Por Miguel Arcanjo Prado
Carla Virgínia Soares Fernandes, conhecida como Carla Visi, nasceu em Salvador da Bahia em 31 de agosto de 1970. Nesta segunda (31), portanto, chega a meio século de vida e com 33 anos de carreira. Carla Visi é uma das maiores e mais queridas cantoras da Bahia e da axé music. A artista ficou conhecida em todo Brasil ao ser vocalista da banda Cheiro de Amor, entre 1995 (entrou para substituir Márcia Freire) e 2000, quando saiu para fazer carreira solo. Antes, já havia substituído Daniela Mercury na banda Companhia Clic, em 1990.
Atualmente com carreira internacional vivendo em Lisboa, onde faz mestrado e seus shows são disputados na cena artística portuguesa, ela eternizou hits como “Vai sacudir, Vai Abalar”, “É Demais Meu Rei”, “Quixabeira”, “Simpatia”, “Abre Coração”, “Olha Eu Aí”, “Dança da Sensual” e “Aviãozinho”. Sua passagem pela banda rendeu mais de 3 milhões de discos vendidos.
Desde 2000, Carla investe na carreira solo. Entre o fim de 2016 e março de 2017 ela fez o Projeto Simpatia, uma série de shows com músicos da Cheiro de Amor de seu tempo, para celebrar os 20 anos do disco “Cheiro de Amor ao Vivo”, que vendeu 1,5 milhão de cópias, sendo a maior vendagem de sua carreira. Na época, fãs pediram a volta da banda.
A marca de Carla Visi sempre foi a alegria, a simpatia e claro, seus longos cabelos cacheados e a barriguinha em dia que levavam os fãs à loucura. No auge do sucesso, Carla Visi e a banda Cheiro de Amor eram figuras frequentes em programas de TV, como Faustão, Som Brasil, Domingo Legal de Gugu Liberato, Programa Raul Gil, H de Luciano Huck, Planeta Xuxa e Programa Ana Maria Braga.
Importante vitória
Carla ainda deu exemplo de superação ao lutar contra e vencer o câncer de mama em 2017. Na época, precisou raspar a cabeça. “Estava caindo muito. Então, achei mais sensato tirar. Acabou virando um símbolo da doença e terminou reverberando muito. Reverberou a queda, a questão da imagem é algo muito forte, dominante, ligada a questões profundas. A foto com o cabelo raspado reverberou mais que o primeiro vídeo no qual falei que estava com câncer. Achei importante alertar as pessoas, pois minha mãe faleceu vítima de um câncer no intestino”, falou à época ao jornalista Miguel Arcanjo Prado, deste Blog do Arcanjo.
Espiritualizada e adepta da yoga, a mãe de Sarah, atualmente com 14 anos, logo depois celebrou a cura: “Estou curada. Não precisei tirar a mama, porque o nódulo era muito pequenino, não tinha metástase nem tinha se espalhado. Sigo fazendo acompanhamento com mastologista e oncologista. Por isso digo, o importante é descobrir e se tratar o mais cedo possível. Quero ser um exemplo de força e fé”, pontuou à época.
Além da bem sucedida carreira de cantora, Carla Visi também é jornalista formada pela UFBA (Universidade Federal da Bahia). Ela entrou jovem, em 1989, mas trancou a matrícula com o sucesso no axé. E só retomou o curso depois que teve mais tempo livre, já na carreira solo, concluindo o curso em 2007. “Gostei de conviver com uma galerinha toda nova, e já cheguei mais madura, já tinha passado pelo Cheiro”, disse.
Cachos famosos
Carla também falou sobre sempre ter valorizado seu cabelo cacheado de herança negra em tempos que muitos insistiam que alisasse. “O cabelo sempre foi muito importante pra mim, sobretudo pra minha afirmação como negra mestiça. Estudei em colégio particular que meus pais se esforçaram para pagar, mas todos os meus colegas eram brancos. Eu era a pretinha da escola e isso me deixava me sentindo inferior, foi só lendo Jorge Amado, com suas personagens negras e mestiças, que passei a me valorizar e a respeitar minhas raízes negras. Isso me ajudou muito”, pontuou.
