Com participação especial de Baby do Brasil e das Frenéticas, musical em cartaz em São Paulo tem elenco talentoso de cantores e bailarinos para contar a efervescência musical que foram os anos 1970, que se aproximam em muitos aspectos dos tempos em que vivemos.
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
“70? Década do Divino Maravilhoso – Doc. Musical”
Avaliação: Muito Bom ✪✪✪✪
Uma verdadeira epifania celebra aquela década de dores e amores que, sem dúvida, foi a mais rica em termos de experimentações musicais fabricantes de hits eternos: os anos 1970.
A década da paz e do amor é revivida de forma apoteótica no musical imperdível “70? Década do Divino Maravilho – Doc. Musical”, em cartaz no Theatro Net São Paulo, no shopping Vila Olímpia, de quinta a domingo [veja serviço completo ao fim desta crítica].
A superprodução com mais de duas centenas de canções conta com orquestra de dez músicos e elenco com 24 nomes talentosos, no qual são destaques as participações especiais — e repletas de carisma — de Baby do Brasil e das Frenéticas Dhu Moraes, Leiloca Neves e Sandra Pêra. Estas revivem no palco sua juventude e o auge de suas carreiras.
Frederico Reder e Marcos Nauer, dupla que já havia embarcado em um musical do gênero sobre os anos 1960 com participação de Wanderléa, repete a fórmula de forma mais acertada dessa vez.
Baby e Frenéticas abrem o camarim de 70? para o Blog do Arcanjo
Se Nauer demonstra farta pesquisa em seu abrangente roteiro musical, fazendo costuras inteligentes e propositivas às canções, a direção de Reder mostra-se segura e inventiva, capaz de criar efeitos no palco que impactam o público, além de imprimir sua assinatura à revisão histórica apresentada no palco.
Sabiamente, Reder a traz para o tempo presente de forma tocante — com a auxílio assertivo da direção residente de Cris Fraga e da assistência de direção de Luiza Castro. Daí o ponto de interrogação no título “70?” que nos faz refletir ao longo do espetáculo: estamos vendo o passado ou o presente?
A equipe criativa sob rédeas da produtora Maria Siman com apoio de Leo Delgado demonstra farta competência, a começar pela esmerada direção musical de Jules Vandystadt, com arranjos impecáveis dele e de Thiago Trajano, com banda, solistas e coros afinadíssimos.
Natália Lana abusa da faraônica cenografia, que transforma o palco ora em uma gigante televisão, ora em uma vitrola colossal, criando ambientações que ajudam a contar a história daquelas canções e de um tempo que passou, mas que parece tão presente.
E, nisso, conta com a cumplicidade da cenografia digital criada por Thiago Stauffer, projetada com auxílio de Carlos Dutra e Aldo Haroldo, informando o elo documental com o passado do que acontece no tablado.
Outros dois nomes se destacam também por apresentar trabalho impecável. Victor Maia, com coreografias e direção de movimento que exigem o máximo de seu bem ensaiado elenco, inclusive das veteranas estrelas no palco Baby e Frenéticas, serelepes ao subir e descer degraus.
A outra exuberância fica por conta dos figurinos nababescos de Bruno Perlatto, que traz o melhor do que a moda produziu nos anos 1970, deixando o elenco soberbamente belo em cena, no que conta com o visagismo impecável de Adriana Almeida.
Ainda é preciso ressaltar a luz propositiva de Césio Lima e Mariana Pitta e o som impecável lapidado por Talita Kuroda e Thiago Chaves.
Virtuosa, a banda em cena é capaz de apresentar incríveis versões de clássicos e merece ser nomeada: maestro Vagner Mayer no piano, Alex Fogaça na percussão, Carlos Augusto nas cordas, Cintia Nunes no violino, Evelyne Garcia no segundo piano e acordeon, Leo Bandeira na bateria, Renato Leite no contrabaixo, Thiago Faria no violoncelo, Thiago Souza nos reeds e Wili Fonseca no trompete.
Elenco diverso, talentoso e vibrante em cena
As participações de Baby do Brasil e das Frenéticas Dhu Moraes, Leiloca Neves e Sandra Pêra são realmente vibrantes. Elas parecem reviver suas juventudes eternas no palco, demonstrando coragem e frescor artístico ao aceitar o convite para integrar este musical, no qual misturam-se ao restante do elenco em parceria e admiração mútuas.
E o elenco, repleto de diversidade e talento, é o grande trunfo deste envolvente musical, devido ao primor técnico para o canto e a dança que possui. Não tem ninguém brincando de fazer em cima do palco, como costuma se repetir em certas produções. Todos apresentam postura altamente profissional, com presença cênica intensa.
Tauã Delmiro e Rodrigo Naice funcionam como uma boa dupla de humor em suas entradas que intermeiam os quadros musicais, demonstrando domínio do público e do tempo cômico.
Em seu time feminino, o musical tem cantoras cuja voz faz estremecer qualquer coração, caso de Rany Hilston, Camila Braunna, Erika Affonso, Débora Pinheiro e Rosana Chayin, por exemplo.
Um marcante dueto serve como exemplo da constante ponte que o musical faz com o hoje: “Black is Beautiful”, com Barbara Ferr e Leo Araújo, que enchem de lágrimas os olhos do público ao expor feriadas raciais ainda tão presentes — outro destaque que merece aplauso é a farta quantidade de artistas negros em cena, que fazem luzir o musical com a potência de suas matizes vocais.
O elenco ainda traz os igualmente enérgicos e competentes nomes: Amaury Soares, Amanda Döring, Bruno Boer, Diego Martins, Fernanda Biancamano, Larissa Landim, Laura Braga, Leandro Massaferri, Leilane Teles, Nando Motta, Pedro Navarro, Pedro Roldan, Rodrigo Morura e Rodrigo Serphan. Todos merecedores de fartos aplausos.
Diante de tanto talento, seja tanto no panorama musical histórico dos anos 1970 quanto nos artistas no palco, este crítico consegue compreender a evidente dificuldade de corte e edição que tiveram Frederico Reder e Marcos Nauer.
Isso dá ao musical uma longa duração — 180 minutos divididos em dois atos. Isso pede fôlego farto ao público para que possa desfrutar o profundo mergulho por estilos e matizes de uma década inesquecível e assustadoramente parecida com este duro tempo em que vivemos como nossos pais.
“70? Década do Divino Maravilhoso – Doc. Musical”
Theatro NET São Paulo (shopping Vila Olímpia, r. Olimpíadas, 360, CPTM Vila Olímpia, São Paulo). Quinta e sexta, 20h30, sábado, 17h e 21h, domingo, 17h. R$ 75 a R$ 220. Até 28/4/2019.