Adriano Toloza fala de 30 Anos Blues, vida em Portugal e filme no Irã
Por Miguel Arcanjo Prado
Após destaque em novelas de sucesso no Brasil, como Verdades Secretas, o ator Adriano Toloza está vivendo e trabalhando em Portugal, de onde conversa com exclusividade com o Blog do Arcanjo sobre a pré-estreia de 30 Anos Blues, dos cineastas Andradina Azevedo e Dida Andrade. O longa está disponível para locação neste fim de semana no Belas Artes À La Carte a R$ 9,90, com renda revertida à manutenção do histórico Cine Bijou. O filme será exibido ainda no Drive-In Belas Artes do Memorial da América Latina, no dia 3/9, uma quinta, às 18h. Na conversa, o artista fala sobre como conciliou a agenda internacional para estar no filme, da emoção do Kikito Especial no Festival de Gramado, de como anda sua quarentena e adianta que fará um filme no Irã, país de cinema reconhecido mundialmente. Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado – Quem você interpreta em 30 Anos Blues?
Adriano Toloza – Minha personagem é o Américo. Acho uma personagem muito interessante pro enredo do filme. Diferente dos quatro protagonistas, o Américo vem de uma família de classe média baixa, o que torna um contraponto muito interessante com a personagem Júlia, interpretada pela Carol Melgaço. Ela enxerga nele quase que uma força antagônica do namorado, com quem está numa relação estagnada. O Américo é um cara simpático, boa onda, batalhador. Conquistou o que tem com muito esforço. Não tem um gosto intelectual como o André, ele gosta de sertanejo e frequenta baladas da Vila Olímpia. Mas trata a Júlia como uma rainha, a incentiva, levanta sua autoestima; nada do que recebe do namorado. Isso faz com que ela veja nele uma possibilidade de ‘salvação’, mas não é bem o que acontece. O que ela vê nele no dia a dia de trabalho do escritório é apenas uma persona, o buraco é mais embaixo.. mas não vou fazer spoilers… Compus junto com o Andradina e o Dida, fomos descobrindo juntos. Ativei muito minha observação e vivência. Todos temos um Américo no nosso ciclo social, seja no trabalho, na família, ou amigo de amigos…
Miguel Arcanjo Prado – Qual sua opinião sobre os diretores de 30 Anos Blues, Dida Andrade e Andradina Azevedo?
Adriano Toloza – Trabalhar com esses dois é incrível. Já fiz bastante Teatro, algumas novelas e alguns filmes. E realmente dá pra contar nos dedos os pouquíssimos diretores que realmente sabem dirigir atores. Esses dois sabem. E muito bem. Temos uma química muito boa, dentro e fora do set. Rola confiança e entrega total de todas as partes. Eles têm uma sensibilidade artística muito grande e sabem tirar o melhor dos atores. Além do que eles próprios são ótimos atores. E ótimos roteiristas, fotógrafos, câmeras… Os caras são uns monstros!
Miguel Arcanjo Prado – O que acha da pré-estreia de 30 Anos Blues em streaming e drive-in?
Adriano Toloza – Pra ser sincero, eu sou aquele tipo de pessoa que reluta até a ultima possibilidade contra plataformas digitais. Gosto de manter o “natural”, natural no sentido de não-artificial, não virtual. Fui um dos últimos a ter e-mail, a entrar no Facebook, no Instagram… Eu gosto do ritual. Ir ao cinema pra mim é ritualístico, como ao teatro. Mas dentro das circunstâncias em que estamos achei uma bela alternativa. Muito boa por sinal. E quanto ao drive-in gosto bastante. Uma ideia original.
Miguel Arcanjo Prado – Como foi estar em Gramado e ver 30 Anos Blues levar o Kikito Especial do Júri?
Adriano Toloza – Estar em Gramado foi demais! Nunca tinha ido à cidade nem ao festival. Participar daquilo com a galera toda do filme foi muito bom, muito prazeroso. E ganhar também, né? Claro que sim, quem não gosta? [risos]… Mas não é uma questão de ego, apenas, o fato de ganhar um prêmio tão importante como esse abre portas pro filme, atrai público e ganha-se um certo respeito como artista.
Miguel Arcanjo Prado – Há quanto tempo está vivendo em Portugal?
Adriano Toloza – Vivo em Portugal há 4 anos. Mas todos os anos vou ao Brasil. Inclusive nas filmagens de 30 Anos Blues foi um milagre eu ter conseguido participar. O Dida e o Andradina já haviam me convidado, mas por questões de pré-produção não se tinha uma data definida pra iniciar as filmagens, e eu recebi o convite pra minha primeira novela em Portugal, da emissora TVI. Foi quando me mudei. Queria muito, mas muito mesmo participar do filme; fiquei fascinado com A Bruta Flor do Querer. Quando assisti, pensei: “Quero trabalhar com esses caras. Eu preciso. Eles falam minha língua”. Mas, quando veio o convite da novela ainda não tinha previsão exata de filmagens, apesar de eu já ter sido convidado por eles pro filme. Eu não podia perder a oportunidade de iniciar uma carreira internacional. Fui pra Portugal. Por acaso, no meu núcleo da novela entraram umas cenas que se passavam no Rio de Janeiro e descobri que teria que ir ao Rio gravar por uma semana. Liguei pro Dida e contei. Ele disse: “Você consegue uns dias em Sampa antes de voltar pra Lisboa?”. Claro que eu arrumei um jeito. E as filmagens de 30 Anos Blues começaram pelas minhas cenas, filmamos todas minhas diárias seguidas e voltei pra Lisboa. Sou e serei eternamente grato a eles por isso. Tenho passado a quarentena estudando bastante.
Miguel Arcanjo Prado – O que tem feito na quarentena? Já tem novos projetos?
Adriano Toloza – Adoro ler, ver filmes e séries. Aproveitei bem o tempo. Gosto também bastante de esportes, yoga e meditação. Vou pro Irã filmar um longa-metragem em Setembro. Já fiz dois filmes lá e agora vou filmar o terceiro. Amo aquele país e amo trabalhar lá. As filmagens eram pra ter sido em julho, mas as foram adiadas por causa da Covid-19. Vou começar uma outra novela aqui em Portugal também.