Antonio Bivar morre vítima da covid-19 aos 81 e deixa arte em luto
Por Miguel Arcanjo Prado
O Brasil perde uma de suas grandes referências no mundo artístico. O dramaturgo, diretor, roteirista, jornalista e escritor paulistano Antonio Bivar morreu neste domingo (5), vítima da covid-19, aos 81 anos.
Nome fundamental do teatro e da música brasileira, Bivar foi responsável por sucessos teatrais como Cordélia Brasil (que terminou com a atriz Norma Bengell presa e desaparecida pelos militares) e Abre a Janela e Deixa Entrar o Ar Puro, ambas peças ícones da resistência no período sombrio da ditadura.
Bivar ainda dirigiu shows lendários de Maria Bethânia (Drama, Luz da Noite, de 1973) e de Rita Lee (Tutti-Frutti, de 1975), a quem chamou de “a melhor atriz com a qual trabalhei”. Como dramaturgo, escreveu 13 peças, das quais três ainda não foram montadas.
Como jornalista, colaborou os principais veículos do país, com textos bem escritos e repletos de sua típica ironia, quase sempre abordando temáticas culturais.
Infelizmente, como é típico do Brasil, Bivar era pouco valorizado pelo desmemoriado teatro brasileiro contemporâneo, assim como a nova música, áreas nas quais muitos acreditam estarem inventando a roda.
“Fui uma moda no teatro que passou, então, fico no meu canto e faço o que bem entendo”, declarou o artista para a Veja São Paulo quando completou 80 anos em 2019 e lançou a autobiografia Perseverança, pela editora Humana Letra.
Bivar fez parte do intrépido grupo de brasileiros exilados em Londres nos anos 1970, junto de nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Mautner. Além de ter sido porta-voz do desbunde hippie típico do período, ele ainda impulsionou o punk no Brasil ao organizar o festival O Começo do Fim do Mundo, no Sesc Pompeia, em 1982.
Uma de suas últimas aparições públicas em um evento artístico foi quando aplaudiu o espetáculo Divinas Divas no Theatro Municipal de São Paulo em janeiro deste ano.
“Foi uma honra conhecê-lo pessoalmente. Atualmente, mais do que nunca, precisamos valorizar aqueles que vieram, e fizeram história, antes de nós. Uma triste perda para o teatro, a música, a literatura e o jornalismo”, afirma ao Blog do Arcanjo o diretor do espetáculo, Robson Catalunha.
Na mesma entrevista concedida à Veja São Paulo no ano passado, Bivar revelou que vivia com uma aposentadoria de um salário mínimo e meio e que só comprou um apartamento pequeno no bairro de Santa Cecília graças à ajuda de Rita Lee, de quem foi amigo até o fim.
“Não reclamo de nada porque sou feliz e jamais precisei de muito dinheiro. Faz parte dessa perseverança me manter firme e enxergar a vida como uma grande ironia”, declarou.
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