Satyros faz história com peça digital em 3 continentes no mesmo dia
Por Miguel Arcanjo Prado
Desde o começo da pandemia, a Cia. de Teatro Os Satyros foi pioneira ao assumir o teatro digital como linguagem, sem qualquer tipo de preconceito. E tal feito teve reconhecimento munidal.
Foi o primeiro grupo teatral no Brasil e no mundo a partir do palco real para as redes com o solo de Ivam Cabral Todos os Sonhos do Mundo, dirigido por Rodolfo García Vázquez, e encenado em formato live já ao fim da primeira semana da quarentena, em 20 de março de 2020 e ainda em cartaz em seu Espaço Digital dos Satyros.
Seis meses depois, neste sábado (26), o grupo liderado por Cabral e Vázquez fez outro feito histórico: encenou sua peça criada exclusivamente para o digital, A Arte de Encarar o Medo, em três diferentes continentes: África, América e Europa.
O fato é inédito na história do teatro brasileiro, sendo que as montagens já foram vistas por mais de 25 mil pessoas em todo o Planeta. No mesmo dia, o grupo ainda encenou sua montagem mais recente brasileira, Novos Normais.
Além da versão nacional, a primeira a estrear com o elenco brasileiro em 13 de junho de 2020, foram encenadas no mesmo dia a encenação africano-europeia e a montagem estadunidense de The Art of Facing Fear, versão internacional da obra, sempre dirigidas por Vázquez.
Se paira inexplicável silêncio em parte da imprensa e intelectualidade teatral paulistana sobre o assunto, o mesmo não acontece lá fora.
E, aqui o Blog do Arcanjo faz uma ressalva: desde os primeiros dias da pandemia, foi o primeiro veículo do jornalismo cultural brasileiro a cobrir e a legitimar o teatro digital feito não só pelo Satyros como por outros artistas de nossas artes cênicas, caso de Ricardo Cabral e Natasha Corbelino, com O Filho do Presidente, do Teatro Caminho, no Rio, e Cléo De Páris e Fábio Penna, com a live Desamparos, no Rio Grande do Sul.
Estes foram os primeiros nomes deste novo espaço cênico chamado teatro digital que ganha novos adeptos a cada dia. E que, ao lado do Satyros, transformaram o medo em linguagem artística.
Se a crítica paulistana, com exceção deste crítico e de outros poucos nomes, fez silêncio para o feito do Satyros (inclusive a imprensa carioca cobriu bem mais este momento que a de São Paulo, onde o grupo tem sua sede na praça Roosevelt), as diferentes montagens de A Arte de Encarar o Medo ganharam críticas positivas em veículos respeitados de lugares como Nigéria, África do Sul, Cabo Verde, Inglaterra, Alemanha, Finlândia, Suécia e Estados Unidos, onde a peça foi elogiada pela Time Out, espécie de bíblia da cena cultural de Nova York, e ainda foi repercutida por veículos da caliente Califórnia e até do nevado Alasca.
“Foi um dia bem importante para Os Satyros”, afirmou Rodolfo García Vázquez sobre este sábado, 26 de setembro. Vázquez anda trabalhando feito louco nesta quarentena, já que além de dirigir as peças nos três continentes coordena o curso de Direção da SP Escola de Teatro, que funcionou online durante toda a quarentena, sob direção de Ivam Cabral.
Vázquez parece ciente do momento histórico que traça com a Cia. de Teatro Os Satyros, grupo fundado por ele ao lado de Ivam Cabral em 1989, resistindo e apontando novos caminhos estéticos não só ao teatro brasileiro como o mundial nestes tempos impossibilidades impostas.
Aliás, novas tecnologias não assunto novo para o grupo e, certamente por ter abraçado o avanço tecnológico do homem como linguagem há mais de uma década, é que o Satyros tenha lidado de forma tão criativa com os cenários digitais que se impuseram nesta pandemia.
O Satyros foi, por exemplo, a primeira companhia brasileira a ter site. Depois, foi a primeira a ter blogs para seus integrantes. Mais uma vez, quando as redes sociais chegaram, foi pioneira. E, enquanto o teatro vociferava contra os aparelhos celulares, Cabral e Vázquez trouxeram os telefones para a cena.
