Blogs de viagem e turismo se reinventam na crise para ficar perto dos futuros viajantes
Por Miguel Arcanjo Prado
Pequenas empresas de comunicação digital e que sustentam muitas famílias brasileiras, os blogs de turismo do Brasil sofreram grande impacto com a queda de 97% nas viagens no mundo entre março e abril por conta da pandemia da Covid-19, conforme a Organização Mundial do Turismo.
Por aqui, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que mais de 700 mil empregos no setor de Viagens e Turismo serão perdidos até o fim da crise.
E isso não afeta só os grandões, como redes hoteleiras, agências e companhias aéreas, mas também os pequenos, e não menos importantes, agentes deste setor tão crucial para a economia e, por que não, a felicidade das pessoas.
Viram seu faturamento chegar a zero nos últimos meses pequenos empresários que vivem do turismo, como guias de viagem, blogueiros, jornalistas autônomos e sites responsáveis por lançar estilos de vida cobiçados, como o do “nômade digital”.
Blogs são pequenos negócios
Não há um registro atual de quantos blogs e sites de viagem são empresas de fato no Brasil, mas uma pesquisa de 2014, feita pela ABBV, Associação Brasileira de Blogs de Viagem, mostrou que 65% dos blogueiros brasileiros encaravam seus blogs como negócio e 67% monetizavam os sites por meio de programas de afiliados.
“Os blogueiros de viagem se financiam ganhando comissão sobre produtos indicados, como hotéis e passeios, mas, se ninguém viaja, o faturamento desaparece”, explica Natália Becattini, jornalista e sócia do 360meridianos.com.
360Meridianos cria Clube de Assinaturas
O site 360Meridianos, que nasceu em 2011 como passatempo entre colegas de faculdade, é hoje uma empresa, e envolve o trabalho de nove pessoas.
Na corrida para não demitir e manter o negócio de pé, Natália e os sócios precisaram buscar outras formas de monetização.
“As viagens de lazer nas proporções normais não devem voltar tão cedo e, quando voltarem, terão outro ritmo. Não vamos estimular o turismo nas nossas plataformas até que ele seja seguro e temos que sobreviver enquanto isso”, fala a empreendedora.
A aposta do blog foi um Clube de Assinaturas com financiamento coletivo recorrente via Catarse, modelo também adotado por veículos como The Intercept Brasil e Cinema em Cena.
Neste formato, o site passa a ser financiado diretamente pelos leitores que quiserem participar pagando por assinaturas, que partem de R$ 9 por mês. Em troca do apoio, os leitores recebem benefícios exclusivos e uma série de recompensas.
“Fizemos uma pesquisa com nossos usuários e descobrimos que a maioria é apaixonada por literatura”, explica Natália.
“Como não é o momento para que as recompensas envolvam viagem, resolvemos resgatar contos e crônicas raros do tema, fazer uma curadoria, traduzi-los, diagramá-los e enviá-los aos assinantes em formato digital.”
Textos de mulher pioneira
Para inaugurar o clube, os jornalistas escolheram contos de Júlia Lopes de Almeida, uma brasileira que no começo do século 20 escreveu mais de 15 livros e ajudou a fundar a Academia Brasileira de Letras, mas que hoje é desconhecida no país.
Quem se interessar pode receber, de graça, um conto da autora, aqui.
Outra vantagem é poder participar do processo produtivo do 360meridianos.com, sugerindo pautas, escolhendo os destinos que serão tema dos próximos guias de viagem e participando de oficinas de narrativas de viagem.
Natália acredita que a adequação exigida pela pandemia pode mudar a forma como sites e blogs de viagem se financiam, mesmo depois que o turismo for reaberto.
“Com novas formas de monetização, podemos melhorar a experiência dos leitores, removendo banners de publicidade do site, por exemplo, deixando-o mais rápido e limpo”, finaliza a jornalista.
Fotos: Nappy e Divulgação