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Chaves, Um Tributo Musical mistura fãs da TV com os dos musicais no teatro

Elenco de “Chaves, Um Tributo Musical” que estreia sexta (23) no Teatro Opus, em SP – Foto: Rafael Beck/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

Promover no teatro o encontro entre dois públicos distintos, os ardorosos fãs da série “Chaves” e o público ávido por produções musicais, e ainda permitir que ambos se divirtam com inteligência é a premissa de trabalho do diretor geral Zé Henrique de Paula e da dramaturga e diretora musical Fernanda Maia em “Chaves, Um Tributo Musical”. A superprodução protagonizada por Mateus Ribeiro estreia nesta sexta (23), no Teatro Opus, em São Paulo.

Durante os frenéticos ensaios que beiram a estreia de um musical nacional do porte das superproduções vindas da Broadway, Zé Henrique e Fernanda conseguiram um respiro para conversar com exclusividade com o Blog do Arcanjo sobre este trabalho. Zé começa, explicando justamente esta simbiose que a plateia de “Chaves” vai promover.

“Em se tratando de musical, temos uma situação peculiar: ‘Chaves’ tem uma base de fãs enorme, gigante e que me surpreendeu. Eles conhecem detalhes como o número de pintinhas que ele tem na cara, mas não acho que sejam pessoas que necessariamente vejam teatro musical. Assim como em São Paulo tem uma base de fãs de musicais muito grande, que não são necessariamente gostam de ‘Chaves’. Então, vamos apresentar aos fãs de chaves um gênero teatral novo, que talvez desconheçam e possam gostar, e vamos apresentar aos fãs de musicais um material muito peculiar para se fazer um musical”, explica o diretor, empolgado com esse diálogo.

“Temos uma chance de fazer um encontro de dois públicos diferentes e fazer com que esses dois públicos se surpreendam e se divirtam. Tudo isso fazendo entretenimento aliado à inteligência, com sempre fazemos no Núcleo Experimental”, diz o diretor, lembrando seu grupo de pesquisa teatral localizado no número 637 da rua Barra Funda, em São Paulo.

Mateus Ribeiro (Chaves) e Carol Costa (Chiquinha) em “Chaves, Um Tributo Musical”, que estreia na sexta (23) no Teatro Opus em SP – Foto: Rafael Beck/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Questionado por que “Chaves” é um sucesso atemporal desde sua criação na década de 1970, Zé Henrique dá sua opinião: “Uma das razões do sucesso de ‘Chaves’ é o fato de o Roberto Bolãnos ter mesclado nos roteiros a comédia popular, simples, de acesso direto, muito pautada por um tipo de comédia ancestral, que existe desde a comédia romana, passando por Shakespeare, Molière, comedia della’arte, que é a comédia de erros, um clássico do humor; além disso tem também a comédia de caracteres, com os próprios personagens serem em si engraçados”, elucida, para, então, complementar.

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“Mas o grande golpe de mestre do Bolaños é ter escrito um protagonista que vive em uma situação social completamente diferente dos outros personagens da Vila, e isso faz com que esse personagem possa ter momentos líricos, pungentes, delicados, e também momentos muito sérios. Quando todo mundo pergunta ‘o que você tem’, ‘por que você fez isso’, e o Chaves responde ‘porque eu estou com fome’, a gente acessa um outro nível de construção e dramaturgia. Isso Bolaños fez de maneira brilhante. Estamos tentando fazer jus a essa característica ao fazer este musical”, afirma.

Zé Henrique de Paula e Fernanda Maia: criadores de “Chaves, Um Tributo Musical”, feita a partir da alma de palhaço de Roberto Bolaños – Foto: Bob Sousa – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Para isso, Zé Henrique convocou sua fiel companheira de trabalho, a musicista e dramaturga de delicada escrita Fernanda Maia, com quem fez o sucesso de público e crítica o acústico “Urinal, o Musical”, no pequeno Teatro do Núcleo Experimental, na Barra Funda. Fernanda é responsável não só pelo texto de “Chaves, Um Tributo Musical” como também pela direção musical, que une a trilha da série a composições feitas por ela.