Não custa lembrar que no já longínquo 2014, Vázquez estreou a impressionante série de sete peças E Se Fez a Humanidade Ciborgue em 7 Dias, na qual antecipava que o homem-ciborgue com próteses tecnológicas criaria um teatro-ciborgue, ou o teatro digital agora tornado realidade.
Elenco internacional
O Blog do Arcanjo registra para a posteridade os nomes dos atores que integram o projeto de teatro digital de Os Satyros. As peças são escritas por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez e dirigidas pelo último (apenas Todos os Sonhos do Mundo possui texto apenas de Ivam Cabral). O projeto A Arte de Encarar o Medo conta com orientação visual de Adriana Vaz e Rogério Romualdo. Todas as imagens de divulgação do Satyros são do fotógrafo Andre Stefano.
Elenco “Todos os Sonhos do Mundo” [BRASIL]
Ivam Cabral
Elenco “A Arte de Encarar o Medo” [BRASIL]
Ivam Cabral, Eduardo Chagas, Nicole Puzzi, Diego Ribeiro, Dominique Brand, Fabio Penna, Gustavo Ferreira, Henrique Mello, Julia Bobrow, Ju Alonso, Marcelo Thomaz, Marcia Dailyn, Mariana França, Sabrina Denobile e Silvio Eduardo
Atores convidados: Ana Jorge e César Siqueira. Atores mirins convidados: Nina Denobile Rodrigues e Pedro Lucas Alonso.
Elenco “Novos Normais” [BRASIL]
Alessandra Nassi, Alex de Felix, Alex de Jesus, Anna Kuller, André Lu, Beatriz Medina, Bruno de Paula, Dominique Brand, Elisa Barboza, Felipe Estevão, Guilherme Andrade, Heyde Sayama, Ícaro Gimenes, Ingrid Soares, Júlia Francez, Karina Bastos, Luís Holiver, Marcelo Vinci, Roberto Francisco e Vitor Lins.
Elenco The Art of Facing Fear [ÁFRICA-EUROPA]
Abdoulaye Diallo (Senegal), Bola Stephen-Atitebi (Nigeria), Christina Berriman Dawson (England), Dintshitile Mashile (South Africa), Elijah Young (England), Frank Malaba (Zimbabwe), Isabel Alves Branco (Cape Verde), Janaina Alves (Brazil), João Branco (Cape Verde), Joël Leonard (South Africa), Katta Pålsson (Sweden), Lebohang Mpho Toko (South Africa), Mosie Mamaregane (South Africa), Napo Masheane (South Africa), Nina Ernst (Germany), Philisiwe Twijnstra (South Africa), Sboniso Thombeni (South Africa), Segun Adefila (Nigeria), Upile uThixo Bongco (South Africa), Ulrika Malmgren (Sweden) and Wonder Ndlovu (South Africa).
Elenco The Art of Facing Fear [EUA-USA]
Jessica Berón, Rogelio Douglas III, Bryan Ha, Megan Skye Hale, Mia Hjelte, Jessenia Ingram, Zed E. Jones, Rob Lecrone, Andre Engracia Mello, Mia Mountain, Nakasha Norwood, Michael James Nuells, Therese Olson, Danielle Rabinovitch, Amable Junior Rosa, Terrence Robinson.
