A Outra Banda da Lua é certamente um dos grupo mais interessantes surgido na música brasileira dos últimos tempos. E este jornalista e crítico diz isso sem dúvida alguma. Afinal, já ouviu os meninos ao vivo e à distância — coisa que você precisa fazer o quanto antes.
Com origem em Montes Claros, no norte de Minas Gerais, A Outra Banda da Lua lança nesta terça (7), em plena pandemia do coronavírus e do isolamento social, seu primeiro álbum, que leva o nome do grupo, pelo selo Under Discos, de Belo Horizonte. Ouça o disco d’A Outra Banda da Lua
Em entrevista exclusiva ao Blog do Arcanjo, os músicos revelam que resolveram manter a data para o disco sair do forno, agendada antes da pandemia que assolou o mundo de repente.
Assim, presenteiam seus fãs atuais e futuros — que serão muitos, é fato —, que estão agora trancafiados em casa nestes difíceis dias nos quais ninguém tem resposta de nada.
De tal modo que o disco d’A Outra Banda da Lua chega como um oásis de boa música e respiro mais que necessário em tempos tão tensos.
Claro que carisma e talento não falta ao quinteto formado pela hipnotizante Marina Sena, a vocalista que é uma mistura de Gal Costa, Maria Bethânia e Nara Leão com fartas pinçadas da brejeirice de Gabriela Cravo e Canela — mas que foi alcunhada por este colunista de “Dona Flor da Música Mineira”, já que é arrasa-quarteirão também na banda pop Rosa Neon. Ufa!
E Marina está muito bem acompanhada pelos rapazes cheios de charme e exímia musicalidade: Matheus Bragança (baixo e voz), Edson Lima (violão, guitarra e backing vocal), Mateus Sizílio (bateria) e André Oliva (guitarra e percussão). Todos completamente apaixonados pela musa-cantora, como percebeu este crítico no primeiro show do grupo na SIM São Paulo, em dezembro de 2019, quando fizeram uma apresentação potente e inesquecível para os privilegiados que estiveram no JazzB.
A seguir, eles falam a Miguel Arcanjo Prado sobre o disco, coronavírus, gavetas musicais e un poquito más.
Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo — Marina, a crise do coronavírus pegou de supetão a chegada do disco de vocês, como foi a escolha de manter o lançamento?
Marina Sena — Já tem muito tempo que estamos pra lançar esse disco, se calhou de acontecer isso quando marcamos de lançar, acreditamos que era pra ser assim mesmo, talvez o mundo precise desse disco justamente agora.
Miguel Arcanjo – Matheus, o que esse disco tem que pode ajudar as pessoas confinadas em quarentena?
Matheus Bragança – Acredito que nesse momento de quarentena nosso som pode trazer um pouco de calor e funcionar como um afago pra muitas pessoas.
Miguel Arcanjo – Lançar o disco neste momento tão tenso da história da humanidade é especial para vocês em que sentido?
Matheus Bragança – Em momentos de crise nos quais a humanidade se vê diante de dificuldades e de necessária mudança na forma de enxergar as coisas, a cultura tem papel fundamental nesse processo. Historicamente temos exemplos de como a música e a arte de maneira geral é importante pra momentos de ressignificação da realidade. Então penso que pode ser especial nesse sentido, no fato de causar variados tipos de reações necessárias no ouvinte, seja de alimento pra alma, de inquietação ou reflexão diante de tudo que se passa.
Miguel Arcanjo – Edson, Vocês fizeram um grande show em SP na SIM em dezembro, foi importante para a banda esse momento?
Edson Lima – Sim. Foi importante pra gente estar na SIM SP 2019 por vários motivos. Dentre eles, a troca de informações entre artistas x produtores, estreitar relações e conexões dentro de uma grande eixo e também pelo fato da A Outra Banda da Lua sair pela primeiríssima vez de Minas Gerais.
Miguel Arcanjo – Qual outro show que marcou vocês? E onde querem voltar a tocar quando shows voltarem a ser algo possível?
Edson Lima – Quer dizer, tem aí a possibilidade das pessoas ouvirem nosso som via internet, mas estar em um show ao vivo é outro sentimento. Bate diferente. A gente encara os shows de uma forma muito verdadeira. Seja shows em grandes palcos de festivais, shows médios ou pocket’s. É sempre perceptível a entrega de cada integrante. Claro, cada um tem sua forma peculiar de entrega mas vejo sempre uma aura energética forte quando a gente vai tocar, independentemente do lugar. Então, vários shows marcaram, porque de alguma forma serviram de impulso para os próximos e os que virão. Tomara que essa pandemia acabe logo e com menos casos graves ou perdas possíveis. Não por uma questão de voltar a tocar que é ótimo, é o que nos move, mas pela vida mesmo. Pra ciranda da vida seguir. Queremos tocar pelos festivais que acontecem no Brasil e outros mundo a fora.
Ouça o disco d’A Outra Banda da Lua
Miguel Arcanjo – Mateus, vocês fazem uma espécie de MPB-Rock, concorda comigo ou falei besteira? Vocês têm alguma definição de estilo ou não ligam pra isso?
Mateus Sizílio – Bem pertinente essa pergunta, temos sim, se falarmos do rock em uma fusão com a diversidade da música brasileira. Todos da banda trazem grande influência do rock n’ roll desde a adolescência, e a MPB junto com a música regional veio como uma abertura de portais para novas possibilidades sonoras em nossas composições. Eu, pessoalmente, não ligo pra rotulação de estilos, mas podemos dizer que nossa música é uma espécie de Rock Rural Afropsicodélico.
Miguel Arcanjo – André, a banda é de Montes Claros, norte de Minas. Em que essa origem geográfica entra na sonoridade que vocês fazem? E o que a mudança para BH interferiu?
André Oliva – Na minha visão é certo que a posição geográfica e suas consequências influenciam no jeito de lidar das pessoas, e por estar no norte de Minas, sertão, terra que pulsa arte, de cultura resistente e pessoas de calor no coração, naturalmente o nosso som reflete um pouco disso, um som forte, vivo, cheio de cores, texturas e sentimento. Na verdade, somente Marina se mudou para BH, tem sido um pouco diferente o fato dela não estar fisicamente aqui, mas acho que não interferiu tanto, pois além do aparato tecnológico, que facilita a comunicação e supre um pouco essa distância, estamos todos sempre perto em energia e pensamento.
Miguel Arcanjo – Marina, responde pra mim: como é ser uma espécie de Dona Flor da música mineira, já que você tem A Outra Banda da Lua e também o Rosa Neon?
Marina Sena – Sobre ser a “Dona Flor” da música mineira [risos] Amei isso! Nossa, eu acho uma delícia né, duas bandas que amo, super alto astral, que me trazem tantas conquistas lindas, com pessoas tão massa!
Ouça o disco d’A Outra Banda da Lua
Siga @aoutrabandadalua
Siga @miguel.arcanjo