Gilberto Gil é ovacionado em BH ao assistir pela 1ª vez Gil do Grupo Corpo

Gilberto Gil – Foto: Gerard Giaume/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Foi uma entrada triunfal. Assim que Gilberto Gil apontou na gigantesca plateia de mais de 1.700 lugares do Palácio das Artes, na noite desta quinta (29), para assistir ao espetáculo que leva seu nome, “Gil”, do Grupo Corpo, de Belo Horizonte, o público se colocou de pé para aplaudi-lo com efusão. Encabulado, Gil agradeceu o carinho dos mineiros.

O baiano mergulha em uma relação intensa com a capital mineira neste fim de semana, provando que Minas combina com Bahia, como diz a música “Minas com Bahia”, de Chico Amaral, cantada por Samuel Rosa e Daniela Mercury.

Além de ter assistido ao espetáculo de dança para o qual compôs trilha inédita, Gilberto Gil é a principal atração do Festival Sarará, neste sábado (31), na Esplanada do Mineirão. O evento ainda tem nomes como BaianaSystem, Djonga, Mano Brow, Legun, Iza, Baco Exu do Blues, Duda Beat, Pabllo Vittar, Letrux, Marina Lima e Silva. O Blog do Arcanjo vai acompanhar de perto o festival musical.

Sobre o Corpo, Gil diz que sabia da boa fama do grupo e sua “extraordinária repercussão não só no Brasil, mas no exterior”. Contudo, revela que conheceu o trabalho da companhia de dança mineira ao ser convidado para compor a trilha de seu novo espetáculo.

“Eu só fui conhecer propriamente o trabalho do Grupo Corpo muito recententemente, por conta até do convite para fazer a trilha”, explica Gil. “Então, tive vontade de ver mais vídeos e vi dois espetáculos ao vivo deles em Belo Horizonte, com trilha de Tom Zé e o Uakti, ambas muito interessantes em musica e mais ainda como dança, coreografias, expressão corporal, vigor dos dançarinos”, conta.

Alegria e preocupação

Gil diz ter ficado contente com o convite recebido de Paulo Pederneiras, o diretor artístico do Corpo. Apesar de haver composto uma trilha para dança ao lado de Carlinhos Brown, para o espetáculo “Z”, do Balé da Cidade de São Paulo, feita pela coreógrafa senegalesa Germaine Acogny em 1995, ele revela que ficou também temeroso com a convocatória do Corpo.

“Tinha certo receio, especialmente, depois que manifestaram o interesse em denominar essa peça ‘Gil’, dessem meu nome ao trabalho. Aí eu fiquei mais preocupado com essa questão”,confessa o compositor.

“Fiquei um pouco preocupado com isso: ter de dar conta de um trabalho que cobrisse tudo que é considerado a respeito do meu nome, fiquei um pouquinho [preocupado], mas eles me tranquilizaram no sentido de que todas as 40 e tantas peças que fizeram todas foram brotadas de trabalhos próprios específicos de artistas como Caetano, Milton, João Bosco, Uakti, Tom Zé, Ernesto Lecuona. E que alguns deles tiveram os nomes de seus criadores como título, isso me tranquilizou um pouco”, lembra Gil.

 

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60 horas de criação para 40 minutos de trilha

Para compor a trilha de 40 minutos, o baiano conta que foram cerca de dez sessões criativas com seis horas cada, “totalizando umas 60 horas de trabalho”, ao lado do filho Bem e da banda que o acompanha na atual turnê, “Ok Ok Ok”, em um processo de troca com o Grupo Corpo. “Foram me dando indicações, fazendo correções, aqui ali eu fui experimentando com os meninos que compuseram a trilha comigo”, recorda o processo criativo.

Nas pesquisas que fez sobre o Corpo, Gil percebeu que era recorrente nas coreografias uma divisão interna. “Nas observações de trilhas já dançadas por eles, fui vendo que cada trilha tinha pelo menos três ou quatro temas, partes ou conceitos”, diz.

Gilberto Gil posa com os irmãos Pederneiras e os bailarinos do Grupo Corpo, em Belo Horizonte, durante ensaios de “Gil”, coreografia que o homenageia – Foto: José Luiz Pederneiras – Divulgação Grupo Corpo – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

“Fiz a primeira parte baseada num choro instrumental, que eu vinha já compondo algum tempo, depois eu fiz uma balada, espécie de toada, com elementos de música camerística, com elementos que você podia encontrar na obra de Brahms, aquelas coisas assim entre clássico antigo, de orquestra antiga, e música moderna; depois eu fiz uma terceira parte livre, mas criada no estúdio, com os próprios músicos , de sugestões harmônicas e sonoras. E fiz a quarta parte baseada nas figuras geométricas, começando pelo círculo, passando pelo quartado, retângulo, triangulo e pentágono”, explica.

“A divisão em quatro de uma certa forma facilitou o atendimento a essa ideia de diversidade entres os movimentos, alternância entre movimentos mais densos e mais rítmicos e momentos mais suaves mais baladísticos, mas, de todo modo, ouvindo a trilha no final, percebo que ela tem muitos elementos do que caracteriza a minha dimensão rítmica, música da Bahia, influências da música afro-baiana”, reflete.

Ritmo de Xangô, geometria e poesia concreta

A introdução de alujá, ritmo de Xangô, seu orixá no candomblé, foi sugestão de sua mulher, Flora Gil, ele conta. Na visão de Gil, o ritmo logo de cara “deflagrou uma formação de uma série de células que são típicas de ritmos afro-baianos que estão espalhados pela trilha toda”. Já o fim, é uma proposta que deixou para o coreógrafo Pederneiras. Após passear pelas formas geométricas, ele propõe a sonoridade de “uma linha reta que imagina o próprio chão do palco”.

“Uma linha que se escorre pelo palco, e isso ficou como uma proposta para o Rodrigo [Pederneiras] resolver. A linha reta vem no final para reconciliar todas as dobras possíveis”, filosofa. Sobre o poema concreto que encerra a obra do Corpo, repleto de palavras de cinco letras, ele prefere deixar a imaginação livre do público para interpretá-lo como quiser. “É isso, um poema concreto. Deixa as pessoas ouvirem”, conclui.

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Nota do Colunista: Após estrear em São Paulo no começo do mês, “Gil”, do Grupo Corpo, segue em cartaz no Palácio das Artes até domingo (1º) em Belo Horizonte. Depois, a coreografia segue para o Rio, onde poderá ser vista entre 10 e 15 de setembro no Theatro Municipal. Depois, faz turnê internacional em outubro no Canadá e nos EUA, mas retorna ao Brasil em 2 e 3 de novembro no Teatro do Sesi em Porto Alegre. Saiba mais.

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