Saiba quem venceu 1º Prêmio Solano Trindade de dramaturgia negra
Os nomes dos três vencedores do Prêmio Solano Trindade, focado na dramaturgia de autores negros, acabam de ser divulgados. As três peças vencedoras são: “Guerras Urbanas”, de Camila de Oliveira Farias, do Rio de Janeiro, “Como Criar para um Corpo Negro sem Órgãos?”, de Lucas Moura, de São Paulo, e “Medeia Homem”, de Robinson Oliveira, do Rio Grande do Sul.
Já como suplentes, por ordem de classificação, ficaram os respectivos textos: “3×4”, de Amora Tito, de Minas Gerais, “Quando Anoitece”, de Le Ticia Conde, de São Paulo; e “João, O Cândido”, de Suelen Casticini, do Rio de Janeiro.
Concedido pela SP Escola de Teatro, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo gerida pela Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap), o Prêmio Solano Trindade é voltado ao reconhecimento do trabalho de jovens dramaturgos negros.
O nome da premiação homenageia o ator, diretor, cineasta, escritor e militante pernambucano Francisco Solano Trindade (1908-1974), em cuja obra fez marcantes denúncias contra o racismo e o preconceito no Brasil.
“Essa premiação é muito especial pois homenageia a figura importante para o teatro nacional e paulistano, um homem negro, que é Solano Trindade”, frisa o bibliotecário da SP Escola de Teatro, Ueliton Alves, responsável pela comissão de heteroidentificação do concurso “E também é importante pelo fato de se publicar um livro como premiação, em um cenário como o do Brasil, em que publicação é algo tão difícil. E autores negros publicarem suas narrativas em livro é extremamente simbólico, uma vez que temos aí para pessoas que tiveram durante muito tempo o reconhecimento de suas histórias negadas”, ressalta.
Marici Salomão, coordenadora do curso de Dramaturgia da SP Escola de Teatro e presidente do júri, a primeira edição trata-se de um marco, “pela valorização de autoras e autores negros, algo que não conhecemos em forma de concursos, e também por ser uma plataforma de ampliação do que seja dramaturgia, do conhecimento de novos autores e de novos textos”.
Alem de Salomão, compuseram a comissão avaliadora a dramaturga e diretora Luh Maza, a jornalista e professora universitária Rosane Borges e o jornalista, colunista do UOL e crítico de arte da APCA Miguel Arcanjo Prado.
Vozes negras no teatro
Borges diz que o prêmio responde a uma demanda política atual de representatividade e reescrita das narrativas. Além de ser também ferramenta de “incremento de outras gramáticas estéticas, para que a gente possa ter olhares outros, corporalidade outras, subjetividade outras”.
Luh Maza comemora a ação: “Saúdo a chegada desse prêmio como uma plataforma de representatividade negra não somente pelos personagens e situações dramáticas, mas também por seus escritores-narradores que compartilham os saberes (e dúvidas) da vivência negra na contemporaneidade. Que ampliemos mais e mais essa noção sobre a arte produzida por esses autores e através deles inspiremos muitos outros jovens negros a tomar posse de todos os espaços como a dramaturgia”.
E isso aconteceu na primeira edição do Prêmio Solano Trindade, já que o concurso recebeu inscrições de jovens estudantes de teatro de diversas regiões do Brasil. “Mais do que nunca, é preciso dar voz e visibilidade a todos os matizes possíveis no teatro brasileiro. Nesse caso, o foco está em uma dramaturgia negra. O prêmio traz novas vozes aos palcos brasileiros, mostrando que todas as histórias têm múltiplos lados. A dramaturgia só é boa se for assim”, finaliza Arcanjo.