Festival Verão Sem Censura apresenta 45 atrações grátis em São Paulo

Cena da peça Roda Viva, do Teat(r)o Oficina, que será apresentada no Theatro Municipal no Festival Verão Sem Censura da Prefeitura de São Paulo com obras censuradas e perseguidas pelo governo Bolsonaro – Foto: Jennifer Glass – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Em São Paulo a cultura é livre. Esta é mensagem da Prefeitura de São Paulo com o Festival Verão Sem Censura, que abriga manifestações culturais que foram censuradas ou atacadas na esfera federal no último ano. Entre os dias 17 e 31 de janeiro, obras democráticas e livres se espalham pela cidade em mais de 45 atrações grátis, com shows, peças de teatro, exibições de cinema, exposições, debates, performances e, claro, Carnaval.

A programação tem peças censuradas como “Caranguejo Overdrive” e “Res Publica 2023”, shows de Arnaldo Antunes e Pussy Riot com Linn da Quebrada; apresentação do espetáculo Roda Vida, do Teat(r)o Oficina, no Theatro Municipal; exibição de “Bruna Surfistinha”, seguida de debate com a atriz Déborah Secco e a autora Raquel Pacheco, e sessão do filme “A Vida Invisível”; e bate-papo sobre a história de Carlos Marighella.

A abertura do evento, no dia 17, será realizada na Praça das Artes, com show de Arnaldo Antunes, que teve seu videoclipe censurado na TV recentemente. No mesmo dia, o Theatro Municipal recebe, na sacada, o DJ Rennan da Penha, funkeiro idealizador do Baile da Gaiola preso em março e libertado em novembro.

Deborah Secco no filme Bruna Surfistinha, que participa do Festival Verão Sem Censura em SP neste janeiro – Foto: Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Bruna Surfistinha e Daspu
No dia 18, a Praça das Artes promove também uma exibição de “Bruna Surfistinha”, de Marcus Baldini. O longa-metragem tem sessão seguida de debate com Raquel Pacheco, cuja autobiografia “O Doce Veneno do Escorpião” inspirou o filme, e a atriz Deborah Secco, que interpreta a ex-prostituta. Em julho, o presidente Jair Bolsonaro declarou que não poderia “admitir que, com dinheiro público, se façam filmes como o da Bruna Surfistinha”. Na sequência, acontece desfile de moda da Daspu, grife do movimento de prostitutas do Brasil criada por Gabriela Leite, e a festa LGBT Desculpa Qualquer Coisa com performance das Maravilhosas Corpo de Baile.

No dia 30, o Pussy Riot, banda punk rock feminista que teve integrantes condenadas à prisão na Rússia, em 2012, faz show com participação de Linn da Quebrada no Centro Cultural São Paulo (CCSP). No dia 29, a banda participa de debate com no mesmo espaço, após exibição do documentário “Act and Punishment”, de Yevgeni Mitta.

Divinas Divas: show no Municipal sob direção de Robson Catalunha em 29 de janeiro – Foto: Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Festas, Roda Viva e Divinas Divas no Municipal
A Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Theatro Municipal, é palco para festas no dia 31, começando com o Cortejo do bloco Espetacular Charanga do França, às 23h. Em seguida, a diversão continua com Tarado Ni Você, bloco de músicas de Caetano Veloso, e, por fim, a festa Minhoqueens.

O Theatro Municipal recebe o encerramento do Festival, com apresentação da peça “Roda Viva”, do Teatro Oficina, sob direção de Zé Celso, no dia 31. O espetáculo, escrito por Chico Buarque e com direção de José Celso Martinez, foi censurado durante a ditadura civil-militar brasileira. O espaço também é palco do show “Divinas Divas”, com mulheres trans que também sofreram atos de censura durante a carreira, sob direção de Robson Catalunha, no dia 29.

Na Biblioteca Mário de Andrade, a programação inclui as peças “O Caderno Rosa de Lori Lamby”, nos dias 18 e 19, e “Navalha na Carne Negra”, nos dias 24, 25 e 26; uma conversa sobre Marighella, com Mário Magalhães e Maria Marighella, no dia 29; o bate-papo “Uma Aula Sobre 1984”, com a historiadora Lilia Schwarcz, sobre o romance distópico de George Orwell, no dia 21; e o clube de leitura “Puñado lê Proibidas”, com trechos de autoras latino-americanas brancas e negras que foram censuradas.