“A gente fica mais confortável com coisas menores, porque quando trabalhamos com acústico você consegue trabalhar mais em cima do resultado, mais parecido com o que ensaiou, porque o som nem sempre se comporta do jeito que você gostaria. Agora, quando tem essa direção maior, como em ‘Chaves’, tem uma outra variável que entra no últimos dias, que é o projeto sonoro, mas tenho o João Baracho, um design de som em quem confio”, diz ela, em meio aos ajustes finais.

Mas, logo foca no aspecto positivo da grandiosidade do musical. “Algo interessante nas coisas grandes é trabalhar com bastantes instrumentos, no ‘Cometa’ [o espetáculo musical ‘Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812’, feito também em parceria com Zé Henrique de Paula], eu toquei. Fazer banda grande, tocar junto é muito bom. Quando eu toco nos espetáculos, eu me divirto bastante”, conta, satisfeita.

Parte do elenco original da série mexicana “Chaves”: sucesso atemporal – Foto: Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

No processo de escrita da dramaturgia, Fernanda Maia revela que buscou homenagear o lado palhaço de Bolaños. “Ele é um grande palhaço, um grande criador de histórias ingênuas que conversam muito com esse universo”. E revela que musicou um poema que o artista mexicano fez para sua mulher, Florinda Meza. “São sentimentos de um homem doce, que via o mundo pela doçura, ele queria um olhar doce e compreensivo para o mundo e o ser humano, um olhar acolhedor para o humano, e eu quis escrever sobre isso”, explica.

Nas “cinco ou seis músicas” originais que Fernanda compôs — “não contei direito”, desculpa-se —, ela buscou chegar próximo da alma do criador da série, que morreu em 2014 aos 85 anos. “As canções falam da mágica que acontece quando a criança vê o palhaço pela primeira vez, tem aquele êxtase estético que existe no circo, no palhaço, no ator. Acho que é entender um criador que tem sua obra, a sua criatura, mas que foi uma pessoa dedicada à arte de ser palhaço. E a peça fala um pouco disso”, diz.

Para Fernada, “Chaves” apresenta “uma perspectiva real do ser humano, com suas limitações e defeitos”. “Não existe um personagem idealizado, os personagens se assumem como são, pessoas muito cheias de defeitos, impaciências, pequenas invejas e raivas. Mas, existe um substrato de afeto que une essas pessoas, uma pavimentação amorosa. Quando o Chaves aceita essas pessoas, ele está aceitado o ser humano com suas limitações, defeitos e fragilidades típicas da condição humana”, conclui.

Roberto Bolaños como “Chaves”: alma genuína de um grande palhaço – Foto: Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

E é por aí que vai a teoria que faz sobre o sucesso de “Chaves”: “Existe algo de imponderável aí, existe um mistério, uma coisa muito rara, viver uma obra que está sendo feita há tanto tempo, o mundo mudou muito, e esses programas sobrevivem e atraem as pessoas. Chaves é de um tempo mais lento que o tempo de hoje, o humor é mais ingênuo, os recursos são mais rudimentares de câmera, imagem, tudo. Numa época de TV tela plana, cinema 3D, ainda tem criança assistindo um programa da década de 1970, com tempo e imagem diferente, som diferente”, lembra, antes de continuar.

“Eu acho que o que atrai muito, não sei, fico pensando, cada hora fico pensando uma coisa, é que o ‘Chaves’, e o Bolaños quando o escreve, descreve sentimentos reais, de gente real, e não de gente idealizada. Não tem uma princesa, um príncipe, um herói. São pessoas comuns do lado da sua casa, e todos eles estão cheios de defeitos, às vezes muito agressivos até, mas todos eles buscando amor, um jeito de serem queridos e amados”, finaliza.

Chaves, Um Tributo Musical
Teatro Opus (av. das Nações Unidas, 4777, Alto de Pinheiros, São Paulo, SP). Sexta, 21h, sábado, 16h e 20h, domingo, 15h e 19h. R$ 37,50 a R$ 140. 120 min. Livre. Até 15/9/2019.

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