O mundo fala do Satyros
O Blog do Arcanjo apresenta, a seguir, algumas das palavras em todo o mundo sobre A Arte de Encarar o Medo (ou The Art of Facing Fear), peça que coloca o teatro brasileiro na vanguarda as artes cênicas no mundo neste século 21. Veja o que já disseram:
“Experiência teatral verdadeiramente única!” – City Life Arts, África do Sul
“Todos temos muito a aprender com essa nova forma de fazer teatro.” – Diary of a Lagos, Nigéria
“De outras maneiras. A arte de enfrentar o medo confirma vários dos pontos de vista no debate em curso sobre as artes cênicas digitais na época da pandemia, tanto os pessimistas quanto os otimistas (aproximadamente” é mesmo teatro “ou” deixe o teatro se desenvolvem “). Em um nível específico, pode-se perguntar se o medo de nunca mais ser permitido sentar em um teatro novamente pode realmente ser mencionado ao lado do medo de morrer. Mas eu acho que esta peça quer apontar exatamente isso: que sem cultura e suas discussões democráticas, a sociedade entra em colapso, e o teatro é um ótimo lugar, físico ou digital, para enfrentar a morte e outros medos humanos. ” – Dagens Nyheter, Suécia
“Um poema digital fragmentado.” – Dagens Nyheter, Suécia
“Este é realmente um tipo diferente de teatro, em vez de uma experiência sublime e edificante da vida cotidiana, uma experiência artística que é edificante e que nos transporta para outro lugar.” – Info, Finlândia
“O grupo de teatro experimental brasileiro Os Satyros, com sede em São Paulo, se une à Company of Angels de Los Angeles para uma produção com elenco americano de sua surreal peça virtual distópica, ambientada em um futuro em que a população em geral está ligada a Corona quarentena há mais de 15 anos.” – Time Out, EUA
“Brilhante produção teatral que fala a verdade sobre o que realmente está acontecendo em nosso mundo agora (…) Espero que você se permita abrir sua mente e ouvir a verdade sendo falada de forma brilhantemente criativa pelo teatro virtual apresentado por artistas talentosos no auge de suas grandezas artísticas.” – Broadway World, EUA
“A Arte de Enfrentar o Medo, uma peça virtual de uma hora, é uma experiência totalmente surreal e catártica inspirada em nossa situação mundial atual. É diferente de tudo que você pode ter visto no teatro digital, um encontro verdadeiramente selvagem e envolvente.” – Times Square Chronicles, EUA
“Poética nova, cheia de invenção e emoção. Deu um alento e uma boa perspectiva.” – Aderbal Freire Filho, diretor de teatro
“[…]Tem o mérito de encarar o medo de fazer esse teatro apostando em um dispositivo com 17 atuantes, em diversas cidades do Brasil e do mundo. Os Satyros transformaram a Covid em uma chance de escapar ao formato de produções cada vez mais obrigadas a limitar suas pretensões estéticas por razões econômicas, como atesta a proliferação de monólogos. Além da “suntuosidade” no número de atuantes, também é bastante rico o uso das possibilidades do Zoom, no que respeita a enquadramentos e justaposição de telas, e mesmo a travellings feitos pelos próprios atuantes valendo-se de singelos telefones celulares.” – Patrick Pessoa, O Globo
“Satyros abraça o novo, prova que entende de vanguarda e nos mostra que teatro online é teatro, sim. A Arte de Encarar o Medo é espetáculo que já nasce histórico.” – Miguel Arcanjo Prado, Blog do Arcanjo, Prêmio Arcanjo e crítico APCA
“Incrível! Vi algo que nunca tinha visto antes e isso é uma sensação deliciosa. Parece mágica. Inventar é o máximo!” – Patricia Pillar, atriz
“Fiquei impressionada com a competência técnica, a facilidade com que Os Satyros lidam com essa mídia e a plataforma.” – Silvana Garcia, professora da USP
“Em “A arte de encarar o medo”, Os Satyros inauguram o Teatro Digital no Brasil.(…) Experiência inesquecível. (…) Um poema do Apocalipse.” – Dionisio Neto, ator
“Espetáculo inovador (não pela plataforma, em si, mas pelo conteúdo elaborado). Desta vez Os Satyros não apontaram caminhos, pavimentaram a estrada toda.” – Marcio Aquiles, crítico da APCA
“Experiência fantástica. Afeto e nova linguagem. Visceral.” – Emílio Fontana, ator
“A reinvenção do teatro.” – Diana Helene Ramos, arquiteta e professora da UFAL
“Veja que coisa estranha é o teatro: uma linguagem capaz de dar a volta por cima de todas as técnicas e ainda assim continua sendo épico.” – Lucrecia D’Alessio Ferrara, professora da PUC-SP
“Impressionante!” – Zeca Baleiro, cantor
“Heterotopias em junção [des] aqui, [des] agoras, próximos em revista aos tempos de total alteridade: o outro precisa dar lugar ao semelhante. E deu.” – Alexandre Mate, professor aposentado da Unesp
“Tem que ver! Tecnologia não precisa ser apenas uma tela. Pode ser presença, linguagem e reflexão.” – Marina Wajnsztejn, publicitária e professora da ESPM
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