Astrud Gilberto fez 80 anos esquecida pelo Brasil ingrato

Por Miguel Arcanjo Prado
O Brasil é ingrato com seus grandes artistas. A prova mais recente foi que passou despercebido o aniversário de 80 anos da cantora baiana Astrud Gilberto, atualmente radicada nos Estados Unidos, no último dia 29 de março.
A data foi ignorada não só pelas autoridades brasileiras, como pelos grandes meios de comunicação e também pelo ambiente musical. Um absurdo (uma das raras exceções foi matéria feita pelo jornalista José Teles em Pernambuco).
Afinal, Astrud Gilberto é a voz feminina brasileira mais ouvida da história, que tornou a nossa música admirada em todo o mundo, desde que, por acaso, cantou Garota de Ipanema, composição de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, no disco Getz/Gilberto de 1964 — a aclamada parceria do saxofonista norte-americano Stan Getz e gênio baiano João Gilberto, cuja morte no ano passado não mereceu a atenção que deveria, sobretudo do governo federal.
Garota de Ipanema, cantada pelo então casal Astrud e João, é uma das canções mais executadas da história musical. Simples assim.
Leia também: Morre Zuza Homem de Mello, maior especialista da música no Brasil

Melhor amiga de adolescência de Nara Leão, Astrud, filha de uma baiana e de um alemão nascida em Salvador e que se mudou com a família ainda jovem para o Rio, fazia parte da turma da bossa nova que frequentava o famoso apartamento de Nara na av. Atlântica, em Copacabana, onde também morava.
Timidíssima, a baiana caçula de três irmãs logo virou o grande amor de outro tímido que nem ela, João Gilberto, o criador da batida inovadora e do jeito de cantar que tornaram o movimento musical surgido no Rio famoso no mundo inteiro.
Os dois se casaram em 1959 e em menos de um ano ela teve o primogênito de João, Marcelo, que também vive nos Estados Unidos atualmente.

A estreia nos palcos foi em 1960, quando Astrud tomou coragem e cantou na lendária Noite do Amor, do Sorriso e da Flor, na Faculdade de Arquitetura da UFRJ, então reduto dos jovens intelectuais amantes da bossa nova, quando do lançamento do segundo disco do então marido.
A noite produzida por Ronaldo Bôscoli foi uma verdadeira glória, com Dori Caymmi, Nara Leão, Johnny Alf, Elza Soares, Sérgio Ricardo, Nana Caymmi, Norma Bengell, Trio Irakitan e Os Cariocas, entre outros.
Mas o passo decisivo na carreira de Astrud aconteceu em 1963, quando ela acompanhou João Gilberto em sua mudança para os Estados Unidos, onde a bossa nova havia estourado.
Nas gravações do disco Getz/Gilberto tiveram a ideia de colocá-la para cantar profissionalmente em um álbum pela primeira vez. Foi um verdadeiro estouro sua voz suave junto da de João na canção brasileira mais conhecida da história e que até hoje é o cartão de visitas musical do Brasil, Garota de Ipanema.

O sucesso de Astrud não fez bem ao casamento, e ela e João se separaram meses depois da gravação do disco. Mas, mesmo tendo pavor de palco, ela seguiu uma importante carreira musical, gravando discos nos anos seguintes e sendo nome admirado pelo jazz internacional.
Astrud gravou 18 discos solo, cantando em línguas diferentes como inglês, espanhol, francês, italiano e alemão. Uma carreira tão importante foi reconhecida lá fora: em 2002, Astrud Gilberto foi incluída no International Latin Musc Hall of Fame dos Estados Unidos e há havia ganhado em 1992 o prêmio Latin Jazz USA Award for Lifetime Achievement. Ela ainda se dedica atualmente às artes plástica e à defesa dos animais.
Apesar de tamanha importância na representação da cultura brasileira no âmbito internacional, no Brasil, os 80 anos de Astrud Gilberto praticamente foram esquecidos.

MUITO BEM LEMBRADO. DONO DE UMA VOZ QUE SE PODIA OU PODE CHAMAR DE “MAVIOSA”. IMPORTÂNCIA HISTÓRICA INDISCUTÍVEL.
Realmente! Uma voz divinal e uma performance magistral no clássico Garota de Ipanema. É triste ver uma injustiça na indiferença cometida até mesmo por seus grandiosos colegas da classe artística.
O Curta Musical da Rádio Senado prestou uma homenagem a Astrud:
https://www12.senado.leg.br/radio/1/curta-musical/80-anos-de-astrud-gilberto-1
…como a Cultura é tratada neste País…
Delicada, suave, feminina… Uma manhã, no norte da Inglaterra, ao ser levado a um evento, perguntei ao motorista: “quando você ouve a o nome do meu país, qual a primeira ideia ou nome que vem à sua cabeça?” E ouvi dele a seguinte resposta: “Astrud Gilberto”. De imediato nós nos tornamos amigos. Fiquei orgulhoso do meu país. Por aquela resposta, senti que o Brasil tem referências muito ricas, e que assim estava na mente daquele inglês. A Astrud é, portanto, uma das construtoras do lado bom de nossa imagem no exterior… o contraponto, digamos, de tanta brutalidade. A Astrud vai permanecer como nossa boa credencial, no exterior, por muito tempo. Não me canso de ouvir suas gravações.
A grande correção que deve ser feita a esta postagem e a tantas milhares ou milhões até, que vem se produzindo ao longo dos últimos 60 anos, é quanto a criação do estilo sincopado que é atribuido a João Gilberto em total esqiecimento e reconhecimento ao verdadeiro criador desse estilo que quase 30 anos antes do ranzinza João, depejou sua competência e criatividade inundando toda uma geração. Falo em Mario Reis, o grande intérprete e amigo de Noel Rosa e tantos outros excepcionais artistas da primeira metade do século passado, em que teve o estilo sincopado em toda a sua obra muito bem caracterizado e eternizado na canção “!Jura”.
Entendo que passou da hora de se fazer justiça ao verdadeiro criador do estilo.
No Brasil é assim, por mais que você queira homenagear um artista, não funciona o povo esqueceu de tudo, mesmo com os melhores meios de comunicação no mundo. Semana passada faleceu o Sergio Ricardo…quem sabe que é ele e qual foi a sua importância nas artes! Infelizmente é assim: Astrud/ O johny alf/ Sergio/ Badem/ A Rozinha/ O lany Dalle e purai vai!!!
Realmente, é uma artista pouco divulgada na mídia. Na verdade, eu nunca vi a Mídia brasileira falar dela. A descobri porque sou muito fã da Madonna e ela já citou em algumas entrevistas que gosta da música da brasileira.
Hoje só tem reconhecimento a cantora que fica de costas pro público, balançando as nádegas e cantando música de gosto duvidoso. A Vanusa por exemplo, uma das intérpretes top five na história da MPB, foi praticamente negligenciada quando morreu. País sem memória.
O que deveria ser símbolo nacional, se torna gosto peculiar de poucos…
Está tudo invertido.
A destruição das raízes e nacionalismo do nosso Brasil é programado e causa desunião.