Caranguejo Overdrive, da Aquela Companhia (RJ), terá sessões no CCSP no Festival Verão Sem Censura de São Paulo – Foto: Marcio Pimenta – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Peças Censuradas
A programação inclui diversos espetáculos censurados em 2019. No Centro Cultural São Paulo (CCSP), “Caranguejo Overdrive”, de Aquela Cia de Teatro, é exibido após ter a sua reestreia vetada no Rio de Janeiro. A peça foi consagrada com o Prêmio Shell 2016 de Melhor Direção para Marco André Nunes, Melhor Autor para Pedro Kosovski e Melhor Atriz para Carolina Virgüez. As sessões acontecem nos dias 17, 18 e 19.

Censurada pela FUNARTE, a peça “RES PUBLICA 2023” já foi acolhida pela Prefeitura em outubro, quando estreou no CCSP. Agora, o espetáculo do grupo A Motosserra Perfumada chega ao Centro Cultural da Juventude (CCJ), nos dias 22 e 23.

Maikon K, Elisabete Finger, Wagner Schwarz e Renata Carvalho estão em “Domínio Público”, que participa do Festival Verão Sem Censura em SP – Foto: Annelize Tozetto/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Também no CCJ, acontece a apresentação de “Domínio Público”, na qual os artistas Maikon K, Renata Carvalho e Wagner Schwartz, juntamente com Elisabete Finger, se juntam para uma reflexão a partir dos ataques sofridos em 2017.

A peça “Abrazo”, da companhia Clowns de Shakespeare, é apresentada nos dias 17, 18 e 19, no Centro Cultural Olido, após ter sido cancelada minutos antes de sua segunda sessão em Recife. O espetáculo infanto-juvenil é inspirado no “Livro dos Abraços”, de Eduardo Galeano, e conta a história de um local no qual abraços não são permitidos. Também no Olido, o espetáculo “Gritos”, da companhia Dos à Deux, é apresentado nos dias 17, 18 e 19. O motivo da censura teria sido a temática LBGT do espetáculo, que conta a história de uma travesti.

O escritor Ignácio de Loyola Brandão participa de debate sobre censura na Biblioteca Mário de Andrade no Festival Verão Sem Censura – Foto: Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Exposições
O CCSP apresenta, entre os dias 17 e 31, uma exposição com cartazes de filmes censurados, reconhecendo a importância dos cartazes para preservar a memória do cinema brasileiro – em dezembro, cartazes foram retirados das paredes da sede e do site da Ancine. Na Biblioteca Mário de Andrade, é possível conferir a exposição “Banidos”, com obras do acervo de livros raros censuradas na história literária. A abertura, no dia 17, conta com bate-papo com Ignácio de Loyola Brandão, romancista brasileiro autor de obras que foram censuradas na época da ditadura, e Laura Mattos, autora do recente Herói mutilado: Roque Santeiro e os bastidores da censura à TV na ditadura.

Fernanda Montenegro, grande atriz de 90 anos atacada pelo governo Bolsonaro: filme A Vida Invisível será exibido no Festival Verão Sem Censura – Foto: Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Cinema
No CCSP, é exibido o premiado “A Vida Invisível”, que representou o Brasil na corrida pelo Oscar. O longa-metragem de Karim Aïnouz seria exibido para os servidores da Ancine em dezembro, mas foi vetado pela direção do órgão, do qual o filme também teve os seus cartazes removidos das paredes. A sessão acontece dia 19, na Sala Lima Barreto. O espaço também apresenta uma Sessão de curtas LGBT, no dia 18. No dia 19, são exibidos os filmes “Bixa Travesty” e “Corpo Elétrico”, além de uma sessão de médias-metragens.

O Blog do Miguel Arcanjo mostra, a seguir, a programação completa e gratuita:

Festival Verão Sem Censura – 2020

Programação Gratuita

Praça das Artes
Av. São João, 281, Centro, metrô República, Anhangabaú ou São Bento

17/01
20h00 Arnaldo Antunes

18/01
21h30 Conversa com a Déborah Secco e Raquel Pacheco
22h00 Exibição do filme “Bruna Surfistinha”
00h00 Daspu – Desfile de abertura
00h30 Desculpa Qualquer Coisa com performance das Maravilhosas Corpo de Baile

