Crítica: Peça Galo Índio comove com ator que reflete sobre perda do pai
Não é nada fácil falar de perdas terríveis que sofremos. E a morte abrupta de um pai durante a infância, certamente é uma ferida profunda. E é justamente reviver essa dor no palco sob forma de catarse a missão do ator Rodolfo Amorim em seu monólogo Galo Índio.
Sob direção do sempre sensível Antônio Januzelli, o Janô — nome histórico do teatro que busca valorizar o ator e seus sentimentos em encenações profundas que abrem mão de qualquer parafernália —, Amorim se despe de seus sentimentos e revisita memórias profundas. Assim, acaba por traçar um elo entre a perda de seu progenitor e sua própria formação e amadurecimento enquanto artista, homem e pai.
A obra ainda traz uma direção de arte cuidadosa de Renato Bolelli Rebouças que se alia à delicada iluminação de Beto de Faria. Também estão no clima intimista que pede a obra a produção de Bruna Betito e a operação técnica de luz e som de Bruno Canabarro.
Sutil e profunda, a dramaturgia feita pelo próprio ator comove o espectador, que se identifica na humanidade daquele relato tão íntimo e que nos deixa sedentos por valorizar a simplicidade da vida e por nos reconciliarmos com aqueles que vieram antes de nós.
Afinal, como bem pontuou o poeta Renato Russo, na canção “Pais e Filhos”: “Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo. São crianças como você. E o que você vai ser quando você crescer?”.
Galo Índio
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Avaliação: Muito Bom ✪✪✪✪
Oficina Cultural Oswald de Andrade (r. Três Rios, 363, Bom Retiro, metrô Tiradentes, SP, tel. 11 3222-2662). Sexta, 20h, sábado, 18h. Até 26/10/2019. 60 min. 14 anos. GRÁTIS.