‘Woody Allen carioca’, Domingos Oliveira foi farol de inteligência na arte
Domingos Oliveira, que morreu neste sábado (23), no Rio, aos 82 anos, foi um farol de inteligência no mundo artístico que influenciou variadas gerações de artistas.
Com uma obra cinematográfica e teatral obcecada pelas relações amorosas entre homens e mulheres, ele foi uma espécie de ‘Woody Allen carioca’.
O cineasta, roteirista, ator, poeta, diretor e dramaturgo deu variados cursos ao longo da vida, muitos deles frequentados por nomes que hoje fazem parte da elite cultural do país.
Neles, ensinava seus pupilos a pensarem, a questionarem tudo, a saírem de seus lugares de conforto, como deve fazer qualquer um que pretenda ser artista e ir além da celebridade oca dos tempos contemporâneos.
Apesar da formação em engenharia elétrica, Domingos Oliveira era um entusiasta, e sobretudo apaixonado, pelas ciências humanas.
Grandes mestres da filosofia, da sociologia, da psicologia e da comunicação de massas faziam sua cabeça; e ele, por consequência, fazia a de quem dele se aproximasse.
Artista desde os tempos de escola, jamais deixou de lado o teatro, sua grande paixão desde menino, nem mesmo quando o cinema e a televisão ocuparam espaços importantes em sua vida.
Seus filmes e peças abordaram, sobretudo, os conflitos entre o masculino e o feminino, na eterna guerra dos sexos povoada de amor e ódio, com fartas camadas de desejo.
Seu clássico é o apaixonado “Todas as Mulheres do Mundo”, filme de 1966 protagonizado por uma hipnotizante Leila Diniz, um dos grandes amores de sua vida, ao lado de Paulo José, em papel alter ego do próprio diretor.
O longa é o melhor tratado sobre o amor entre um homem e uma mulher já produzido no cinema nacional na opinião deste crítico.
Domingos também é responsável pela direção da peça que deu voz aos adolescentes na dramaturgia brasileira: “Confissões de Adolescente”, marco dos anos 1990 escrito por sua filha, Maria Mariana, que depois virou aclamada série de TV.
Outros momentos marcantes de sua trajetória mais recentes foram o filme “Amores”, de 1998, mais uma vez mergulhado nas relações amorosas, e “Separações’, de 2003, baseado em seu sucesso no teatro, já em parceria com seu grande amor mais recente, Priscilla Rozenbaum.
Em 2008, estreou “Confissões das Mulheres de 30”, texto que investigou as aflições das balzaquianas. Dois anos depois, fez sua peça autobiográfica “Do Fundo do Lago Escuro”, na qual interpretou sua avó.
Nos últimos meses, se dedicava com afinco à sua nova série para o Canal Brasil, “Confissões das Mulheres de 50”. Mais uma vez, obcecado pela figura feminina, já na idade madura. Afinal, as mulheres foram sua grande e constante paixão.