveis pela segurança revissem metodologias, práticas e abordagens, tendo a diversidade e a pluralidade como tônica e não apenas a autoridade. Acredito que artistas, ativistas e defensores das ideias progressistas desempenharam um belo papel de resistência e o próximo passo é fazer com que suas narrativas alcancem mais pessoas, o ano todo.”
Marcos Sandália e Meia
cantor e vocalista do bloco Tchanzinho Zona Norte, que foi censurado pela PM no Carnaval de BH, fato que repercutiu nacionalmente
“O Carnaval de Belo Horizonte cresceu dentro de um posicionamento político. Ocupar o espaço público se tornou ato de resistência num tempo onde a rua estava sendo fechada aos interesses do povo. Aos poucos foram nascendo blocos dentro dos recortes e se tornaram espaço para dar voz a muitos grupos antes silenciados. Pular o Carnaval apenas se tornou pouco dentro do que esse movimento se propôs. Existe ainda a esquerda festiva? Existe. Mas já se consegue perceber quem faz do Carnaval esse ato político e resistente e quem faz da festa apenas um momento de lazer maquiado de movimento. A luta é intensa. Os corpos na rua são força visível. E esse ano foi da união das mulheres, negros e LGBTQI+s se posicionando de forma radical escancarando seus gritos nas ruas e avenidas (Salve, Mangueira!).Mesmo com a polícia ainda extrapolando em muitos momentos (o que não é novidade) e tentando impedir essa manifestação, o Carnaval de rua falou mais alto e mais do que nunca mostrou o lado que está.”
Lira Ribas
atriz e regente do bloco Corte Devassa, um dos mais belos do Carnaval de BH
“Este Carnaval foi o mais politizado entre os demais, e acredito que pelo fato de conseguirmos protestar com nossa cultura e em forma de festa. Conseguimos fazer a esquerda festiva acordar, e com certeza os que não acordaram se sentiram bem incomodados. O Carnaval foi um grande fortalecimento coletivo, das feministas, dos negros e LGBTQI+ que gritaram a uma só voz que respeito é pra todos, exigindo igualdade, mostrando que a minha pele é igual a qualquer outra e que não é não. A polícia fez um papel nada respeitoso com grande parte dos protestos ocorridos, mas o povo merece respeito e espaço e, além disso, não iremos nos calar, pois temos voz e viemos mostrar isso. Continuaremos lutando por cada direito, uma vez que essa luta é dever de todos nós, seja em prol da igualdade racial, da igualdade entre os LGBTQI+ ou pelo feminismo. Folia e luta combinam com certeza, pois as manifestações e protestos ficam mais leves, sem deixarem o empoderamento de lado. Além disso, podemos festejar protestando e, consequentemente, sermos cada vez mais felizes lutando.”
Eduardo Moreira
bailarino e “muso” dos blocos Chama o Síndico e Então Brilha no Carnaval de BH