O momento histórico para o musical “Billy Elliot” aportar no Brasil não poderia ser mais apropriado, com suas crianças talentosas quebrando tabus no palco.
A superprodução vista por 8 milhões de pessoas ao redor do mundo encerra temporada paulistana neste domingo (30) e merece ser vista pelos amantes do teatro musical não só pelos números de canto e dança, mas, sobretudo, pela história de superação e quebra de preconceitos apresentada.
O musical com letras e libreto de Lee Hall e músicas de Elton Jhon lançado em 2005 no West End londrino, inspirado pelo filme de Stephen Daldry do ano 2000, abraça o discurso pela diversidade e o enfrentamento da ignorância — algo que anda sobrando no Brasil de hoje.
A obra conta a história do garoto britânico Billy, no contexto histórico da grande crise social enfrentada pela primeira ministra direitista Margareth Tatcher, chamada de a Dama de Ferro.
O garoto se descobre apaixonado pelo balé, mas precisa enfrentar a fúria de um pai e tio machistas para realizar seu sonho, encorajado por sua aguerrida professora de dança.
Se o filme do britânico Stephen Daldry já impressionou pela força dessa história, o musical vai na mesma verve.
O protagonista é vivido por três atores, Pedro Sousa, Richard Marques e Tiago Fernandes, em revezamento.
Este crítico viu a sessão com Tiago Fernandes, dono de um carisma cativante e seguro na defesa do papel-título.
Mas, o grande trunfo do elenco não só mirim quanto adulto é Felipe Costa. Na sessão vista por este crítico, ele esteve na pele de Michael, o melhor amigo de Billy, um garoto que gosta de se vestir de mulher nas horas vagas.
O número feito pelos dois garotos vestindo saias e sapateando enquanto cantam a canção “Expressing Yourself”, isso em um palco brilhante com as cores do arco-íris e na companhia do coro fantasiado de vestidos esvoaçantes, é a epifania insuperável desta superprodução.
Os senhores de ares sisudos na plateia se afundam na poltrona durante tal cena, o que a torna ainda melhor.
Aliás, o elenco infantil é o grande trunfo da montagem, todos frescos e intensos em seus personagens, fazendo os adultos terem de correr para alcançá-los. Alguns não conseguindo.
No time adulto, quem mais se destacam são Vanessa Costa, envolvente e segura como a professora de balé, Beto Sargentelli, que demonstra sua experiência técnica no gênero na construção do tio operário do protagonista. Sara Sarres, na pele da mãe morta do protagonista, também cumpre seu papel de forma sutil e cativante.
Entretanto, o grande entrave no elenco chama-se Carmo Dalla Vecchia. Com presença teatral insossa, ele não convence na pele do machista pai de Billy. Quando se esforça para tentar cantar, piora ainda mais a situação.
Apesar dos pesares, neste Brasil de ares conservadores e repletos de ânsia assassina para quem é “diferente” do dito “normal”, um musical que levanta uma discussão simples como “menino pode dançar balé, sim” já merece ser visto e aplaudido de forma efusiva.
E o fato de tal tema ainda precisar ser discutido não só socialmente quanto ainda ser assunto governamental só demonstra o quanto somos um país mergulhado no profundo poço do atraso.
“Billy Elliot – O Musical”
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Avaliação: Muito Bom ✪✪✪✪
Onde: Teatro Alfa (rua Bento Branco de Andrade Filho, 722 – Santo Amaro, São Paulo)
Quando: Sexta às 20h30; sábado às 15h e 20h; Domingo às 15h e 19h. 170 min c/ 20 min. de intervalo. Até 30/6/2019
Quanto: R$ 75 a R$ 310, em valores de inteira
Classificação: Livre
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