Centro Cultural São Paulo
Rua Vergueiro, 1.000, metrô Vergueiro

17/01
21h Caranguejo Overdrive – Aquela Cia de Teatro

18/01
21h Caranguejo Overdrive – Aquela Cia de Teatro

19/01
15h A Vida Invisível – Sala Lima Barreto

17 a 31/01
Exposição com cartazes de filmes censurados

18/01 – Circuito Spcine
16h Sessão de curtas LGBT
Vando Vulgo Vendita
O Órfão
Preciso dizer que te amo
Reforma
Tea for two
Swinguerra

19 /01 – Circuito Spcine
15h Corpo Elétrico
17h Sessão de médias
Verona
Nova Dubai
19h Bixa Travesty

19/01
20h Caranguejo Overdrive – Aquela Cia de Teatro

29/01
19h Exibição do longa metragem “Act and Punishment” – Sala Paulo Emílio
21h30 Debate com integrantes

30/01
20h Pussy Riot com participação de Linn da Quebrada

Biblioteca Mário de Andrade
Rua da Consolação, 94, Centro, metrô República ou Anhangabaú

17/01 a 31/01
19h – Banidos – Obras censuradas no decorrer de três séculos fazem parte dessa exposição do acervo de raridades da Biblioteca Mário de Andrade. Incluem-se desde títulos como Comedia Eufrosina, de Jorge Ferreira de Vasconcellos, peça de teatro do século 16 censurada pela Igreja e incluída no Index de livros proibidos; chegando a Capitães da Areia, de Jorge Amado, incinerado em praça pública pelo Estado Novo, em 1937.

No dia da abertura, 17 de janeiro, 19h, bate-papo vai reunir Ignácio de Loyola Brandão, romancista brasileiro autor de obras que foram censuradas na época da ditadura; e Laura Mattos, autora do recente Herói mutilado: Roque Santeiro e os bastidores da censura à TV na ditadura. Moderação: Maria Fernanda Rodrigues

18 e 19/01
19h – O Caderno Rosa de Lori Lamby – Uma menina de oito anos escreve um diário com peripécias sexuais. Peça baseada em obra homônima de Hilda Hilst, na fronteira onde se encontram a irrealidade, o tabu, o desejo e a inocência da imaginação infantil. Iara Jamra vive o papel, com direção geral de Bete Coelho e direção de arte de Cassio Brasil.

21/01
19h – Cabaré da Fossa – Entre o humor e o drama, essa leitura homoerótica inclui também canções e cenas de filmes e ficará a cargo de Caetano Romão, Ismar Tirelli Neto e Ricardo Domeneck, com a especialíssima participação de Horácio Costa.

19h – Uma aula sobre 1984– O romance distópico de George Orwell, um dos livros que mais nos fizeram discutir sociedades totalitárias, acaba de completar 70 anos e será apresentado pela historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, autora do recente Sobre o autoritarismo.

23/01
19h – Erotismo censurado – Uma história de autores e obras malditos, de Sade a Hilda Hilst, será apresentada nesta aula de Eliane Robert Moraes, filósofa e ensaísta, uma das mais destacadas especialistas em literatura erótica e proscrita. Trechos escolhidos serão lidos pela atriz Helena Ignez.

24, 25 e 26/01
19h – Navalha na Carne Negra – A peça de 1967 foi vetada pela ditadura, e seu autor, Plínio Marcos, chegou a ter a integralidade de sua obra banida dos palcos. Em cena, tudo começa com o dinheiro deixado pela prostituta Neusa Sueli para seu cafetão Vado. Com Lucélia Sérgio, Raphael Garcia e Rodrigo dos Santos, e direção de José Fernando Peixoto de Azevedo.

25/01
das 10h às 13h, das 14h às 17h – Oficina de poesia sem censura, com Angélica Freitas – Neste laboratório, comandado pela poeta Angélica Freitas (Rilke Shake, 2007; Um útero é do tamanho de um punho, prêmio APCA 2012) os participantes utilizam o caderno como espaço de experimentação para aguçar suas habilidades poéticas. 20 vagas, oficina sequencial, das 10h às 13h, das 14h às 17h.

28/01
19h – Proibidas – A revista literária “Puñado”, editada por um coletivo de mulheres, vai fazer um clube de leitura especial, com trechos de autoras latino-americanas brancas e negras que foram censuradas, proibidas ou sofreram resistência, seja pelo teor político, seja pelo teor moral. Com Laura Del Rey e Raquel Dommarco Pedrão, organizadoras da Puñado, e as convidadas Hailey Kaas, Jéssica Balbino, Luciana Bento e Vanessa Ferrari.