O cabelo de Carla sempre foi referência para outras meninas cacheadas. Ela sempre ouviu isso das fãs. “Enquanto artista do axé, eu queria ser essa referência. Então decidi: eu não vou alisar. Mas é claro, que tive essa pressão para alisar, mas tudo em mim é bem natural!!!”, fala. “A pressão para alisar é muito grande, para ter um estereótipo europeu, de branca de cabelo liso. Respeito quem gosta de alisar, se te faz feliz, faça, mas amo meu cabelo cacheado, amo ser neguinha”, concluiu.
Carla Visi – Linha do Tempo
1970
Carla Virgínia Soares Fernandes, que mais tarde seria conhecida como Carla Visi, nasceu em dia 31 de agosto de 1970, na Ladeira de São João, Cidade de Salvador, Bahia. E como sua mãe gostava de afirmar: “Carla começou a cantar desde que deu o primeiro choro” e assim marca a sua entrada na família de cantoras Visi, pois é bisneta, neta e filha de cantoras.
1980
Durante a infância e a adolescência a música sempre esteve presente na vida de Carla. A sua maior referência foi Elis Regina e D. Inaiá Visi, a sua mestra. A mãe sempre me dizia: “Minha filha, feche os olhos, sinta a música e solte a voz”.
1987
E foi soltando a voz que aos 17 anos, durante uma palhinha inocente em um bar perto de sua casa, que Carla Virgínia se tornou cantora profissional e ganhou seu primeiro cachê. Deste momento em diante, não parou mais. A cantoria não impediu que Carla passasse no vestibular de jornalismo da UFBA, onde teve o primeiro contato com a arte comunicação, estudando jornalismo.
1990
Passou a integrar a banda baiana Companhia Clic, substituindo a cantora Daniela Mercury, que resolveu partir para a bem sucedida carreira solo. Durante os cinco anos que permaneceu na Companhia Clic, Carla teve um grande aprendizado. Os integrantes da banda criavam e participavam de todas as decisões e juntos fizeram os dois últimos discos do grupo.
1995
Carla resistiu inicialmente ao convite da banda Cheiro de Amor, porque não queria que a Cia Clic acabasse, e por ter receios de como uma grande banda baiana trabalhava. O sucesso nos palcos e trios elétricos pelo Brasil acabou sendo alcançado através de muito trabalho e profissionalismo. Com a canção “Vai sacudir, vai abalar” (1996), veio o reconhecimento nacional. Gravou 4 CDs com a banda sendo que o segundo, “Cheiro ao Vivo”, vendeu mais de 1,5 milhão de cópias. A música da banda Cheiro de Amor na voz de Carla chegou à Europa, Estados Unidos e América do Sul. E ela ficou reconhecida internacionalmente.
2000
Carla aceitou o convite e o desafio de fazer carreira solo. Apesar do sucesso do grupo, ela estava ansiosa para trilhar novos caminhos e poder se livrar dos rótulos e limitações que envolviam sua carreira. O primeiro solo foi um projeto da Universal e MZA Music, dirigido e idealizado por Mazzola. No disco “Só chamei porque te amo – Carla Visita Gilberto Gil” (2001), “um compositor de linguagem universal e raízes tão fortes que sua grande árvore sempre nos dá sombra e bons frutos”, afirma a cantora. O repertório primoroso resultou de uma pesquisa da discografia de Gil da década de 60 até meados de 80 e contou com arranjos de César Camargo Mariano, Lincoln Olivetti, Zeca Baleiro, além do talento da nova geração de arranjadores da Bahia: Cesário Leone, Radamés, Gérson Silva, Luciano Calazans e a genialidade percussiva de Ramiro Mussoto.
2003
Depois de um longo processo de reintegração de curso, Carla retorna à sala de aula na Faculdade de Comunicação da UFBA (Universidade Federal da Bahia). “A música é minha comunicação maior e o jornalismo me faz pensar a palavra, a comunicação”, explica Carla Visi. No mesmo ano, Inaiá Visi, mãe e mestra de Carla, falece, vítima de um câncer no intestino.
