Gustavito lança Lembrete para desatar nós do peito na quarentena: veja o clipe

Gustavito lança canção e clipe Lembrete: “O sol que nos aquece a voz é bem maior do que esse medo” – Foto: Nadja Kouchi/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo

Gustavito, músicos dos mais sensíveis da nova cena brasileira, acaba de lançar canção e clipe que é uma mensagem de esperança neste período de pandemia por conta do novo coronavírus: Lembrete chega às redes e corações nesta sexta (24) como uma das mais delicadas canções de seu repertório, composta por ele em parceria com Chicó do Céu e Luiz Gabriel Lopes.

Direto do interior de Minas Gerais, onde se encontra refugiado nesta quarentena, o cantor e compositor concedeu esta entrevista exclusiva ao Blog do Arcanjo. Na conversa, Gustavito avalia como a crise afeta a cultura, revelou que está compondo muito, contou o que pretende fazer quando tudo isso acabar e aproveitou o papo para enviar sua mensagem de paz neste momento crítico da humanidade.

Leia com toda a calma do mundo.

Ouça Lembrete de Gustavito no Spotify

https://youtu.be/vFbtBPWUZ-s

Miguel Arcanjo Prado — A música Lembrete foi composta como? Hoje ela fica parecendo profética, concorda?
Gustavito —
Foi numa viagem de verão. Sinto que, naquele momento, eu, Chicó do Céu e Luiz Gabriel Lopes estávamos escrevendo uma carta de nós pra nós mesmos, como se fosse uma mensagem que alguém escreve e guarda numa garrafa pra ele mesmo achar anos depois, e re-lendo pudesse compreender cada vez um novo significado no que está ali. Ela nasceu de uma inspiração muito forte; então, seus versos trazem sentidos que vão se atualizando com o tempo. Suas palavras cabem tanto no contexto pessoal e individual de cada um, quanto no contexto coletivo que estamos vivendo, onde precisamos nos reinventar enquanto indivíduos e, eu desejo muito fortemente, que também venhamos a nos repensar enquanto sociedade, em relação uns com os outros e com a natureza.

Miguel Arcanjo — O que você acha que vai acontecer com o campo cultural pós coronavírus?
Gustavito —
De fato o setor cultural fica muito abalado com tudo isso. Não dá para conceber a arte e a cultura sem a reunião de pessoas, o motivo fundamental de qualquer acontecimento artístico e cultural, seja ele uma festa popular ou uma apresentação teatral, um show de música ou mesmo ir ao cinema. Qualquer atividade cultural sempre pressupõe o encontro de pessoas e passar um tempo indeterminado sem poder realizar esses encontros é algo que abala mesmo as estruturas. Às vezes dá um frio na barriga em pensar que duas das principais atividades que envolvem a vida de um músico estão impedidas sem sabermos até quando, são elas: se apresentar pra uma reunião de pessoas, e viajar pra chegar até onde haja outras pessoas.

Miguel Arcanjo — Como enxerga as lives?
Gustavito —
Mas, por outro lado, vejo com bons olhos a história das lives. A possibilidade de se fazer uma apresentação sem depender de absolutamente ninguém além de você mesmo, uma internet e um instrumento e pronto, já se pode abrir uma janela e falar com centenas de pessoas. Vejo gente inventando diversos motivos para fazer lives e se conectarem, lives poéticas, teatrais, musicais, debates científicos, políticos, astrológicos etc. Vários projetos saindo das gavetas. Muita gente tendo que se reinventar pra criar oportunidades de movimentação da própria vida e carreira. Certamente no campo da criação está sendo um período fértil como toda crise. Eu estou compondo muito e também vejo muita gente compondo ou até mesmo expondo criações artísticas que até então estavam escondidas. A cultura sempre se reinventa. Isso é uma certeza. Por outro lado, os eventos culturais precisam voltar a acontecer, mas não sabemos quando…

