Um dos primeiros setores socioeconômicos afetados pela crise do coronavírus, os teatros de São Paulo estão sem dinheiro para pagar seus profissionais, que também precisam sobreviver a este momento crítico da humanidade. Se nada for feito pelos governantes, os profissionais do setor temem a extinção de vários teatros da capital paulista, uma das cidades do mundo com maior atividade teatral — São Paulo costumava ter até a crise do coronavírus média de 200 espetáculos em cartaz ao mesmo tempo e só o teatro musical movimentou R$ 1 bilhão em 2018.
O Blog do Arcanjo conversou com representantes do setor teatral paulistano: só nos 124 principais teatros independentes da principal metrópole trabalham diretamente cerca de 500 pessoas, atualmente sem qualquer tipo de renda. Isso fora os profissionais indiretos. Além disso, os gestores e administradores teatrais não têm dinheiro para arcar com os custos de manutenção desses espaços.
Mas, os números do setor são bem maiores. Segundo pesquisa realizada pela JLeiva consultado pelo Blog do Arcanjo, em 2018 São Paulo teve mais peças em cartaz do que séries da Netflix. De acordo com o levantamento, que mapeou todas as peças da cidade em 2018, o teatro paulistano empregou de forma direta naquele ano mais de 8.000 profissionais: 4.096 atores, 1.136 diretores e 1.209 produtores, além de 690 cenógrafos, 670 figurinistas e 507 iluminadores. Trabalhadores que estiveram em 1.638 peças que tiveram 15.348 apresentações em 277 diferentes espaços da capital paulista, o que dá uma média impressionante de 42 apresentações por dia.
União faz a força
Para unir forças, o setor teatral vem se organizando em um grupo de whatsapp. A partir desses encontros virtuais, artistas e gestores teatrais elaboraram uma petição que reúne cerca de 70 Teatros e Espaços Culturais Independentes da cidade de São Paulo, solicitando ajuda e atenção de todas as esferas governamentais para evitar o colapso e a falência destes lugares.
Afinal, estão com suas atividades completamente paralisadas por decreto governamental por conta da pandemia do covid-19, para evitar aglomeração de pessoas e salvar vidas. E sem qualquer perspectiva de retomada das atividades num futuro próximo, devido à pandemia e suas consequências.
O pedido divulgado afirma: “Os Teatros e Espaços Culturais foram os primeiros a terem suas portas fechadas, e, no entanto, os custos fixos de manutenção (aluguel, IPTU, pessoal, água e Luz, telefonia e Internet e outros) continuam, mas, sem nenhuma previsão de receita por tempo indeterminado. Os custos para manter um espaço, de pequeno a médio porte (de 20 a 600 lugares), pode variar de 12 a 100 mil reais mensais, mesmo o estabelecimento estando fechado”, revelam os administrados das salas teatrais.
“Então, num consenso destes deficitários Administradores, Gestores e Diretores de teatros e espaços culturais, foi redigido um documento para que se avalie uma ação emergencial, por meio de auxílio financeiro, crédito especial, antecipação de recursos de leis de incentivo, e/ou isenção de impostos, principalmente com a liberação dos recursos contingenciados no FNC (Fundo Nacional de Cultura)”, pedem os gestores culturais.
O grupo não questiona o isolamento social, mas pede uma forma de sobrevivência neste período: “Eles entendem que a adesão ao confinamento para o combate ao coronavírus foi fundamental e ainda o é, porém, como pequenas, micros e médias empresas – algumas totalmente autônomas, fomentando e mantendo por conta suas casas de espetáculos, entraram em situação altamente vulnerável, e não se viram incluídos em decretos de lei até então, promulgados no âmbito das três esferas governamentais. Principalmente porque a cultura é comprovadamente um dos segmentos que mais contribui para o desenvolvimento socioeconômico não só da cidade de São Paulo, mas, do estado e do país, movimentando aproximadamente vinte bilhões de receita, contribuindo relevantemente para além do entretenimento, com geração de empregos, inclusão social e formação profissional”, afirmam os administradores teatrais.
Fazem parte do grupo que pede apoio aos teatros por parte do governo alguns dos profissionais mais respeitados e reconhecidos do setor teatral. Nomes como André Acioli, Darson Ribeiro, Atílio Bari, Mário Martini, Eduardo Figueiredo, Augusto Marin, Luiggi Tschesco e Celso Frateschi integram a ação. Entre os teatros que fazem parte da ação estão Teatro Ruth Escobar, Teatro Bibi Ferreira, Teatro-D, Teatro Maria Della Costa, Teatro J. Safra e Teatro Commune.
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Cultura gera renda e alimenta famílias
A cultura e a economia criativa é um importante motor da economia brasileira, país reconhecido no mundo todo por sua criatividade artística, seu principal cartão de visita. No Brasil, a cultura gera 1 milhão de empregos (o que significa 1 milhão de famílias sobrevivendo desta área), movimentando o impressionante número de 239 mil empresas e instituições, além de gerar R$ 10,5 bilhões em impostos e representar 2,64% do PIB. Só o Estado de São Paulo, onde a economia criativa demonstra sua maior força no território nacional, o setor abarca 47% do PIB criativo brasileiro, representando a cultura e a economia criativa 3,9% do PIB estadual, gerando 330 mil empregos, abastecendo 100 mil empresas e instituições paulistas. É muita gente.
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