2004
A convite da Latina e da RCA Victor japonesa, Carla Visi produz o disco Por Todo Canto e realiza uma turnê na Europa e Japão. Por Todo Canto foi o seu primeiro disco independente cuja musicalidade mais universal busca mostrar um Brasil de rítmica rica e “moderna”. André T faz a direção e talentosos músicos criam essa linguagem aplaudida por todo canto que passou.
2006
Nasce de parto normal em Salvador da Bahia, a filha de Carla, Sarah Fernandes Faria Lima. Palavras da Carla mãe: “Não há mulher no mundo que não se sinta poderosa depois de gestar, parir e alimentar um novo ser. Ser este que desde pequeno transforma completamente sua visão de mundo e nos faz perceber quais são as verdadeiras prioridades… prioridade 1, 2 e 3: ser feliz, ser feliz, ser feliz”.
2007
Carla Visi ou Carla Virginia Soares Fernandes se forma em jornalismo pela Universaidade Federal da Bahia. E começa a gravar o CD Carla Visi e Eu que não chegou às lojas por questões burocráticas, mas os internautas podem conferir algumas canções desse trabalho que pretende unir uma das melhores cantoras da Bahia ao estilo que a consagrou. Axé!!
2009
Viagens pelo mundo. Depois de uma certa ausência dos vôos internacionais para cuidar da filha, Carla retoma com chave de ouro os shows no exterior. Representa a alegria, a festa e a música da Bahia no primeiro Brazilian Day London. Neste mesmo ano também participou da Lavage de la Madeleine em Paris e cantou com J Veloso e Clifton Davis na 24th ART EXPO em Filadélfia. Isso depois de participar por um ano do projeto EME XXI com suas amigas Catia Guimma e Marcia Short.
2011
Mais uma vez Carla representa a musicalidade e a alegria baianas na primeira edição do Brazilian Day Portugal. Toda uma atmosfera de retorno do samba, chorinho, chula para as noites brasileiras, principalmente na Bahia e o reconhecimento da Orkestra Rumpilezz do seu amigo Letieres Leite inspiram Carla a pensar um novo conceito de MMB (música mestiça brasileira).
2013
Carla Visi canta Clara Nunes em Pura Claridade, projeto que começou a partir do convite do pesquisador musical e amigo Ricardo Pinheiro. “Em 2012, ele esteve em Salvador na véspera do meu aniversário, me deu um livro, a biografia de Clara Nunes, e então me convidou para gravar este disco. Eu me assustei porque achei que ele chamaria uma cantora de samba. Clara fez 30 anos de morte dia 3 de abril e minha mãe 4 de abril. Esse trabalho, para mim, acaba sendo também uma homenagem a minha mãe”. Ainda este ano Carla é convidada a cantar o Hino Nacional na Abertura do Brazilian Day New York e a participar da já famosa Lavagem da Rua 46, também em NYC.
2016
A pedido dos fãs Carla participa do projeto Simpatia, uma série de shows com os antigos músicos de sua época na banda Cheiro de Amor, relembrando os sucessos de 20 anos do disco Cheiro de Amor ao Vivo.
2017
Após o Carnaval, Carla Visi faz uma bateria de exames anuais e descobre um pequeno câncer de mama. Faz a cirurgia para retirá-lo, quimioterapia e radioterapia. Sua forma corajosa de enfrentar a doença vira exemplo. Ela obtém a cura.
2018
Carla Visi resolve ir viver em Portugal, onde foi aprovada no mestrado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa. Antes de deixar Salvador, faz show de despedida no Espaço Lumiar, em Salvador, com participação de ícones baianos como Gerônimo, Gilmelândia, Márcia Freire, Rafa Chaves, Tatau, Carlos Barros e Laurinha Arantes.
2020
Carla Visi celebra os 50 anos com uma live especial direto de Lisboa e alegra seus fãs em quarentena por todo o mundo.