A APTI (Associação dos Produtores Teatrais Independentes), com sede em São Paulo, anunciou no começo desta semana ajuda aos profissionais das artes cênicas que estão vulneráveis nesta crise da pandemia do novo coronavírus. A ajuda virá do Fundo Marlene Colé, criado justamente para socorrer trabalhadores do teatro que passam por dificuldades financeiras e de saúde. Agora, ele une força com outras entidades representativas do setor, e fechou parceria com o Sated-SP (Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos e Diversões do Estado de São Paulo), Cooperativa Paulista de Teatro e Coletivos do Circo.
Para se ter uma ideia do tamanho da crise no setor teatral, um dos primeiros atingidos pela crise desencadeada pela pandemia, em menos de 24 horas foram recebidas mais de mil inscrições de possíveis beneficiários. Para distribuir cestas básicas e materiais de higiene a estes profissionais do teatro que passam dificuldades, o Fundo Marlene Colé conta com doações voluntárias da sociedade civil, já que a entidade não tem vínculo com governos de qualquer esfera, segundo afirma seu diretor vice-presidente e porta-voz da entidade, o ator Odilon Wagner, nesta entrevista exclusiva ao Blog do Arcanjo.
Criador do Fundo Marlene Colé, Odilon explica como ele tem funcionado, lembra seu surgimento, conta a história da artista que dá nome ao fundo, fala sobre a saída de Regina Duarte da entidade e diz que em breve abrirá novas inscrições para possíveis beneficiários, além de reforçar a importância da doação.
Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo – Qual o objetivo da APTI? Há quanto tempo a entidade existe? Quem ela representa?
Odilon Wagner – A Associação dos Produtores Teatrais Independente foi fundada em 2008 por um grupo de produtores teatrais. A APTI tem como principal objetivo representar a sociedade civil diante do poder público e instituições privadas. Contribuímos na construção e melhorias das políticas públicas para o setor cultural. Além de produzir seminários, programas de formação de público, cursos, estudos, pesquisas e campanhas.
Miguel Arcanjo – Quem são e de onde vem os profissionais que fazem parte da direção da APTI?
Odilon Wagner – A APTI tem mais de 60 produtoras associadas em todo Brasil. Ela é formada por artistas e produtores Independentes. Sua representação é bastante diversa. Temos associados das cinco regiões brasileira, entre eles, artistas independentes, pequenos produtores e produtoras de médio porte também.
Miguel Arcanjo – Como, quando e com qual objetivo foi criado o Fundo Marlene Colé?
Odilon Wagner – O Fundo Marlene Colé foi criado em 2016, por mim, Odilon Wagner, inicialmente com recursos deixados pela própria Marlene, que faleceu depois de lutar contra um câncer. Esse Fundo foi criado para apoiar técnicos e artistas de teatro que estivessem passando por dificuldades de saúde e ou financeiras. Muitos outros colegas foram convidados a fazer depósitos mensais para manutenção do FMC e assim tem sido até hoje, tendo tido a oportunidade de apoiar muitas pessoas nesses quatro anos. Hoje o FMC está sob gestão da APTI.
Miguel Arcanjo – Odilon, para quem não sabe, queria lhe pedir para contar quem foi a Marlene Colé e por que ela foi homenageada com o nome do Fundo.
Odilon Wagner – Maria Helena Caiubi, nasceu em 20 de janeiro de 1938 e adotou o nome artístico de Marlene Colé. Ela foi uma artista de raiz, dançarina no Grupo de Solano Trindade nos anos 1970, cantora da noite, que com o passar dos anos, para se sustentar, tornou-se camareira e trabalhou para grandes Cias. de Teatro. Quando morreu, fazia parte do quadro de camareiras do Theatro Municipal de São Paulo. Era uma adorável rabugenta que cuidava de tudo e de todos como verdadeira mãe. Isso só já bastaria para homenageá-la. Como não tinha parentes vivos, os recursos que tinha, fruto de suas economias, deram início a esse fundo solidário por sugestão e iniciativa minha, Odilon Wagner, e com a concordância de um grupo de amigos de Marlene Colé.
Miguel Arcanjo – A APTI pretende fazer algum tipo de parceria com o governo, seja no nível municipal, estadual ou federal? Há algum tipo de ação ou conversa já encaminhada neste sentido? Com quem?
Odilon Wagner – A APTI já se manifestou em todas as esferas (municipal, estadual e federal) no sentido de propor medidas para mitigar o efeito da quarentena para o setor cultural. Foi solicitado e propostos instrumentos jurídicos (decretos, instruções normativas…), programas de créditos subsidiados e editais emergenciais. Não pedimos para o Fundo Marlene Colé. Estamos focados em doações privadas, mas as pessoas que pensam a captação do fundo poderão pleitear no futuro recursos que sejam disponíveis para este tipo de ação.
Miguel Arcanjo – A atriz Regina Duarte, hoje na Secretaria Nacional da Cultura, já foi membro da APTI. A entidade pensou em pedir ajuda a ela neste momento para os profissionais vulneráveis do setor teatral com a crise do coronavírus? Caso já tenham feito algum tipo de contato, o que ela respondeu?
Odilon Wagner – Sim. A Regina Duarte foi associada da APTI. Se retirou desta e de todas as outras entidades que pertencia antes de tomar posse. Ela não pode ter nenhum tipo de vínculo para trabalhar no governo e na APTI só pode se associar empresa privada que não tenha como sócio quem ocupa cargo público. Somos uma entidade que representa a sociedade civil para dialogar com o poder público.
Miguel Arcanjo – Por que as inscrições no cadastro de possíveis beneficiários no Fundo Marlene Colé foram encerradas quando bateu o número de 1.000 inscritos se o divulgado inicialmente previa 15 mil beneficiários? Quando pretendem reabrir as inscrições?
Odilon Wagner – O fundo é gerido 100% por trabalho voluntário. Temos um exercício para manter a governância em ordem. Precisamos fazer isto para fazer as primeira análises e distribuir o recurso disponível no momento. Esperamos em breve reabrir as inscrições. Pretendemos atender 15 mil favorecidos, mas dependemos de doações. Já vamos conseguir atender uma parte das pessoas agora.
Acesse o site do Fundo Marlene Colé
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