“O Brasil precisa de Justiça”, diz Larissa Luz ao lançar Trovão em SP
Consagrada no teatro ao interpretar Elza Soares no musical “Elza”, em cartaz no Rio e que volta a São Paulo em 20 de junho no Teatro Sérgio Cardoso para curta temporada até 14 de julho, a cantora baiana Larissa Luz lança nesta quinta (13) seu novo disco “Trovão” na capital paulista com show na Casa Natura Musical, às 21h30.
“Trovão vem a partir da metáfora do som que reverbera, que ecoa, que bate forte, que chega de uma vez, não vem vindo aos poucos”, explica ela, em conversa exclusiva com o Blog do Arcanjo. “O trovão chega. É o símbolo de Iansã, que sou eu, é Xangô, que é Justiça, coisa que precisamos evocar hoje cada vez mais. O Brasil precisa de Justiça. É um som para bater no corpo e para que a gente faça dessa energia um poder transformador”, afirma.
Com experiência farta na música, que vão desde shows em shoppings e barzinhos de Salvador no começo da carreira passando pela vivência no mainstream quando foi vocalista do Araketu, entre 2007 e 2012, ela fez questão de fazer o primeiro show da nova turnê no Pelourinho.
“Estrear em Salvador foi massa. Tem um significado grande para mim estrear lá, porque é o meu lugar de origem e com toda uma história. E o Pelourinho é lugar carregado de história negra, foi incrível. As pessoas estavam numa energia de troca muito boa, diante do que estava propondo”, revela.
Ela agora espera o acolhimento do público paulistano, com o qual pretende se relacionar cada vez mais. Tanto que, por conta do show e do musical “Elza”, a artista radicada no Rio mudou-se temporariamente para a capital paulista.
“São Paulo é uma outra coisa, é um terreno que eu ainda estou conhecendo e adentrando aos poucos, mas eu já sinto uma conexão boa e acho que é só o começo. Tenho planos para cidade e sinto esse chamado paulistano”, adianta.
Larissa tem consciência de que sua carreira é fruto de uma trajetória construída degrau por degrau. “Sim, eu vejo minha carreira muito como uma construção, galando coisa a coisa, muito no sentido de construir uma coisa sólida e que tenha possibilidade de permanência. Sempre quis trabalhar com arte e cultura e meu objetivo sempre foi estar produzindo. E cada coisa me dá mais argumento, informação, conteúdo e força. Estou tentando aproveitar de cada processo ao máximo para crescer e alcançar lugares cada vez maiores não no sentido de fama e notoriedade, mas de construção”, diz.
Larissa Luz integra uma nova geração de artistas que renovaram e mudaram a identidade da música baiana, que sobretudo na década de 1990 esteve fortemente associada à axé music. Integram esse time de novíssimos baianos gente como ela, Luedji Luna, Xênia França e as bandas BaianaSystem, Àttoxxá, Baco Exu do Blues e Afrocidade.
“Eu acho que a internet deu uma boa facilitada para tudo que estivesse acontecendo hoje, descentralizou das grandes gravadoras e empresários. A fórmula do axé começou a se desgastar e as pessoas ficaram ávidas por outros assuntos, novas músicas, novos conteúdos. Aí surge essa nova música da Bahia. BaianaSystem é um grande divisor de águas, abriu muitas portas”, avalia. “E essa nova cena musical baiana é negra. Estamos retomando um lugar que sempre foi nosso”, completa.
Tal força foi sentida no último verão soteropolitano, onde esses novos nomes marcaram presença não só no som como em discursos de reintegração de posse na música baiana. “Eu acho que o verão foi incrível. A cada Carnaval vamos criando uma autonomia de se fazer presente, mostrando esse movimento cultural fervendo na Bahia. Foi muito importante essa tomada de rédeas das próprias histórias. Pessoas consumindo aquilo que a gente estava propondo, trios sem cordas”, comemora.
Para Larissa, tal mudança é irreversível. “Eu acho que já foi, a gente até demorou para perceber que aquele formato de Carnaval com cordas não é democrático, não é digno. É preciso ter consciência de que estamos vivendo um momento de conquista dentro da nossa vontade de emancipação, apesar de todo o retrocesso político atual. Artisticamente e politicamente não cabe mais Carnaval com corda”, fala.
Sobre ser Elza Soares no teatro, a cantora comemora a forte acolhida que teve do público e da crítica em todo o Brasil. E celebra quando acham que ela é filha da cantora carioca. “Mergulhei no que significa a vida dela. Sinto que foi e é um marco na minha carreira, porque fui atravessada, abri meu corpo e minha voz para a história dela e não saí ilesa. Sou hoje uma outra artista”, avalia.
E conta que ter a aprovação de Elza foi seu maior prêmio. “Ela curtiu. A ideia era que ela se sentisse representada, contemplada, queria se ver de uma forma direta. E ela se identificou. Disse que eu no palco sou muito ela”, celebra.
A artista, assim, vai conciliando música e teatro em uma equação que pretende elevar cada vez mais suas potências: “Não é fácil conciliar, às vezes quando não consigo desmarcar um show a Bia Ferreira me substitui no musical. É uma loucura total. No dia que fiz show na Virada em São Paulo, peguei avião e fui fazer o musical no Rio, mas é isso, é estar em movimento”.
Sobre ser da geração dos “novíssimos baianos”, ela avisa: “Somos novíssimos baianos e essa novíssima Bahia está em constante ascensão, conquistando cada vez mais espaço não só no Brasil como no mundo. Abriram as portas e olhares para a Bahia, de onde vai sair ainda mais coisa boa. Agora não tem mais freio”, conclui.
Larissa Luz – “Trovão”
Quando: Quinta (13/6/2019), 21h30
Onde: Casa Natura Musical (r. Artur de Azevedo, 213, Pinheiros, metrô Faria Lima, São Paulo, tel. 11 3031-4143)
Quanto: R$ 20 (meia, lote 1) a R$ 140 (camarote)
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