Miguel Arcanjo — Quais versos de Lembrete você diria para os dias de hoje?
Gustavito —
Preciso dizer que ao buscar os versos ideais pra responder a essa pergunta fica latente que a letra toda pode ser aplicada ao que estamos passando hoje. Aí vai um trecho forte:
“Meu amigo reconheça o barco que nos leva é um
e o sol que nos aquece a voz é bem maior do que esse medo, esse nó que vez em quando aperta o peito e fortalece a caminhada
despertar pra uma nova travessia
deixar esvaziar
saber que a hora certa logo vem
sem pressa deixa estar que não demora”

Gustavito lança canção e clipe Lembrete: “É preciso repensar a sociedade, a relação com o outro e a natureza” – Foto: Nadja Kouchi/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo

Miguel Arcanjo — Onde você está passando a quarentena? Na companhia de quem?
Gustavito —
No interior de Minas com minha companheira. Eu havia recém me mudado pra São Paulo neste ano, mas a situação do vírus me fez retornar à terra natal para passar a quarentena com mais tranquilidade. É uma oportunidade pela qual agradeço muito, pois sei que muita gente está em situações muito complicadas para manter o isolamento, principalmente nas grandes cidades.

Miguel Arcanjo — Como tem sido compor nesta quarentena?
Gustavito —
Sim, tem rolado uma efervescência criativa forte. Tudo isso dá muito substrato pra criatividade e no desejo de traduzir essa realidade de tantas incertezas a poesia é a forma que mais conecta as subjetividades pela linguagem das entrelinhas… Até o início da quarentena esse ano havia composto apenas três canções. Agora, somente nesse período da quarentena já estão em andamento seis parcerias com artistas de diferentes estados do Brasil, além de outras duas canções que eu escrevi sozinho. É muito linda a troca e solidariedade que está rolando entre os músicos, tanto nas composições quanto no compartilhamento dos trabalhos e das lives. Todos vivendo experiências fortes de introspecção e o planeta passando por uma situação tão atípica num nível mundial.

Gustavito lança canção e clipe Lembrete: “Tenho convicções de que precisamos sair dessa mais fortes do que entramos e principalmente mais conscientes” – Foto: Nadja Kouchi/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo

Miguel Arcanjo – Qual movimento você destaca entre esses que surgem?
Gustavito —
Estou participando de um movimento muito bonito chamado Rezo Brasil, que surgiu como um festival online e já está se ampliando para uma rede nacional de artistas que acreditam na música como instrumento de união entre as pessoas, de conexão com a espiritualidade de uma maneira transversal, trazendo a mensagem essencial de paz interior, conexão com a natureza e união de todas as culturas em torno da poesia como forma de oração.

Miguel Arcanjo — Quando tudo isso passar, o que você deseja fazer?
Gustavito —
Abraçar meus pais, meus amigos. Encontrar as pessoas e poder olhar nos olhos e sentir o cheiro delas. Poder voltar a fazer shows, viajar e sentir a presença do público. Se tudo passasse hoje, eu voltaria pra São Paulo pra retomar a construção de minha carreira por lá, como vinha fazendo. Mas não dá pra saber o que vai acontecer, e nem quanto tempo vai demorar, talvez eu acabe por mudar os planos e nunca mais voltar a viver numa grande cidade. Tenho convicções de que precisamos sair dessa mais fortes do que entramos e principalmente mais conscientes. Não desejo que as coisas “voltem ao normal” porque o normal não estava bom pra maioria das pessoas e nem para a natureza. Minha intenção é fazer parte de uma corrente de transformação. Que possamos apontar em direção a novas propostas sobre as formas de relacionar uns com os outros e com a natureza. Esse momento tem tudo para ser uma grande mudança de paradigma, mas cabe a cada um viver essa mudança no seu nível pessoal pra que isso reverbere a nível coletivo. Um fenômeno da natureza, que foi eternizado por Nietzsche, unindo na mesma sentença a poesia e as leis da física, diz mais ou menos assim: é preciso ter o caos dentro de si para dar a luz às estrelas.

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Assista ao clipe de Lembrete, música de Gustavito:

https://youtu.be/vFbtBPWUZ-s
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