Piada deve fazer pensar, diz Bruno Mazzeo sobre ensinamento de Chico Anysio
Bruno Mazzeo acaba de estrear em São Paulo o espetáculo “5 X Comédia”, um clássico do humor dos anos 1990, quando foi visto por 450 mil pessoas e que está de volta para divertir o público.
Na montagem, está ao lado de outros comediantes de sua geração, cada um fazendo um monólogo hilariante: Debora Lamm, Fabiula Nasicimento, Katiuscia Canoro e Lucio Mauro Filho.
Com direção de Monique Gardenberg e Hamilton Vaz Pereira, a obra traz textos ferinos de Antonio Prata, Jô Bilac, Julia Spadaccini e Pedro Kosovski.
A temporada popular paulistana vai até 26 de maio, no Teatro Shopping Frei Caneca [veja serviço ao fim da entrevista].
O ator carioca de 42 anos, que é filho de Chico Anysio (1931-2012), um dos maiores humoristas da história, conversou com exclusividade com o Blog do Arcanjo.
Na entrevista, falou da volta do espetáculo, de sua atual situação na Globo, de como é interpretar o papel que foi do pai na “Escolinha do Professor Raimundo” e ainda disse como enxerga o presente e o futuro do humor.
Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado – Como é o jogo com os outros colegas em “5 X Comédia”? O que mudou em relação ao começo?
Bruno Mazzeo – É a melhor coxia que já tive. Apesar de estarmos sempre sozinhos em cena – são cinco monólogos – estamos sempre participando um da cena da outro. Assistindo da coxia, dando palpite, sugestão de “cacos”, vibrando… Isso desde os ensaios. Somos todos muito amigos, nos respeitamos e nos amamos muito. Com o tempo, ficamos mais íntimos ainda, piadas internas começam a surgir… e em cena acho que vamos aprimorando o texto, tirando gorduras, deixando só o filé. Hoje o espetáculo está melhor, mais redondo, do que na nossa última temporada aqui. Fora as novidades, como a chegada da Katiuscia [Canoro].
Miguel Arcanjo Prado – Você sente alguma diferença no público paulistano?
Bruno Mazzeo – Tenho tido a sorte de encontrar plateias incríveis Brasil afora. Um povo que gosta (e precisa!) se divertir. Em São Paulo não é diferente nesse sentido. Mas com o acréscimo de ser a maior cidade do país. Uma cidade que tem acesso a todos os tipos de expressões artísticas, uma cidade que pulsa, então acaba virando uma plateia que não embarca em qualquer coisa. Eu acho sempre uma responsabilidade maior me apresentar em São Paulo. Apesar de também me sentir em casa.
Miguel Arcanjo Prado – Artistas cariocas estão vindo cada vez mais fazer teatro em São Paulo. Por quê?
Bruno Mazzeo – O Rio está numa situação muito difícil, um estado quebrado, uma conta que chegou depois de anos e mais anos de desmando. Ao mesmo tempo, São Paulo continua efervescente. Uma cidade com as ruas ocupadas, movimentos artísticos pulsantes que sempre independeram de TV Globo e esse tipo de “glamour”. Enquanto no Rio teatros fecham a cada semana, em São Paulo se criam novas possibilidades. Estou morando por um tempo aqui e parece que estou em outro país.
Miguel Arcanjo Prado – Tem projetos na Globo?
Bruno Mazzeo – Começaremos na próxima semana a gravar nova temporada da Escolinha. E minha série “Filhos da Pátria” também começa agora a ter sua segunda temporada gravada, estreia no segundo semestre. Um trabalho que muito me orgulha. E preparando uma surpresinha pro Globoplay.
Miguel Arcanjo Prado – O sucesso da reedição da Escolinha comprova que seu pai sempre esteve certo quando dizia que ela não deveria ter acabado? Por quê?
Bruno Mazzeo – Sempre disse que não fazíamos um programa de humor, mas um programa de amor. A “Escolinha” toca no afetivo das pessoas, e acho que esse é o grande diferencial. Curioso que só percebi isso com clareza quando fizemos a primeira temporada. As pessoas vinham (e continuam vindo) falar comigo emocionadas. Muitos com lembranças afetivas do avô, do pai… se orgulhando em estar passando para os filhos – que nunca viram a versão original – como se fosse algo que acompanha a família há várias gerações. Isso é lindo. Que bom que estamos conseguindo nosso objetivo, que sempre foi homenagear e manter viva uma história importante da comedia brasileira. Eu mesmo, desde a Escolinha, depois de 20 anos de carreira, pela primeira vez estou sendo chamado na rua de “filho do Chico Anysio”.
Miguel Arcanjo Prado – O que de mais importante você aprendeu com seu pai?
Bruno Mazzeo – São tantas coisas, que se você me perguntar amanhã, a resposta já vai ser outra. Como estou aqui em meio a textos neste exato momento, enquanto paro pra e responder, acho que posso dizer que o respeito à comédia. Meu pai sempre levou a comedia (e, consequentemente, seu ofício) extremamente a sério. Dizia ser humorista, assim como um é taxista, outro é médico, outro marceneiro, professor… Defendia que o “sucesso é acidente de percurso”. Ele não gostava da piada pela piada. Sempre acreditou que a piada deve fazer pensar. E repetia sempre o ensinamento de Chaplin, de que “o humor pode ser tudo, até engraçado”.
Miguel Arcanjo Prado – Qual o futuro do humor na TV aberta em sua opinião? E na internet e no teatro?
Bruno Mazzeo – Realmente não sei te dizer com relação aos veículos porque tudo está mudando muito rápido, são novos mundos surgindo. Agora… a comédia, o humor, a sátira, o deboche… nos mais variados estilos e formatos… vão continuar existindo por aí. Seja num seriado cômico, seja num meme. Não existe arma que toque mais diretamente uma sociedade do que a comédia. E eu espero poder continuar dando minhas cutucadas por aí.
“5 X Comédia”
Quando: Sexta, 21h, sábado, 19h e 21h, domingo, 18h. 100 min. Até 26/5/2019.
Onde: Teatro Shopping Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, 7º andar, metrô Higienópolis-Mackenzie, São Paulo, tel. 11 3472-2229)
Quanto: R$ 15 (meia, setor B) a R$ 60 (inteira, setor A)
Classificação: 14 anos