Regina Duarte deixa Cultura de Bolsonaro: de namoradinha do Brasil a inimiga dos artistas
Regina Duarte não é mais a Secretária Especial de Cultura do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O anúncio foi feito pelo próprio presidente nesta terça (20) em redes sociais. Segundo o político, ela agora assume a Cinemateca Brasileira, em São Paulo, cidade onde vive a atriz e sua família. O ex-galã de Malhação Mário Frias é cotado para o cargo. Durante sua estada no posto político, Regina Duarte foi de namoradinha do Brasil a inimiga dos artistas.
“Regina Duarte relatou que sente falta de sua família, mas para que ela possa continuar contribuindo com o Governo e a Cultura Brasileira assumirá, em alguns dias, a Cinemateca em SP. Nos próximos dias, durante a transição, será mostrado o trabalho já realizado nos últimos 60 dias”, escreveu Bolsonaro ao anunciar a queda da atriz do posto de Secretária Especial da Cultura, onde vinha sendo “fritada”.
Regina Duarte assumiu o cargo público em 4 de março, portanto ficou apenas dois meses e meio no primeiro escalão do governo. Sua gestão será lembrada falta de ajuda federal aos artistas durante a pandemia do novo coronavírus pela polêmica entrevista concedida à CNN Brasil, na qual ficou nervosa com perguntas “não combinadas”, louvou a ditadura militar e minimizou as milhares de mortes da covid-19.
Na explosiva entrevista ao canal noticioso, Regina Duarte exaltou a ditadura militar e chegou a cantar “Pra Frente Brasil”, hino daquele período. Ela ainda fez pouco caso dos mortos devido à covid-19 e da tortura e assassinato de pessoas pelo Estado durante o regime de exceção que vigorou no Brasil entre 1964-1985.
Para boa parte da classe artística, a atriz enterrou para sempre sua carreira naquele dia.
Tanto que mais de 500 personalidades e intelectuais da cultura assinaram um manifesto contra a atriz dias depois. Ela ainda sofreu bastante pressão de sua família para deixar o governo, sobretudo de sua filha, Gabriela Duarte, envergonhada com a situação.
Durante sua gestão, Regina Duarte não tomou nenhuma medida realmente significativa para proteger artistas e técnicos da crise do coronavírus. A categoria profissional à qual pertence a atriz sequer entrou na lista de beneficiados pela ajuda emergencial de R$ 600 do governo federal. Os artistas e técnicos atualmente sobrevivem de cestas básicas arrecadada por instituições artísticas independentes.
Contudo, em reunião na Unesco, Regina chegou a afirmar que os artistas e técnicos de seu país estavam assistidos pelo governo. Mas a realidade é diferente do que ela afirmou, como lembrou a cantora Anitta, que também se reuniu com a Unesco, denunciando internacionalmente que muitos artistas e técnicos no Brasil estavam passando sérias dificuldades, sobretudo a grande maioria desses profissionais, que não é famosa.
Regina Duarte: de namoradinha do Brasil a inimiga dos artistas
Considerada a ‘namoradinha do Brasil’ por muito tempo por seus papéis açucarados nas novelas da Globo, onde permaneceu por cinco décadas até se atirar nos braços de Bolsonaro, Regina Duarte sempre teve uma relação com a política. Relação esta que começou a ficar conturbada nas últimas décadas.
Em 1978, ela apoiou o então candidato progressista ao Senado pelo MDB, Fernando Henrique Cardoso, que na época também foi apoiado por Lula, de quem a atriz também ficou próxima naquele período. Os três costumavam ir juntos a comícios.
A mulher de FHC, a socióloga Ruth Cardoso, ficou muito amiga de Regina e chegou a ser consultora da série Malu Mulher, na qual a atriz vivia uma socióloga divorciada e que foi um marco do feminismo na TV. Em 1980, Regina chegou a apresentar um especial feminista na TV Globo, com as principais cantoras do país. Na época, ela ficou bastante engajada na causa da mulher.
Em 1984, ela participou da Campanha das Diretas Já, indo a comícios na Praça da Sé ao lado de artistas como Gilberto Gil e Alceu Valença. Neste período, a atriz estava tão engajada que chegou a participar de comícios em Osasco, na Grande São Paulo.
Em 1985, após viajar no ano anterior para Cuba, onde conheceu Fidel Castro por conta do sucesso por lá da série feminista Malu Mulher, por ela protagonizada, Regina apoiou mais uma vez FHC pelo PMDB. Desta vez, o amigo concorria à Prefeitura, cargo que ele perdeu para Jânio Quadros.
Na década de 1990, se aproximou cada vez mais do PSDB, que na época fazia o papel da direita na política brasileira — apesar de hoje isso parecer até inocente diante do bolsonarismo vigente. Ela apoiou FHC em 1994 e surgiu em 1998 na campanha de FHC à reeleição, citando Chiquinha Gonzaga, papel de mulher progressista que interpretou no ano seguinte em minissérie de Lauro César Muniz na Globo.
Contudo, sua participação mais conhecida no horário político foi em 2002, quando surgiu na campanha do tucano José Serra, dizendo que tinha “medo” do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, que saiu vencedor do pleito e disse que “a esperança venceu o medo”, fazendo referência à fala da atriz.
Ela voltou a surgir apoiando João Doria (PSDB) na Prefeitura de São Paulo, chegando a varrer a avenida Paulista a seu lado em 2017.
Nos últimos anos, se aproximou da extrema direita e chegou a visitar Jair Bolsonaro (sem partido) em sua casa durante as eleições de 2018 em pleno feriado de 12 de outubro. Depois, discursou em comício bolsonarista vestida de verde e amarelo na avenida Paulista.
Com a saída do encenador Roberto Alvim da Secretaria Especial da Cultura de Bolsonaro após este publicar vídeo inspirado na comunicação nazista, a atriz afirmou que estava de noivado com o presidente. Ela assumiu a secretaria Especial da Cultura em 4 de março de 2020, semanas antes da eclosão da pandemia do novo coronavírus.
Diante do caos na classe artística, a secretária pouco fez. Não liberou o Fundo Nacional da Cultura para os artistas e técnicos em situação de vulnerabilidade, tampouco conseguiu incluir sua própria categoria profissional no plano governamental de ajuda emergencial de R$ 600, apesar de ter dito em reuinão online com a Unesco que os artistas de seu país estavam assistidos, o que não correspondia com a verdade.
Seu maior desgaste foi durante uma entrevista à CNN Brasil, na qual minimizou mortos e torturados na ditadura militar e também as milhares de vítimas da covid-19. Ela ainda se recusou a ver um vídeo com a colega Maitê Proença, que lhe fazia reivindicações diante do cargo público que tinha. Após a polêmica e já histórica entrevista, boa parte da classe artística rompeu com Regina Duarte de forma definitiva. Assim, ela foi da alcunha de namoradinha do Brasil à de inimiga dos artistas.
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