29/01
19h – Marighella – Personagem da história política brasileira que enfrentou censura tanto em vida quanto após sua morte é o tema desse diálogo que reúne o escritor e jornalista Mário Magalhães, autor de sua biografia, e Maria Marighella, sua neta, que está à frente do relançamento de volume de escritos, Chamamento ao povo brasileiro. Moderação: Rodrigo Casarin.

30/01
19h – Mulheres nos anos de chumbo – As romancistas Claudia Lage e Maria Valéria Rezende e a historiadora Maria Claudia Badan Ribeiro conversam sobre a escrita ficcional e historiográfica que reconstitui a atuação feminina e a repressão de 1964 à reabertura política. Participação especial de Adelaide Ivánova, que apresentará duas performances. Mediação: Robson Viturino

30 e 31/01
19h – Calabar, o elogio da traição – Por uma década ficou censurada esta peça de teatro musicada de Chico Buarque e Ruy Guerra que recupera a figura de Domingos Fernandes Calabar, que tomou partido dos holandeses, contra a coroa portuguesa, durante a Insurreição Pernambucana. Esta adaptação para leitura dramática, com onze atores e três músicos, é assinada por Renata Palottini e é um projeto do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura, da ECA-USP. Direção de Roberto Ascar e direção musical de Jean Garfunkel.

Centro Cultural Olido
Av. São João, 473, Centro, metrô República

17, 18 e 19/01 – Sala Paissandu
18h Abrazo – Grupo Clowns de Shakespeare
17, 18 e 19/01 – Sala Olido
21h Gritos – Cia Dos à Deux

Centro Cultural da Diversidade
Rua Lopes Neto, 206 – Itaim Bibi, CPTM Cidade Jardim

18/01
21h A Mulher Monstro – S.E.M. Cia de Teatro

19/01
19h A Mulher Monstro – S.E.M. Cia de Teatro

25/01
21h Sombra – Teatro da Pomba Gira

26/01
19h Sombra – Teatro da Pomba Gira

Teatro Flávio Império
Rua Prof. Alves Pedroso, 600 – Cangaíba, CPTM Engenheiro Goulart

18/01
20h O Crime da Cabra – Cia do Sal

19/01
19h O Crime da Cabra- Cia do Sal

29/01
20h Lembro Todo dia de Você – Núcleo Experimental

30/01
20h Lembro Todo dia de Você – Núcleo Experimental

Vila Itororó
Rua Pedroso, 238 – Bela Vista, metrô São Joaquim

18 e 19/01
15h Blitz, o império que nunca dorme – Trupe Olho da Rua

25 e 26/01
20h Quando Quebra Queima – Coletiva Ocupação

Centro Cultural da Juventude
Av. Dep. Emílio Carlos, 3641 – Vila dos Andrades

17 e 18/01
20h Domínio Público

22/01
20h Res Pvblica 2023 – Grupo A Motosserra Perfumada

23/01
20h Res Pvblica 2023 – Grupo A Motosserra Perfumada

Centro de Culturas Negras
Rua Arsênio Tavolieri, 45, metrô Jabaquara

25 e 26/01
16h Macacos – Cia do Sal

Praça Ramos de Azevedo
Centro, s/nº- metrô Anhangabaú ou República

31/01
23h Cortejo com a Espetacular Charanga do França
00h Festa com Tarado Ni Você
01h Minhoqueens

Theatro Municipal de São Paulo
Praça Ramos de Azevedo, s/nº, metrô Anhangabaú ou República

17/01
23h Rennan da Penha (Sacada)

29/01
20h Divinas Divas

31/01
19h Roda Viva com Teat(r)o Oficina

22:30 Concentração da Espetacular Charanga do França (Na frente do Theatro)
23h Cortejo: Roda Viva e Espetacular Charanga do França

OBS.: Todas as apresentações de teatro serão seguidas de mediação.

PARCERIA

CASA 1
R. Adoniran Barbosa, 151, Bela Vista
17 a 31/01
Projeto Instituto Temporário de pesquisa sobre censura – um mergulho crítico sobre a trajetória da censura

O colunista Miguel Arcanjo entra em férias, retornando dia 27 de janeiro.

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