Jorge Drexler lembra que a Terra é redonda e defende educação pública

Jorge Drexler no show “Silente” – Foto: Bruno Alencastro – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

Uma percepção intensa e consciente da construção musical feita no tempo presente a partir da perfeita combinação entre o silêncio e o som.

Jorge Drexler é pura elegância e deleite musical em sua turnê “Silente”, que estreou em São Paulo nesta quinta (6) em um esgotado Teatro Bradesco, onde se repete nesta sexta (7).

A turnê “solito” do delicadamente engenhoso cantor e compositor uruguaio chegou à capital paulista após passar por Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, onde no dia seguinte a seu show, tocou ainda com Caetano Veloso no Circo Voador.

Depois dos shows paulistanos, o músico segue para o Paraná, onde se despede momentaneamente do Brasil neste sábado, no imponente Teatro Guaíra de Curitiba.

Após dois mergulhos intensos em numerosa e potente banda nas turnês dos últimos dois discos, “Bailar en la Cueva” e “Salvavidas de Hielo”, Drexler surge envolto em um sofisticado minimalismo proposto em “Silente”, com sua “guitarra y vos”, nesta turnê que é uma espécie de respiro necessário no conforto de pérolas de seu cancioneiro antes de partir para o próximo álbum, pela nova gravadora, Sony Music.

A direção de “Silente” é esplendorosa, com participação ativa de uma iluminação propositiva e um impecável design sonoro na construção da atmosfera necessária a este que já figura entre os melhores shows musicais apresentados no Brasil neste ano. Ao contrário da pirotecnia usual no mercado musical, ele prefere o aparentemente mínimo, sutil que é.

A despretensiosidade aparente na realidade é resultado de farta engenhosidade –com um backstage atentíssimo para que o público desfrute com a melhor qualidade possível do artista no palco. Tudo esta à serviço do desfrute sonoro limpo e de variadas matizes.

E, como propõe o título, o silêncio é peça fundamental na construção do som e, sobretudo, da poesia musical e textual drexleriana, que pode ser ao mesmo tempo delicada feito o voo de uma pluma e munida de uma ironia tão cortante quanto o vento invernal na rambla de Montevideo.

À sua forma, com seu jeito fofo de ser mordaz, o músico toca em temas caros ao Brasil contemporâneo, como quando defende a educação pública de qualidade, da qual afirma ser fruto, ou na obsessiva valorização da ciência, repetindo no palco experimento físico de Isaac Newton para produzir música ou evocando Galileu Galilei, reiterando que a Terra, comprovadamente, é redonda.

Tais falas arrancaram aplausos, e até gritos políticos efusivos do público paulistano, com fervor logo contido pelo artista, conclamando a todos a voltarem para a introspecção necessária ao aprecio de sua canção.

Fazendo de seu show uma “noite de asilo”, na qual a música é o que importa, Drexler foge das más energias que habitam o mundo lá fora.

Ciente de que o presente é construído e de que as leis da física garantem que “cada uno dá lo que recibe y luego uno recibe lo que dá”, Drexler estabelece seu diálogo concreto, intenso, real e, sobretudo, calcado no fluxo energético do presente.

Este escriba desconfia que, por isso mesmo, ele prefira conversas à distância no presente do Skype, rejeitando a troca postergada em áudios de Whatsapp. Drexler está coberto de razão.

“Silente”, de Jorge Drexler
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Avaliação: Ótimo ✪✪✪✪✪

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