Gustavo Ferreira, o incansável artista do Satyros no palco e nos bastidores
Gustavo Ferreira é do tipo incansável. Capaz de fazer mil coisas ao mesmo tempo, dos bastidores ao palco. Tanto que é ator, diretor e produtor.
Atualmente, brilha no tradicional palco do Teatro Anchieta no Sesc Consolação como o inescrupuloso síndico Alone na peça “Mississipi”, que comemora os 30 anos da Cia. de Teatro Os Satyros.
No ano passado, esteve na China com a peça “Cabaret Fucô”, representando o Brasil com o Satyros no Festival Internacional de Teatro de Wuzhen.
Seu atual personagem, que em “Mississipi” tem como obsessão exterminar pessoas em situação de rua na praça Roosevelt, centro paulistano, é um reflexo do ódio presente no Brasil atual.
“Estamos em comemoração dos 30 anos do Satyros em festa no Sesc Consolação. Fico emocionado em todas as apresentações. Alone é um grande presente do Ivam [Cabral] e Rodolfo [García Vázquez, autores da peça e fundadores do Satyros] pra mim. Difícil pra caramba, mas um grande presente”, define, em conversa exclusiva com o Blog do Arcanjo.
Ele ainda atuou na apresentação especial na última Virada Cultural da peça clássica do Satyros, “Os 120 dias de Sodoma”, inspirada em Marquês de Sade. “Depois de cinco temporadas nos últimos quatro anos, ‘120 dias’ continua a questionar e expurgar nossos sentimentos com o Brasil atual. Uma honra poder fazer a personagem que já foi do meu grande amigo Heitor Saraiva”, lembra.
O ator ainda está no processo criativo da adaptação desta peça para o cinema: “Vem aí o filme ‘Os 120 Dias de Sodoma’, estamos no começo de processo, com muitas ideias, o Satyros Cinema se fortalecendo com tudo”, vibra.
Se no palco coleciona elogios por sua criação intensa para o controverso vilão de “Mississipi”, nos bastidores ele também não para, atuando como diretor e produtor.
Seu grande trunfo é a Satyrianas, o gigante festival de artes do Satyros que movimenta a metrópole com 78 horas de arte. A previsão este ano, quando Gustavo completa dez anos à frente da coordenação geral do evento, é que ele aconteça nos dias 14, 15, 16 e 17 de novembro.
“Trabalho na produção da Satyrianas desde 2007 e sou coordenador geral desde 2009. Satyrianas ocupa quase que todos os meus dias do ano, seja com novas ideias, novos projetos ou a parte técnica. Brinco que todo ano gero um novo filhinho, uma nova Satyrianas. Meu maior aprendizado e meu maior agradecimento ao Ivam e Rodolfo”, afirma.
Desde 2010, Gustavo trabalha também como produtor cultural da SP Escola de Teatro, projeto do qual participa “desde o comecinho”. “Faz alguns anos que sou responsável pela Produção na sede Roosevelt. Trabalho diariamente com artistas incríveis. Você poder estar em contato com o teatro, com essa efervescência artística todos os dias, é incrível”, define.
Na direção, em parceria com Rodolfo García Vázquez, assina “Uma Canção de Amor”, a partir de textos de Jean Genet e com estreia prevista para final de junho. No elenco estão Roberto Francisco e Henrique Mello. “Roberto fez a lendária montagem de ‘O Balcão’, dirigida pelo argentino Victor García nos anos 1960, e tem mais de 50 anos de carreira. Ter a honra e oportunidade de dirigir ele junto com o Rodolfo é pra poucos, além de ser uma delícia ter o Henrique no elenco, um baita ator e grandissíssimo amigo”, conta.
Recentemente, Gustavo ainda dirigiu a peça “6 minutos”, que discutiu temas como feminicidio, depressão e política armamentista. A obra foi fruto da oficina que dá a jovens atores no Satyros. “Sempre amei dar aula, sou formado em licenciatura. É muito gratificante, mas também cansativo [risos]”.
Outra direção recente sua foi da peça “Helenas”, que focou na temática da mulher ao longo dos tempos. “Uma das maiores experiências como homem e cidadão que poderia ter. Meu maior respeito e admiração para todos que fizeram esse projeto continuar depois de dois anos em temporada”, fala.
Outro projeto de direção foi o show do cantor Bruno Mog que abriu a apresentação do Paralamas do Sucesso no começo do mês. “Foi minha primeira experiência com direção de um show de música. Eu e Bruno somos amigos há mais de 15 anos, isso ajuda muito. Ele é um baita cantor e compositor. Estamos embarcando e descobrindo tudo junto. E digo: está cada vez mais lindo!”, avisa.
E vem mais direção por aí: “Gaveta D’Água”, com texto de Nina Nóbile e atuação de Silvio Eduardo, com estreia prevista para julho. “Estamos reunindo uma equipe incrível para que seja um belo espetáculo”, avisa.
Outro espetáculo sob seu comando, dessa vez como diretor de produção, é um que celebrará a diva Phedra D. Córdoba, previsto para o segundo semestre.
“Minha mais nova alegria. Primeiro, por falar de Phedra, por resgatar e estar perto da minha grande amiga diva de novo. Segundo, por conta das pessoas que fazem parte do projeto, uma alegria sem tamanho. Vai ser lindo”, avisa.
Diante de tantos projetos, fica a pergunta: como Gustavo Ferreira dá conta? Ele responde:
“Como fazer tudo isso? Não sei. É muita coisa? [risos] Tenho uma eterna gratidão ao teatro, às artes e a tudo que me proporcionam. Amo trabalhar e amo ainda mais trabalhar com o que gosto”, fala.
“Ter as melhores e mais amadas pessoas do seu lado fazem toda a diferença. O Diego Ribeiro, por exemplo, está em quase todos – se não em todos – os projetos junto comigo… A mesma coisa com o Silvio Eduardo… As oportunidades que o Ivam e o Rodolfo me dão até hoje e ter eles como inspiração de workaholics, são a minha base para fazer e fazer”, conclui.