Por Miguel Arcanjo Prado
Profissional disputado no mercado audiovisual do Mercosul, Vinni Gennaro está na expectativa da estreia na Argentina de sua primeira direção de fotografia em um longa. O filme Agua dos Porcos chega à plataforma de streaming Cine.Ar nesta quinta (30). A coprodução Argentina-Brasil é obra da LAZ Audiovisual, dos produtores Rubens Gennaro e Virginia Moraes.
Em conversa exclusiva com o Blog do Arcanjo, Vinni Gennaro recorda como se tornou companheiro de Roly Santos, o diretor argentino que comanda Agua dos Porcos — no Brasil o filme se chamará Águas Selvagens e tem previsão de estreia para 2021 no pós-pandemia.
A produção tem no elenco multinacional os uruguaios Roberto Birindelli e Nestor Nuñez, os argentinos Juan Manuel Tellategui, Daniel Valenzuela, Mausi Martínez y Mario José Paz e os atores brasileiros Mayana Neiva, Allana Lopes, Luiz Guilherme, Leona Cavalli e Anastácia Custódio, entre outros.
“Eu trabalhei com Roly Santos em Dedalo, série coproduzida entre as produtoras Laz, no Brasil, e a Romana, em Buenos Aires. Passei um tempo filmando com os portenhos e dividi a fotografia da série com Santiago Guzmán”, diz.
“Por conta dessa nossa aproximação, fui convidado pelo diretor Roly Santos a assinar a fotografia de Agua dos Porcos. É meu primeiro longa-metragem”, comemora. E afirma que “foi realmente um grande e prazeroso desafio” trabalhar no filme, lembrando que trata-se de um filme de gênero, no caso neo-noir, ou “thriller policial”.
“A história se passa na fronteira [entre Argentina, Brasil e Paraguai] num ambiente ensolarado e de muito calor”, lembra. Quem vê esse clima na tela não imagina que nas gravações era tudo ao contrário.
“Filmamos no inverno, na região de metropolitana de Curitiba, em Tijucas do Sul, além de algumas poucas cenas na fronteira perto de Missiones, mas somente eu, diretor e atores. A maior parte do filme, 95% dele, foi filmado em Tijucas do Sul. Num frio do cão!”, conta Vinni, com bom humor.
Entretanto, o frio é imperceptível no resultado final. “Tivemos essa preocupação de passar esse calor de fronteira, com o suor nos atores, na respiração. Então, o ‘o sol’ quase sempre artificial invade a cena, direta ou indiretamente, nos atores ou no cenário”, explica.
O diretor de fotografia também pensou de forma cuidadosa a paleta de cores de Aguas dos Porcos. “Escolhemos algumas cores para nortear arte e fotografia. Foram o vermelho, verde e amarelo”, fala. E complementa: “A lua do filme é levemente esverdeada, é aquela lua que reflete na mata, e o verde acaba reverberando nas internas e externas”.
O artista da imagem conta que sua fotografia vai acompanhando o desenrolar da trama policial. “É um filme que à medida que vão acontecendo coisas a fotografia vai ficando cada vez mais contrastada, escura e suja”, pontua.
Vinni lembra que Roly Santos orientou seu trabalho. “O diretor desde o começo me trouxe umas referências visuais. E para ele estava muito claro como queria esse look. Então, meu papel foi manter essa unidade estilística durante todo o filme. O diretor desde o começo queria movimentos de câmera suaves, não vertiginosos. Usamos muito travelling. O cineastas argentinos gostam dessa pegada clássica”, aclara.
Ele ainda revela aspectos técnicos da fotografia do filme: “Usamos muita tele objetiva para colocar a câmera fora da ação, como se fosse alguém observando sempre o personagem”.
Questionado quais foram suas referências, Vinni Gennaro responde: “É um filme de estilo e percorremos nesse estilo noir, mais contrastado… As referências foram alguns pintores como Caravaggio, nessa pegada mais ‘chiaroscuro’”.
“Trabalhei com luzes de natureza dura… Quando se filma uma história de 2h você precisa ter um cuidado com as sequências e não com as cenas separadas. É uma outra maneira de se filmar. Precisa estabelecer alguns parâmetros que vão nortear essa unidade estilística visual”, ensina.
Sobre a fotografia noir, ele diz: “Onde tem sombra tem drama. Roly gosta muito dessa coisas ‘chiaroscuro’”. E celebra: Estou muito feliz com a oportunidade que tive em trabalhar com pessoas mais experientes e com mais tempo de cinema”, conclui Vinni Gennaro.
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