Após nove dias de 113 filmes vistos por um público de 37 mil pessoas, chegou ao fim no último sábado (1º) a 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes.
Veja fotos da 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes
Coordenadora comemora ter levado 37 mil ao cinema
A cerimônia no Cine-Tenda foi marcada pela pluralidade no palco, a começar do número de abertura com a cantora Josi Lopes.
Ao entoar junto de seu tambor mineiro a música “A Festa”, composta por Milena Torres e com acompanhamento de Barulhista, ela chamou a atenção para a apropriação da cultura negra por artistas brancos sem que negros sejam beneficiados com isso. Foi bastante aplaudida.
A importância das representatividades e das pautas identitárias estiveram presentes no palco durante toda a cerimônia, sobretudo nos discursos dos vencedores, entre os quais tinham artistas negros, mulheres, LGBTQIA+s e indígenas.
O filme cearense “Canto dos Ossos”, da dupla Petrus de Bairros e Jorge Polo, venceu como melhor longa-metragem da Mostra Aurora na 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes, escolhido pelo Júri Oficial, que o definiu assim: “Um filme pode nos dizer coisas pela metade, pode errar ou exagerar e, no entanto, pode, à sua maneira, revelar epifanias que nos oferecem o intempestivo cristal de um segmento de tempo, de gesto, de susto privilegiado”.
O Júri Popular escolheu como melhor longa o filme baiano “Até o Fim”, de Glenda Nicácio e Ary Rosa, e como melhor curta “A Parteira”, de Catarina Doolan, do Rio Grande do Norte.
O Prêmio Carlos Reichenbach, dado pelo Júri Jovem ao melhor longa da Mostra Olhos Livres, foi para “Yãmĩyhex – As Mulheres-espírito”, realizado em Minas Gerais com direção de Sueli Maxakali e Isael Maxakali. “Esse filme é importante para mostrar nossa realidade a vocês”, disse a diretora, que saudou a maior presença de profissionais indígenas no audiovisual brasileiro. O Júri Jovem destacou, no filme, “a delirante efervescência da terra, a estética do estar, um manifesto de atravessamentos”.
O Prêmio Helena Ignez 2020, oferecido pelo Júri Oficial a um destaque feminino em qualquer função nos filmes das mostras Aurora e Foco, foi entregue pelas mãos da própria atriz e diretora. A vencedora foi a diretora de fotografia Lílis Soares, que esteve em Tiradentes participando de três trabalhos: os curtas “Ilhas de calor”, na Mostra Jovem; “Minha história é outra”, na Mostra Foco; e o longa “Um dia com Jerusa”, na Mostra A Imaginação como Potência.
“O que ela tem feito, articulada em coletivos, como o Coletivo de Diretoras de Fotografia do Brasil, ao qual o júri estende sua homenagem, é um cinema que assume para si a responsabilidade de enfrentar não apenas uma disputa de narrativas, mas o agenciamento de uma sensibilidade preta”, destacou o Júri Oficial. No agradecimento, emocionada, Lílis, que é mulher negra, desejou um cinema brasileiro com mais mulheres e mais pessoas negras na criação.
Na Mostra Foco, o Júri escolheu o curta-metragem “Egum” (RJ), com direção de Yuri Costa. Para o júri, “na proposta de abordar a questão racial em sua dimensão sensível, encontramos um filme que se posiciona no âmbito do cinema de gênero, em busca de formas para as sensações de terror e desespero que com frequência atravessam o cotidiano dos corpos negros no Brasil”.
O Prêmio Canal Brasil de Curtas, que oferece R$ 15 mil a um curta também da Foco, foi para “Perifericu”, de Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira, que retrata o cotidiano de um grupo de amigas LGBT no Capão Redondo, bairro de periferia em São Paulo. “Esse filme fala muito sobre vida e é muito bonito poder celebrar essa vida aqui hoje”, destacou Rosa. “Ele fala de existência além da simples sobrevivência. Ao mesmo tempo, é muito triste porque a gente não quer mais ser exceção, queremos ser a regra”. Nos agradecimentos, a equipe falou que foi vítima de preconceito durante a estadia em Tiradentes, mas reiterou que vai continuar ocupando todos os espaços possíveis.
CONFIRA OS PREMIADOS DA 23ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES
– Melhor longa-metragem Júri Popular: Até o Fim (BA), de Glenda Nicário e Ary Rosa.
Troféu Barroco;
Da Mistika: R$ 20 mil em serviços de finalização
Da Dot: Master DCP para longa até 120 minutos.
– Melhor curta-metragem Júri Popular: A Parteira (RN), de Catarina Doolan.
Troféu Barroco;
Da Ciario: R$ 5 mil em locação de equipamentos de iluminação, acessórios e maquinaria da Naymar;
Do CTav: 20 horas de mixagem e empréstimo de câmera por duas semanas;
Da Mistika: R$ 6 mil em serviços de finalização
– Melhor curta-metragem pelo Júri Oficial, Mostra Foco: Egum (RJ), de Yuri Costa.
Troféu Barroco;
Da Ciario: R$ 5 mil em locação de equipamentos de iluminação, acessórios e maquinaria da Naymar;
Do CTav: 20 horas de mixagem e empréstimo de câmera por duas semanas;
Da DOT Cine: duas diárias de correção de cor e máster DCP para curta de até 20 minutos;
– Melhor longa-metragem pelo Júri Jovem, da Mostra Olhos Livres, Prêmio Carlos Reichenbach: Yãmĩyhex – As Mulheres-espírito (MG), de Sueli Maxakali e Isael Maxakali.
Troféu Barroco;
Da Ciario: R$ 10 mil em locação de equipamentos de iluminação, acessórios e maquinaria da Naymar;
Da Cinecolor: 5 diárias de correção de cor;
Da Dotcine: máster DCP para longa de até 120 minutos
– Melhor longa-metragem da Mostra Aurora, pelo Júri Oficial: Canto dos Ossos (RJ), de Jorge Polo e Petrus de Bairros.
Troféu Barroco;
Da End Post: R$ 40 mil em serviços de pós produção (laboratório digital, sync, dailies, conform, correção de cor, animação, composição, 3D e masterização);
Da Ciario: R$ 10 mil em locação de equipamentos de iluminação, acessórios e maquinaria da Naymar;
Da Cinecolor: 5 diárias de correção de cor;
Da Dotcine: máster DCP para longa de até 120 minutos
– Prêmio Helena Ignez para destaque feminino: Lílis Soares, diretora de fotografia.
– Prêmio Canal Brasil de Curtas: Perifericu (SP), de Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira.
Prêmio de R$ 15 mil.
*Enviado especial a Tiradentes (MG), o jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes.