Musicais movimentam R$ 1 bilhão e geram quase 13 mil empregos por ano em SP
Mais de R$ 1 bilhão de reais e quase 13 mil empregos é o que gera por ano a indústria do teatro musical na cidade de São Paulo. Os números expressivos que atestam a força econômica desta atividade artística foram anunciados nesta segunda (23), no Teatro Opus, zona oeste da capital paulista, pela Sociedade Brasileira de Teatro Musical (SBTM). Os dados são resultado de uma extensa pesquisa inédita até então sobre o impacto econômico dos musicais, feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que estudou 28 espetáculos em cartaz na cidade de São Paulo em 2018 [conheça os principais dados da pesquisa].
As produções do teatro musical não movimentam só suas respectivas bilheterias e contratação de artistas e técnicos. As peças interferem no ganho de uma complexa cadeia econômica por elas alimentada. Esta malha de gente vai desde a faxineira do teatro, passando pelo pipoqueiro e vendedor de bala na porta, taxistas e motoristas de Uber que transportam o público, redes de hotéis, bares, restaurantes, empresas de transporte aéreo e terrestre, agências de viagens e o setor de serviços de um modo geral, todos fortemente impactados pelos musicais paulistanos.
O retorno sobre o investimento público no setor também é alto: cada R$ 1 investido por meio das leis de incentivo à cultura gera o retorno de praticamente o dobro: R$ 1,92. Isso faz dos musicais donos de um ótimo índice de alavancagem econômica, na casa de R$ 8,25, recolhendo cerca de R$ 131,3 milhões em impostos que abastecem os cofres públicos. Mesmo diante dessa movimentação, assim como outros setores da arte atualmente, os musicais e seus profissionais vêm sendo vítimas de afrontas e fake news que buscam colocar a opinião pública contra a classe artística de um modo geral.
Para Stephanie Mayorkis, presidente da Sociedade Brasileira de Teatro Musical, o setor enfrenta “um dos maiores desafios que o mercado dos espetáculos musicais já vivenciou desde que surgiu, há 20 anos”. E diz à Coluna Miguel Arcanjo no UOL que a SBTM é uma reação a isso. “Por esse motivo um grupo de produtores do segmento decidiu se unir para criação da Sociedade Brasileira de Teatro Musical”, explica. “Somos relevantes na cadeia produtiva da indústria criativa. Isso está comprovado em números. Queremos suscitar o debate com a opinião e o poder público, o caminho é o diálogo produtivo”, espera.
Responsável pela pesquisa “Impacto Econômico no Teatro Musical” na FGV, o economista Luiz Gustavo Barbosa lembra a grande quantidade de pessoas que buscam a capital paulista para assistir aos grandes espetáculos movimentam não só a indústria da economia criativa, como também o setor de turismo e de serviços, como bares e restaurantes, por exemplo. “R$131 milhões em tributos é um número significativo, dado que o setor arrecada R$ 68 milhões via Lei de Incentivo Federal. Esse retorno de resultados de tributos, sobre a renúncia fiscal, de quase R$2 milhões para R$1 milhão, é significativo”, ressalta.
Para Luiz Gustavo, o grande público precisa conhecer esses dados. “Existe muita desinformação sobre o setor cultural, de indústria criativa, até mesmo na classe [artística]. Pouco se conhece do mecanismo, da importância econômica de uma lei de incentivo como a Lei Rouanet que é bem concebida, obrigando a todos a se formalizar, teve uma série de externalidades importantes e que não está sendo considerada ou pensada na discussão pública”, avalia.
Por isso, na visão do economista, a pesquisa é “mais um tijolo para construção do alicerce desse setor que, acima de tudo, gera uma movimentação econômica significativa para o Brasil, Estados e municípios”.
Marisa Orth: “Nós não somos vagabundos”
Presente no Teatro Opus no momento do anúncio da pesquisa, a atriz Marisa Orth, protagonista de musicais como “Sunset Boulevard” e “A Família Addams”, comemora a ação. “Os números estão aí. É um super negócio [o teatro musical]. E como a gente faz para se articular?”, pontua. Marisa aproveita a conversa para fazer uma sugestão: “Eu gostaria de propor para a Sociedade Brasileira de Teatro Musical que tenhamos um representante jurídico. Estamos falando de economia, de artista. E a parte Legal? Ninguém aguenta ser caluniado e difamado. Precisamos nos defender”.
Marisa revela que, mesmo sendo artista com ampla e reconhecida trajetória de contribuição ao teatro, cinema e televisão, vem sendo atacada injustamente nas redes sociais. “Eu tenho certa visibilidade no Instagram, é um fronte! É gente de 20 anos de idade me xingando de ‘vagabunda’! ‘Acabou, vagabunda’. Chamo no direct e pergunto: ‘querida, você poderia sustentar essa sua acusação diante de um fórum público?’. A pessoa pede desculpa. No privado, muda-se a persona. Chega de tacarem pedra. Eu estou ligando, sim. Nós não somos vagabundos”, afirmou.
Alessandra Maestrini: “Cultura retorna mais dinheiro aos cofres públicos que setor automobilístico”
Outra atriz de renome presente no anúncio foi Alessandra Maestrini, protagonista de musicais com “New York, New York” e “O Som e a Sílaba”: “Estão querendo nos pintar como chupim. Eu lembro de pesquisas que mostravam que nós, do setor cultural, estamos na lanterna de recebermos os incentivos fiscais, enquanto o setor automobilístico está no topo. O retorno de real investido, da cultura para os cofres públicos é bem maior do que o setor automobilístico e geração de emprego em real investido também. Isso sendo levado politicamente, economicamente, diante da sociedade, pode causar uma resposta mais consciente de que somos a solução e não o problema”, pontuou. “Não somos respeitados como indústria, por isso querem nos tirar os investimentos”, acrescentou.
Daniel Boaventura: “Existe uma força de internet absurda que nos vilaniza; precisamos divulgar os números do teatro musical ao público”
Outro astro dos musicais, Daniel Boaventura, que fez superproduções como “My Fair Lady”, “A Família Addams” e “Peter Pan”, lembrou que há em curso uma campanha de difamação da classe artística feita por setores extremistas do campo político.
“Está ocorrendo uma marginalização, uma transformação do artista no vilão. Precisamos rever uma visão mercadológica da classe, pensando em algo viável. É importante reverter essa imagem. Existe uma força de internet absurda que nos vilaniza. Esse momento é de evidência numérica, mais importante do que se pensa. É o início de uma caminhada efetiva. Precisamos divulgar os números para o público, o senso comum”, pediu.
Leandro Luna: “Precisa haver união da classe artística, conhecimento é nossa arma”
Ator e produtor de espetáculos, Leandro Luna, que esteve em produções como “Aparecida”, “Pacto”, “Meu Amigo Charlie Brown” e “Priscilla, Rainha do Deserto”, lembra que o momento pede união da classe artística.
“É importante a conscientização não só de uma parte, mas de toda classe artística. Precisa haver uma união para que todos tenham conhecimento do que estamos falando, da relevância dos incentivos fiscais. Tudo isso impacta diretamente na economia, na geração de empregos. É um conhecimento básico que não se tinha, estamos levantando essa bandeira, conhecimento é a nossa arma”, declara.
“Sem a lei de incentivo o nosso setor não sobrevive. Tudo que é investido na cultura retorna ao governo através de impostos e empregos. É um setor poderoso que não pode morrer na praia”, conclui.
*Com reportagem de Michele Marreira.
Veja quem foi ao Teatro Opus em apoio ao teatro musical e seu forte impacto econômico